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A tática do ilusionismo para desviar a atenção dos problemas do país

Luiz Inácio Lula da Silva. - Imagem: Reprodução | TV Globo
Luiz Inácio Lula da Silva. - Imagem: Reprodução | TV Globo
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 20/08/2023, às 06h04


Você tem acompanhado as dificuldades de o governo manter os rumos do país. Por mais que tente demonstrar otimismo, não há como esconder que as coisas não andam lá muito bem. As promessas de zerar o déficit fiscal em 2024, a partir das iniciativas tomadas hoje, se assemelham mais a uma peça de ficção. Basta observar como a economia está perdendo força e, consequentemente, caindo a arrecadação de impostos. Como será possível cumprir a promessa de extinguir o resultado das contas vermelhas diante desse quadro adverso?!

Independentemente de os planos do governo serem ou não positivos, para colocá-los em andamento será necessário o aval da Câmara dos Deputados. Infelizmente para Lula, Arthur Lira está endurecendo cada vez mais o seu apoio, exigindo a todo momento “novas articulações”. Haja cargo e liberação de verbas para contentar esse pessoal!

Se não bastasse, os atores internacionais parecem não querer ajudar. Só para citar dois dos mais relevantes, Estados Unidos e China. O Tio Sam, empenhado em resolver seus próprios problemas, prejudica quem, de forma direta ou indireta, depende dele. A todo instante, acena com a possibilidade de elevar as taxas de juros. São ameaças que influenciam na valorização do dólar.

A China parece que vai de mal a pior. Vai mal hoje porque seu crescimento está anêmico – para a realidade deles. E vai piorar porque as expectativas de crescimento não são muito animadoras. Ou seja, as compras de comodities que catapultaram os governos anteriores de Lula já não poderão ajudar muito para aliviar os nossos dissabores.

Não que a situação atual do Brasil seja desesperadora, mas o norte, em perspectiva, para as políticas econômicas adotadas no momento é que parece ser indigesto. E há outro complicador nessa equação – os pronunciamentos infelizes de Lula. A cada dia ele surge com uma novidade que em seguida precisa ser explicada para desdizer os seus mirabolantes ditos. 

Se a população tiver consciência desses perrengues político-econômicos do país, pode desanimar. E não existe nada mais estimulante para turbinar uma crise econômica que a falta de esperança das pessoas. Por isso, quanto menos evidenciada for a situação, menor será a pressão advinda do perigoso desalento.

Como, então, desviar os olhos da realidade perturbadora? Uma alternativa é mostrar fatos que sirvam como “despistamento passivo”. Sim, esse é o nome que os ilusionistas dão para que não vejam o que uma das mãos faz enquanto a outra despista com gestos que atraem os olhares daqueles que são enganados por suas mágicas. Aqui ficou popularizado como “cortina de fumaça”.

Por que será que Lula não deixa de criticar Bolsonaro, mesmo estando já há nove meses no poder? Por que a todo instante surgem notícias de joias, de retenção de passaporte, de risco de prisão preventiva do ex-presidente e de políticos aliados a ele? Assim que essas informações bombásticas perdem relevância, imediatamente aparecem outras. Dessa forma, a atenção estará o tempo todo voltada para longe do que efetivamente importa.

O modus operandi é posto em prática em situações distintas. Quando Bolsonaro estava na presidência, para as conquistas do governo não serem evidenciadas, os oposicionistas aplicavam o mesmo “despistamento passivo”.

Em determinado momento eram as queimadas. Em outro era o leite condensado. Depois o escândalo da compra de Viagra. Em seguida o “crime” de sair do Palácio do Planalto para comer um sanduíche no bar da esquina. Sem contar aquelas notícias que estavam sempre na manga no caso de não ter outra melhor, como, por exemplo, o famoso “quem mandou matar Marielle?”, “onde está o Queiroz?”. Na falta de algo mais criativo, apelavam para a primeira-dama – onde já se viu receber depósitos de 50 ou 80 reais para os pagamentos de despesas domésticas?!

Analise cada um desses “fatos escandalosos”. Nunca têm um ponto final. Eles vão se sucedendo com o objetivo de afastar a concentração das evidências que tentam disfarçar. Muitos desconfiam dessas manobras. E, por esse motivo, as cores são cada vez mais fortes. Tudo em grandes manchetes até que se tornem notas de rodapé e sejam substituídas por novo tsunami.

Vamos acompanhar esta novela sem fim e ficar atentos para os próximos capítulos. Não adianta tentar ser esperto. Ainda que percebamos as intenções camufladas, quase todos nós somos ludibriados por essa tática ilusionista de levar os olhos ou para o gato ou para a sardinha. Nunca para os dois ao mesmo tempo.

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