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Bolsonaro foi censurado por ter se ausentado e é criticado por ter voltado

Jair Bolsonaro. - Imagem: Reprodução | Breno Esaki / Metrópoles
Jair Bolsonaro. - Imagem: Reprodução | Breno Esaki / Metrópoles
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 02/04/2023, às 10h44


Acusar ou defender alguém depende quase sempre de vontade política. Bolsonaro nem acabou de chegar e seus adversários colocaram a faca nos dentes para atacá-lo. Apareceu de tudo. Desde o caso das joias até o inquérito que abriram contra ele por causa da leitura que fez de uma matéria publicada na revista Exame.

Ele dá a sua versão. Alega que tentou registrar as joiaspelos meios legais e que apenas leu a publicação de uma das revistas mais conceituadas do país. Os críticos, entretanto, se recusam a ouvir a sua versão.

Não são poucos aqueles que vociferam exigindo a prisão do ex-presidente, ou, em último caso, a sua inelegibilidade. Enfim, qualquer punição que o retire da corrida presidencial em 2026.

Desde que ouvi falar a primeira vez no nome de Bolsonaro tem sido assim. Os seus opositores cerram fileira em todas as frentes para desqualificá-lo. Transcorrido certo tempo, como os fatos (leite condensado, Marielle, Queiroz, compra ilegal de vacinas) não são provados, outras acusações aparecem. As anteriores, entretanto, continuam ressoando no imaginário popular.

Pelo que tudo indica, Bolsonaro só terá sossego na vida se desistir de uma vez da política, o que está longe de acontecer. Ainda que não queira se candidatar, seu apoio será fundamental para viabilizar a eleição de quem ele indicar, como seria, provavelmente, o caso do governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas. Mesmo nesse caso, o ex-presidente certamente continuará a ser atacado. Supondo que os oponentes não encontrem nada contra o seu protegido, permanecerão fustigando para enfraquecer a candidatura do seu indicado.

Dá a impressão de que os apoiadores do ex-chefe do Executivo se incomodam mais com essa perseguição do que ele mesmo. Bolsonaro parece esperar pacientemente o tempo passar com a certeza de que tudo acabará por virar fumaça.

Mesmo que os ataques sejam infundados e não tenham consequências em si, na verdade provocam prejuízos irreversíveis. Ou não foi assim nas últimas eleições? As campanhas engendradas contra ele criaram resistências em boa parte do eleitorado. Era comum encontrar pessoas dizendo que não iriam votar nele, mas, em sua maioria, sem conseguir explicar o motivo. Afirmavam simplesmente que ele falava muita besteira, ou que não gostavam dele. Não discutiam fatos concretos, mas simplesmente a forma para eles nem sempre correta e, às vezes abrupta,  como tratava os assuntos.

Sabendo que os adversários esperavam ansiosamente que ele abrisse a boca para pinçar uma ou outra informação que pudesse prejudicá-lo, talvez não imaginando que o desgaste eleitoral pudesse ter a dimensão que teve, Bolsonaro nunca parou com as brincadeiras inconvenientes e até vulgares em determinados momentos. Tanto é verdade que no final da campanha, bem às vésperas das eleições, gravou alguns pronunciamentos pedindo desculpas se por acaso alguém tivesse se sentido agredido com sua maneira de se expressar, especialmente as mulheres. Já era tarde. O sentimento de resistência havia se instalado em boa parte da população.

A campanha entre os adversários continua. E tentam de tudo. Por exemplo, para criar discórdia, insinuaram que a sua esposa Michelle poderia disputar com ele a candidatura à presidência. Que Carla Zambelli, sua fiel seguidora, o havia traído.

Vamos acompanhar os seus próximos passos. Pelos comentários de vários órgãos de imprensa, o esquema de enfraquecimento de sua imagem se mantém pesado. Tudo é motivo para diminuir sua importância no cenário político. Criticavam porque estava fora do país. Agora vão na jugular porque voltou.

Até sua chegada no aeroporto, sem a presença de um grande número de pessoas devido às barreiras e limitações para qualquer tipo de manifestação de seus apoiadores, foi noticiada como desprestígio para ele. E ainda a compararam com a repercussão que teve o pronunciamento do governo a respeito do arcabouço fiscal. Como se esses fatos, nas circunstâncias em que ocorreram, pudessem ser equiparados.

Vamos ver se esses quase 90 dias de descanso deram a ele vigor para continuar resistindo às pressões que sofre. É preciso muita serenidade e resiliência para enfrentar essa luta. Só ele pode decidir o que pretende na vida. Ou vai em frente sabendo que continuará levando pancada, ou desiste e vai pescar no Vale do Ribeira.

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