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Lula se transformou no maior cabo eleitoral de Bolsonaro

Jair Bolsonaro e Lula. - Imagem: Reprodução | InfoMoney
Jair Bolsonaro e Lula. - Imagem: Reprodução | InfoMoney
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 25/09/2022, às 10h39


Como quase tudo na vida, a comunicação também comanda os destinos da política. O que estamos presenciando nessa campanha eleitoral nada mais é que o fruto dos discursos proferidos pelos candidatos. Nessa reta de chegada, quem erra menos na oratória tem mais chances de pavimentar o caminho para chegar ao Palácio do Planalto.

Se Lula cometesse um desatino, vá lá. Escapou, é humano, passa a régua, fecha a conta e vida que segue. Se pisa na bola pela segunda vez, também não vamos crucificar o homem. Afinal, em época de campanha eleitoral a pressão é grande, a cabeça fica a mil e a boca funciona mais rápido que o pensamento. Que atire a primeira pedra quem não errou na vida.

Aí vem uma terceira, uma quarta e tantas outras escorregadelas. Opa, luz amarela piscando. Os próprios petistas, que veneram seu ídolo, começam a não entender bem as atitudes do grande chefe. Está na cara que, se continuar dando bola fora, vai prejudicar uma campanha que, segundo as pesquisas, já estava no papo, talvez até no primeiro turno. Que deslizes verbais são esses?

Nem vamos falar dos antigos casos. Não, aquela história de Pelotas ser uma cidade exportadora de “veados” já é coisa do passado. Assim como pedir ajuda às mulheres de “grelo duro” também acabou caindo no esquecimento. Portanto, atenhamo-nos aos fatos mais ou menos recentes.

Como a guerra da Rússia com a Ucrânia voltou às primeiras páginas, seria interessante começar por aí. Todos nos lembramos do que Lula disse na entrevista para a revista americana Time: “Fico vendo o presidente da Ucrânia na televisão como se estivesse festejando, sendo aplaudido em pé por todos os parlamentos, sabe? Esse cara é tão responsável quanto o Putin”.

Humm, essa doeu. Arrumou encrenca onde não precisava. Não poderia dar outra. Mykhailo Podolyak, conselheiro do presidente ucraniano, reagiu: “O ex-presidente Lula da Silva fala sobre a culpa da Ucrânia ou do Ocidente na guerra. Essas são tentativas russas de distorcer a verdade. É simples: a Rússia atacou traiçoeiramente a Ucrânia”. Ponto negativo para o candidato.

Os equívocos verbais, entretanto, não param por aí. Disse, por exemplo, que Bolsonaro não gosta de gente, gosta de policial. Uau, quer dizer que policial não é gente?! Também chamou o pessoal do agronegócio de fascista. Elogiou o MST. Criticou as reformas, o teto de gastos, o programa da “Casa Verde e Amarela”. A lista é enorme. Vamos deixar barato. Só mais três pontos negativos para o candidato.

Na última semana, disse que não sabe como criar novos empregos diante do aumento da automação da mão de obra. Isso sim é que é um bom programa de governo, que, por sinal, não foi apresentado. Inovou com a campanha do cheque em branco – assine aí que, quando eu chegar lá, preencho. Ele se recusou a participar do debate deste sábado. E há poucos dias, no programa do Ratinho, cultivou mais uma de suas pérolas:

“O Bolsonaroé um pouco ignorante, aquele jeitão bruto dele, jeitão de capiau, do interior de São Paulo, bem ignorante mesmo. Tem gente que acha que é bonito ser ignorante, mas não é. O bonito é ser educado, um cara refinado, como eu”.

O prof. Luiz Marins, sempre comedido, cuidando de suas palestras e da sua bela fazenda, sem mencionar o nome do ex-presidente, deu um tapa com luva de pelica:

“Orgulho de ser caipira! O interior de São Paulo tem a metade da produção nacional de automóveis no seu território. A economia da região supera diversos países, como Nova Zelândia, Peru e equivale ao Chile. O interior paulista responde por 44% da riqueza de São Paulo. Em 2008, entre os 30 maiores municípios do Brasil, 11 pertenciam a São Paulo. O interior paulista representa 15% do PIB nacional.” Para não ser muito rigoroso, vamos rebaixar a nota em mais dois pontos.

Bem, se continuar assim, não há pesquisa que segure a sua eleição. Com essas atitudes e pronunciamentos infelizes, Lula acaba por se transformar no maior cabo eleitoral que Bolsonaro poderia sonhar. A cada deslize, o petista afasta até eleitores que desejavam votar nele. O presidente está deitando e rolando em cima dessas frases do adversário. Em todas as oportunidades ele relembra cada uma delas, ora com ironia, ora com indignação.

Só temos mais uma semana de campanha. Se o petista acredita mesmo que as pesquisas estão certas e que a vitória está garantida, se fosse possível, a melhor estratégia seria ficar quieto, sem dar entrevistas, sem fazer comícios, sem participar de debates. Como, todavia, esses poucos dias que antecedem as eleições podem ser cruciais para quem deseja se eleger, essa política de hibernação está descartada. Só resta a ele pensar bem antes de falar, já que se atravessar o samba de novo, a próxima chance só no carnaval de 2026. Siga pelo Instagram: @polito

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