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O Corinthians contrata Mano Menezes, um craque no uso das palavras

Mano Menezes - Imagem: Reprodução | Twitter
Mano Menezes - Imagem: Reprodução | Twitter
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 01/10/2023, às 05h20 - Atualizado às 15h20


Luxemburgo não conseguiu bons resultados durante esta última passagem pelo Corinthians. Por outro lado, mais recentemente, ainda que o time não jogasse muito bem, estava se superando. A vitória sobre o Botafogo, líder do campeonato, foi surpreendente e até empolgante. Chegou também à semifinal da Copa Sul-Americana. Um grande feito diante da instabilidade que o escrete teve de enfrentar após a sua chegada.

O técnico não teve muita paciência com a imprensa. Em certas ocasiões respondia às perguntas com ironia e irritabilidade. Foi infeliz ao dizer, por exemplo, que não estava preocupado com o risco de rebaixamento. Talvez a intenção tenha sido a de tranquilizar a torcida, mas soou como indiferença.

Havia esperança

Os torcedores estavam esperançosos, e acreditando que o trabalho do técnico continuasse evoluindo. Para surpresa da maioria, entretanto, ele foi demitido. Independentemente de as explicações terem sido ou não convincentes, o certo é que o “Profexô” recebeu o bilhete azul.

Depois da decepção com o técnico português Victor Pereira, que deixou o clube por causa daquela estranha história da sogra, nesta temporada mais quatro treinadores dirigiram o Timão: Fernando Lázaro, Cuca, Danilo e Luxemburgo. Alguns por poucos dias.

Mano Menezes retorna

Agora chega Mano Menezes. Técnico experiente e com boa história de conquistas na carreira. Pelo Corinthians, por exemplo, ganhou a Copa do Brasil em 2008, a Série B também em 2008 e o Paulista em 2009. Poucos se dão conta de que ele já dirigiu o clube por 248 jogos. Só fica atrás de Oswaldo Brandão, com 435, e Tite, com 378. Ou seja, não é um estranho no ninho.

Uma das passagens mais marcantes do recém-contratado técnico foi em 2014. O Corinthians vivia naquela época uma das suas maiores crises. Devido aos maus resultados, teve seu centro de treinamento invadido por um grupo de torcedores. A situação foi tão grave que alguns jogadores chegaram a ser agredidos.

Clima tóxico

Dá para imaginar o clima. Quem teria vontade de continuar num ambiente tóxico como aquele?! Os resultados dos jogos só pioraram. Paulo André, jogador que mostrava ter forte liderança entre os colegas, deixou o time.

O então presidente Mário Gobb, comandante da agremiação nas mais extraordinárias conquistas, tentou contemporizar, mas foi levado pela emoção de torcedor e chegou a abandonar uma entrevista sem dar respostas aos jornalistas.

Mano diplomata

 Foi nesse momento de verdadeiro caos que apareceu a palavra de equilíbrio e ponderação de um craque na arte de se comunicar, Mano Menezes. Sua história de diplomata no clube ganhou destaque. No período em que Ronaldo estava sob o seu comando, se o atacante era criticado por um jornalista por estar fora de forma, sua resposta era pronta: “O jogador é tão excepcional que bastam apenas três ou quatro bolas para resolver a partida e dar a vitória ao time”. O Fenômeno não decepcionava. Mesmo acima do peso e só andando em campo, encontrava um jeito de marcar seus golaços.

Sem reagir aos ataques que recebia, por mais agressivos que fossem, tinha as respostas de que precisava na ponta da língua.

Mano pegou a crise com as mãos e de maneira hábil e corajosa se transformou em espécie de porta-voz do time. Além de não fugir das perguntas, dificilmente se alterava diante das questões mais agressivas. Agia como um líder deveria agir. Defendia os atletas, explicava as táticas, justificava os resultados, dava razão à torcida, criticava os torcedores que agrediram os jogadores.

Bom de conversa

Sua voz não se alterava, era sempre pausada. Com gestos moderados e pronunciando palavras bem escolhidas, conseguiu amenizar a crise. Quando foi contratado naquela oportunidade, o clube, provavelmente, não teve a intenção de transformá-lo num para-raios, mas em meio àquela pressão emocional que é a paixão no futebol, usando uma linguagem da própria atividade, ele tirou de letra.

Hoje a situação é diferente. Não há nenhuma revolta de torcedores para ser aplacada. O técnico vai precisar vencer algumas partidas para se classificar bem no Brasileirão e, se der tudo certo, faturar a Sul-Americana. Vencendo ou não, com certeza, seu discurso será adequado à circunstância. Ele já provou que é muito bom de conversa. E bom treinador. Vamos aguardar.

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