Diário de São Paulo
Siga-nos
COLUNA

Lula e seus aliados devem mesmo comemorar a inelegibilidade de Bolsonaro?

Luiz Inácio Lula da Silva. - Imagem: Reprodução
Luiz Inácio Lula da Silva. - Imagem: Reprodução
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 02/07/2023, às 06h08


Para surpresa de ninguém o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) tornou Bolsonaro inelegível por oito anos. O motivo do seu afastamento foi o abuso de poder político quando estava no cargo de presidente do país. Os ministros decidiram que o ex-presidente agiu mal ao realizar reunião com os embaixadores para questionar o sistema eleitoral. Segundo eles, algumas das críticas feitas pelo então chefe do Executivo não estavam amparadas na realidade. Bolsonaro não concorda. Afirma que todos os fatos que narrou naquele episódio se encontravam devidamente documentados.

Os políticos e personalidades que torciam para que ele fosse impedido de participar dos próximos pleitos eleitorais comemoraram o resultado do julgamento. É possível que tenham ficado aliviados mais por medo que por justiça. Sabem que Bolsonaro seria uma força política considerável nas próximas eleições. Afinal, a diferença dele para Lula foi quase no fotochart.

Com o desgaste natural do governo em vista das dificuldades impostas pela economia interna e externa nos tempos atuais e o crescente descontentamento daqueles que acreditaram em sua capacidade para dar um norte ao Brasil, as chances de o ferrenho adversário dos governistas voltar ao Palácio do Planalto seriam expressivas.

Não são poucos, entretanto, os que continuam com a pulga atrás da orelha. Como boa parte da população entende que Bolsonaro foi injustiçado e sofreu perseguição política, seria natural que essas pessoas seguissem suas recomendações e votassem no candidato que ele indicar.

Nas últimas eleições o ex-presidente demonstrou força impressionante ao ajudar a eleger deputados, senadores e governadores em grande quantidade. Foi uma prova de que o seu apoio é fundamental para que os eleitores votem em quem ele sugerir. Tarcísio, por exemplo, reconhece que não seria ninguém sem a ajuda de seu padrinho político. Afirmou que só venceu as eleições ao governo de São Paulo graças à sua ajuda.

Essa é uma das características mais elogiadas em Bolsonaro. Segundo o próprio governador paulista, o ex-presidente jamais assumiu para si a paternidade das boas realizações. Em todas as circunstâncias fazia questão de dividir os louros e mencionar o nome do responsável por esta ou aquela façanha. Criou assim inúmeras lideranças por todo o país.

Hoje suas ideias conservadoras estão disseminadas por todos os cantos do território brasileiro. Com certeza, será seguido por multidões em suas andanças. O povo continuará esperando nos aeroportos e nas praças públicas. Ninguém pode duvidar de que, ao subir no palanque com o candidato que resolver apoiar, proporcionará a ele também a adesão do eleitorado.

Dizem alguns analistas que Lula e os partidos de esquerda, que dão a ele base para sustentação política, deveriam botar a barba de molho e não soltar rojões antecipadamente. Até 2026 muitas pedras vão rolar por essa estrada. Já no ano que vem, será possível observar os limites da influência de Bolsonaro. Se ele conseguir eleger entre 500 a 1.000 prefeitos, um objetivo quase utópico diante do contexto vivenciado hoje, fará com que os governistas fiquem preocupados com o que deverão enfrentar na corrida presidencial.

Bolsonaro disse que nada garante que Tarcísio seja o candidato. Ele está muito bem em São Paulo e, se continuar administrando o estado como até aqui, poderá garantir com facilidade sua reeleição. Como o ex-presidente é político traquejado, é de se supor que essas informações, quase perdidas no meio de seus pronunciamentos, talvez sejam apenas para despistar os concorrentes e blindar o governador de ataques antecipados.

Outra hipótese também considerada neste jogo político é a candidatura da sua esposa, Michele Bolsonaro. Por onde ela passa encanta as plateias com seus discursos. Terá condições de conquistar principalmente as eleitoras que viam no marido dela alguém agressivo, vulgar e distante das causas femininas. Mesmo com os diversos projetos encaminhados pelo ex-presidente para beneficiar as mulheres, suas ações não foram suficientes para que mudassem de opinião. Michele é carismática, não possui passado que possa servir como telhado de vidro e, embora seja vista por muitos como inexperiente, tem se mostrado bastante competente diante do microfone.

O futuro está logo aí. Em pouco tempo saberemos se o governo conseguiu eliminar de vez seu antagonista mais poderoso, ou, sem que se desse conta, cutucou a fera com vara curta.

Compartilhe  

últimas notícias