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COLUNA

A explosão do Foguete Starship da SpaceX foi uma experiência e tanto para reflexão e aprendizado

Imagem: Reprodução | Twitter
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Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 23/04/2023, às 12h35


Na quinta-feira, 20, após ter se afastado 40 km do solo, explodiu o Starship, o mais poderoso foguete da história. Quando todos imaginavam que a equipe da SpaceX, liderada por Elon Musk, ficaria desolada, para espanto de muitos, entretanto, o que se viu foi uma comemoração generalizada.

Os organizadores do projeto celebraram o acontecimento porque nunca um foguete com aquelas dimensões havia sido lançado. Só para dar ideia do “monstrengo”, ele foi fabricado com 120 metros de altura e 9 metros de diâmetro. E, para não economizar “humildade”, o seu propulsor Super Heavy possuía 70 metros e foi equipado com 33 motores.

Imagino a curiosidade de alguns querendo saber o tamanho do “prejú”.  Lá vai – foram módicos US$ 3 bilhões. Se quiser um número mais impressionante, podemos converter para o real. Dependendo do dia da cotação, aproximadamente R$ 15,2 bilhões. É grana para magnata nenhum botar defeito.

Musk explicou que o aprendizado com a experiência foi excepcional. Tiveram o cuidado de investir em sofisticada telemetria. Dessa forma, os dados captados por ela serão criteriosamente analisados para a próxima experiência: “Aprendemos muito para o próximo lançamento de teste em poucos meses”.

Na verdade, era o que importava. Já sabiam que o foguete seria destruído de uma maneira ou de outra. Ainda que não houvesse a explosão no momento em que ocorreu, um de seus estágios pousaria verticalmente no golfo do México e outro cairia no oceano Pacífico perto do Havaí. Não seria mesmo reaproveitado. O objetivo principal era vê-lo deixando o solo, capturar os dados que deram certo e os que precisavam ser corrigidos. Ou seja, era reorientar a abordagem considerando os erros que seriam úteis para o aperfeiçoamento do projeto. Assim que o foguete desapareceu e os aplausos cessaram, com certeza, já havia técnicos analisando as informações coletadas e propondo soluções para o novo lançamento que ocorrerá em pouco tempo.

Se observarmos bem, a história nos brindou com soluções excepcionais devido aos erros cometidos pelas experiências malsucedidas que as precederam. O Brasil, por exemplo, viveu o trágico período hiperinflacionário. Os mais jovens talvez não tenham ideia do que passamos. Apesar de haver diferenças entre os índices analisados, todos foram elevadíssimos. Em um deles, por exemplo, foram apontados de janeiro a março de 1990, respectivamente, 71,9%, 71,7% e 81,3%. Você não entendeu mal, essa era a inflação mensal! Esse e outros índices escandalosos atormentavam e prejudicavam a vida dos brasileiros. Antes de os economistas desenvolverem o Plano Real, que foi o tiro de misericórdia nesse vertiginoso aumento de preços, 13 outros haviam sido tentados. Os erros cometidos nesses planos anteriores serviram para que não fossem mais repetidos. Deu certo.

Os exemplos são incontáveis. Embora a história da invenção da lâmpada seja cercada de folclore, pois os números são todos aparentemente muito exagerados, dizem haver registros de que Thomaz Edison fez mais de mil tentativas até chegar ao resultado final. E para não perder viagem, os motivadores profissionais costumam afirmar que a cada resultado negativo Édson dizia: agora já sei 900 e tantas vezes como não fazer.

Se hoje os aviões constituem o meio de transporte mais seguro do mundo, devemos, por irônico e triste que possa parecer, aos acidentes aéreos. A queda de um avião é noticiada com grande alarde pela mídia. A cada tragédia com as aeronaves, entretanto, são realizados estudos para descobrir as causas do infortúnio. E, a partir da identificação dos problemas, novos procedimentos passam a ser utilizados. São acrescentados e aperfeiçoados equipamentos. São adotados procedimentos obrigatórios pelo pessoal de terra e pelas tripulações. Dessa forma, os defeitos descobertos deixam de existir, pois são esses exemplos que servem para evitar que outros desastres semelhantes ocorram.

Nesse sentido, a explosão do Starship que, aparentemente, deveria provocar profunda decepção nos responsáveis pelo projeto, foi, na verdade, motivo para que festejassem. Os poucos minutos em que permaneceu no ar foram suficientes para o aprendizado de que precisavam para aprimorar os próximos lançamentos.

Afinal, os erros são úteis quando nos educam.

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