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O ministro Luís Roberto Barroso seria um bom presidente para o Brasil?

Luís Roberto Barroso - Imagem: Reprodução | TV Cultura
Luís Roberto Barroso - Imagem: Reprodução | TV Cultura
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 15/10/2023, às 07h55


Para se candidatar ao cargo de presidente do país, o pretendente precisa possuir algumas qualificações essenciais. Se não tiver boa formação intelectual como a de Fernando Henrique Cardoso, deve ser perspicaz, como o caso de Lula e Bolsonaro. São inúmeras questões relacionadas a praticamente todas as áreas que exigem sua avaliação e capacidade de decisão.

Nem sempre o caminho mais lógico a ser seguido é o que efetivamente será tomado pelo chefe do Executivo. O ex-ministro Paulo Guedes fazia esse comentário com frequência. Ele sabia exatamente como resolver as questões econômicas. Era pura ciência, com exemplos não só vivenciados no Brasil, como também no exterior.

Descaminhos da política

Na hora de bater o martelo, entretanto, ouvia o que Bolsonaro teria a dizer. Primeiro, por obediência hierárquica. Depois, porque o presidente possuía uma sensibilidade política que escapava ao conhecimento técnico. Eram ações que, mesmo não atendendo às leis econômicas, visavam muito mais ao bem-estar da população.

Quem aspira ocupar a cadeira presidencial deve ter essa sensibilidade pública. Eu me lembro de um comentário do saudoso deputado Sólon Borges dos Reis: “Para atuar na iniciativa privada basta ter competência. Como representante do povo, todavia, além dessa competência é preciso ter sensibilidade pública. Não pode, por exemplo, passar na frente de uma fila de ônibus em dia de chuva e ficar indiferente diante do sofrimento daqueles trabalhadores”.

Não basta querer

Por essa razão, pessoas bem-preparadas para comandar importantes organizações, ou atuar em cargos que exigem formação educacional abrangente, nem sempre se dão bem nos cargos eletivos. Um ministro do Supremo, por exemplo, eventualmente, poderia possuir esses requisitos para aspirar ao cargo de presidente, mas não necessariamente. Dependendo da forma como se comportasse à frente do país, talvez não lograsse êxito.

Na sexta-feira, 13, ao participar do Fórum Esfera Internacional, em Paris, o ministro Luís Roberto Barroso discorreu sobre a necessidade de uma agenda para o Brasil. Embora tenha defendido que “O Brasil tem uma Constituição abrangente, que não só organiza o Estado, os Poderes e os direitos fundamentais”, embrenhou-se em temas que, aparentemente, ficam à margem da atuação do STF (Supremo Tribunal Federal).

Barroso fala como candidato

Sem meias palavras afirmou que “Nós precisamos superar o preconceito que ainda existe no Brasil contra a livre iniciativa e contra o empreendedorismo. Nós temos uma imensa litigiosidade trabalhista que precisamos equacionar. Às vezes porque empresários se comportam mal; às vezes porque existe uma indústria de reclamações trabalhistas”. 

Esse tipo de discurso ficaria bem na boca de um candidato ao Palácio do Planalto. Parecia mesmo parte de um comício político. Tanto assim que o ex-presidente francês, Nicolas Sarkozy, disse que o discurso do presidente do STF foi mais político que jurídico.

Sarkozy dá conselho

E em tom jocoso complementou que Barroso poderia estar pronto para uma presidência diferente da que ocupa no momento: “Senhor presidente, o senhor está pronto para uma nova presidência, uma outra presidência. Tenha cuidado, senhor presidente, foi um discurso excelente”. Deixando claro que se referia à presidência da República.

Como resposta à essa sugestão de Sarkozy, Barroso afirmou: “Não passa pela minha cabeça” entrar em uma disputa para o cargo de Lula. Bem, alguém dizer que essa ideia não passa pela cabeça, não quer dizer nada. Quantos juraram de pés juntos que jamais concorreriam a esse cargo e, pouco depois, já estavam em cima dos palanques com seus discursos de candidatos.

Não parece ser do ramo

Imaginando que Barroso tenha sido picado pelo mosquitinho da vaidade e resolva a qualquer momento entrar em uma campanha para se eleger presidente, será que preencheria as condições necessárias para chegar lá? Boa formação e experiência ele tem. Se resolvesse enfrentar esse desafio, é porque teria vontade também. A única dúvida é se possui apelo popular para se sair vitorioso.

Não vejo o ministro correndo esse país de ponta a ponta, levando atrás de si uma legião de eleitores. Não passa pela minha cabeça, vislumbrar Barroso chegando nos aeroportos dos mais diferentes estados brasileiros e sendo recebido aos gritos e carregado nos ombros.

Tendo em vista suas características, independentemente do conselho do presidente francês, talvez seja mais indicado que siga exercendo suas funções de ministro para as quais se preparou a vida toda e já acumulou vastíssima experiência. Será mais útil para o país se continuar onde está.

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