Marcelo Emerson Publicado em 22/09/2022, às 08h34
Há uma pergunta frequente que sempre ganha maior importância em época de eleições. Em termos bem diretos, é a seguinte: é certo misturar política com religião? Para chegarmos numa resposta básica, sem nos aprofundarmos em questões teológicas ou de ciência política, é preciso que tenhamos uma noção simples do que vem a ser política e, do mesmo modo, qual a ideia que temos sobre religião.
Numa acepção básica, podemos entender a política como a prática de influenciar a organização coletiva das sociedades humanas.
Em linhas muito simples, religião se origina do verbo latino “re-ligare”, que significa religar (conectar) novamente o humano à divindade (Deus), após o “desligamento” causado por uma falta (pecado).
As instituições religiosas criam postulados que visam estabelecer valores para aqueles que a elas aderem. Tais postulados são dogmas inquestionáveis com atributo de verdade absoluta, sempre conhecidas por meio de revelações divinas (espirituais ou sobrenaturais).
Quando os adeptos das religiões participam dos assuntos da coletividade, acabam “fazendo política”, pois pretendem imprimir seus valores no desenho das políticas públicas.
Ocorre que a política é a arte da negociação e o ambiente da política é o palco da acomodação dos diferentes. Se as sociedades humanas são cada vez mais complexas e dotadas de diversidade, é inevitável que diferentes grupos de interesse pretendam ver seus valores consagrados na organização da sociedade.
Aqui surge o conflito: as religiões atuam mediante a imposição de uma postura “tudo ou nada”. Em muitas questões sensíveis para a sociedade os religiosos trabalham para a validação total dos seus postulados. Qualquer tentativa de negociação é classificada como “heresia ou pecado”, e os divergentes são estigmatizados como “infiéis”.
É legítimo aceitar que indivíduos participem da organização da sociedade influenciando os assuntos públicos com seus valores, inclusive religiosos. Porém, faz-se necessário atuar nos limites da tolerância, sem abrir mão do respeito ao jogo democrático. A democraciaexige que diferentes grupos participem legitimamente das disputas políticas, com a garantia do debate (diálogo), do respeito ao diferente e da não aceitação de discursos e práticas totalitárias que preguem ou atuem para a eliminação daquele que pensa diferente.
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