A vítima relatou em carta a rotina de estupros que sofria e diz que o homem aplicava injeções de hormônio para "melhorar seu corpo"
Milleny Ferreira Publicado em 26/10/2023, às 12h10
Uma adolescente de 16 anos escreveu uma carta relatando os abusos que havia sofrido do padrasto, um policial militar reformado de 51 anos. O caso está sendo investigado pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Praia Grande, no litoral de São Paulo.
Uma carta manuscrita pela vítima relata como era a rotina de abusos sexuais que seu padrasto fazia, teria começado em 2021, quando a adolescente tinha apenas 13 anos.
Além de acusar o homem desse crime, a jovem revelou que ele também já chegou a aplicar injeções de testosterona nela para que ficasse com um "corpo mais bonito" em meio aos abusos.
A mãe da vítima, que também é policial militar, disse que o relacionamento com o homem durou 12 anos e que ele se considerava um "pai" para a menina.
Meu mundo desabou. Não só o meu, mas de toda a família", desabafou a mãe da adolescente. "Fiquei sem chão, pois não esperava isso dele, que conhecia a minha filha desde bebê".
De acordo com as informações que foram apuradas pelo portal G1, o advogado Cristiano Marcos dos Santos, representante do padrasto da adolescente, afirmou que tais "acusações propostas pela suposta vítima e sua genitora são inverídicas, pois não passam de uma armação". Ele alega que seu cliente é inocente e provará isso no decorrer da investigação criminal.
A carta que foi escrita pela jovem possui seis páginas, ela diz que resolveu escrever como uma forma de relatar os abusos sofridos, para os advogados Octavio Rolim e Patrícia Britto, que estão em sua defesa no caso.
De acordo com esse depoimento por escrito, tudo começou entre junho e julho de 2021. A jovem, na época, morava na casa de sua avó, e afirmou que foi até o apartamento onde a mãe vivia com o homem. No local, ele teria mostrado vídeos pornográficos para ela.
Eu nunca tinha visto e fiquei assustada com aquilo. Ele me disse que, por estar crescendo e me tornando mulher, [além] da minha mãe trabalhar o dia todo e não ter tempo de me explicar essas coisas, eu já estava na idade de saber", escreveu a menina.
A adolescente relatou também que o homem apresentava contos eróticos para ela, "principalmente entre enteada e padrasto". O acusado, de acordo com a menina, dizia que isso era "mais comum" do que ela poderia imaginar.
A adolescente conta que, em agosto de 2021, o padrasto a apresentou a um sobrinho dele. "Disse para eu apresentar o prédio para ele", escreveu a jovem. Até que em meio uma conversa o parente do acusado teria beijado a vítima. O PM reformado, então, fez uma série de perguntas para ela sobre o beijo.
Naquele mesmo dia, conforme descrito na carta, aconteceu o primeiro abuso físico por parte do acusado. Eles estavam voltando de um passeio em Peruíbe, no litoral de São Paulo, quando o suspeito parou o carro para urinar na rua. E segundo o relato da adolescente, ele a puxou pelo braço e colocou a mão dela na genitália dele enquanto houve uma tentativa de beijá-la.
Fiquei com muito medo de falar algo na hora, pois ele sempre guardava a arma debaixo do banco do motorista", alegou a vítima. "Quando cheguei em casa, só sabia chorar escondida no quarto me perguntando o porquê daquilo estar acontecendo".
A menina escreveu também que, após um ano, em 2022, os abusos se tornaram mais frequentes. "Ele aproveitava que não tinha ninguém em casa e me puxava para o quarto dele. Aconteceu várias vezes, e todas sem o uso de preservativo".
Os advogados da menina explicaram que os abusos físicos acabaram naquele ano, quando o homem disse que se afastaria dela "para não cometer uma loucura", como engravidá-la.
A situação foi descoberta pela família em 2023, quando o acusado teria tentado uma "reaproximação" da adolescente, que gravou a conversa com ele e mostrou o áudio para a própria mãe.
A jovem contou que o homem teria injetado duas doses de testosterona nela ainda em 2022. De acordo com o relato, o homem a levava para a academia e tinha o costume de elogiar o corpo dela.
Comentava que eu tinha mais corpo do que muitas mulheres, e por eu menstruar e ter menos testosterona que o homem, não iria conseguir resultado nenhum 'só treinando'", escreveu a menina. "Dizia que eu ficaria com um corpo mais bonito [com a testosterona]".
A adolescente acrescentou na carta que o homem ficou bravo quando ela demonstrou que não queria receber a dose do hormônio. "Disse que eu não poderia parar de tomar, senão meu corpo ficaria cheio de estrias, celulites e espinhas, [além da] queda de cabelo".
O caso está sob domínio da delegada Lyvia Bonella, da DDM de Praia Grande (SP), e segundo a mesma, o homem já prestou depoimento à Polícia Civil. No relato, ele disse para as autoridades que a própria enteada é quem demonstrava interesse por ele.
Tentou inverter a situação, como se a adolescente estivesse interessada nele e feito 'investidas', abraçando e beijando", explicou a delegada, em entrevista à TV Tribuna.
Lyvya acrescentou que, apesar do depoimento do homem, o fato dele ter admitido que "retribuiu" um beijo da adolescente já configura todo o cenário como um crime.
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