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JAPÃO

Ex-boxeador japonês é absolvido de assassinatos após quase 60 anos no corredor da morte

Iwao Hakamada foi acusado de assassinar seu empregador, sua esposa e os dois filhos do casal em 1966

Ex-boxeador japonês é absolvido de assassinatos após quase 60 anos no corredor da morte - Imagem: Reprodução / BlueSky / ‪@mm-ilpost-bot.bsky.social
Ex-boxeador japonês é absolvido de assassinatos após quase 60 anos no corredor da morte - Imagem: Reprodução / BlueSky / ‪@mm-ilpost-bot.bsky.social

William Oliveira Publicado em 26/09/2024, às 09h00


O Tribunal Distrital de Shizuoka, no Japão, proferiu uma decisão histórica ao absolver o ex-boxeador Iwao Hakamada, de 88 anos, acusado de quatro homicídios cometidos em 1966. Hakamada havia sido condenado à morte em setembro de 1968 e aguardava a execução há mais de cinco décadas, sendo reconhecido pelo Guinness World Records como o preso que passou mais tempo no corredor da morte.

Na época, Hakamada trabalhava em uma fábrica de processamento de missô quando os corpos carbonizados de seu empregador, sua esposa e os dois filhos do casal foram descobertos na residência da família. As investigações forenses concluíram que as vítimas haviam sido esfaqueadas antes do incêndio criminoso.

A polícia mobilizou mais de mil agentes para investigar o caso e rapidamente identificou Hakamada como o principal suspeito após encontrar vestígios de gasolina e sangue em seu pijama. Inicialmente, ele negou as acusações, mas, após intensos interrogatórios e supostas sessões de espancamento, acabou confessando o crime. Posteriormente, Hakamada retratou-se na primeira audiência do caso, alegando coerção e mantendo sua inocência.

O caso ganhou novas evidências quando cinco peças de roupa manchadas de sangue foram encontradas em um tanque de missô na fábrica onde o réu trabalhava. Com as novas provas, a defesa contestou a validade dessas evidências, argumentando que o DNA nas roupas não correspondia ao do acusado e que as peças teriam se deteriorado se tivessem ficado no tanque por tanto tempo. Os advogados até sugeriram que a polícia poderia ter plantado as evidências.

Em 2014, um recurso da defesa foi aceito pelo Tribunal de Shizuoka, que concluiu que "as roupas não pertenciam ao réu". Hakamada foi então libertado aos 78 anos e teve direito a um novo julgamento. No entanto, em junho de 2018, o Supremo Tribunal de Tóquio anulou essa decisão, embora tenha permitido que ele cumprisse a pena em casa devido à sua idade avançada. A Suprema Corte japonesa ainda exigiu um novo julgamento em março de 2023.

Com o novo julgamento, o Tribunal de Shizuoka revisitou o caso e realizou uma nova análise das evidências. Recentemente, a Corte decidiu pela inocência de Hakamada e concluiu que as principais provas apresentadas pela acusação haviam sido fabricadas. A absolvição de Hakamada o torna o quinto condenado à morte a ser exonerado em um novo julgamento na história pós-guerra do Japão.

Vale ressaltar que o Japão, juntamente com os Estados Unidos, é o único país do G7 que ainda aplica a pena capital, com prisioneiros sendo informados sobre suas execuções apenas alguns dias ou até horas antes.

Problemas de saúde

O longo período em confinamento solitário causou sérios problemas de saúde a Hakamada. Segundo familiares, ele desenvolveu Síndrome de Ganser, um raro distúrbio dissociativo caracterizado por comportamento anômalo e alucinações. Essa condição ressalta os impactos psicológicos severos do prolongado isolamento carcerário enquanto aguardava sua execução.

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