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Skate: como prevenir e tratar lesões mais comuns

Estreante nas Olimpíadas de Tóquio, o skate se tornou o mais recente esporte-xodó dos brasileiros. Com três medalhas de prata para o Brasil, conquitadas pelos

SKATE
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Redação Publicado em 15/08/2021, às 00h00 - Atualizado às 11h21


Estreante nas Olimpíadas de Tóquio, o skate se tornou o mais recente esporte-xodó dos brasileiros. Com três medalhas de prata para o Brasil, conquitadas pelos atletas Kelvin Hoefler, Rayssa Leal e Pedro Barros, a expectativa é que o esporte de quatro rodinhas ganhe novos adeptos nos próximos anos. Contudo, como em qualquer atividade física, é importante conhecer os riscos de lesões e as melhores maneiras para preveni-las e tratá-las. Considerado um esporte radical, o skate deve ser praticado com capacete e itens de segurança que protegem o atleta de lesões graves, como concussão cerebral. Para tirar suas dúvidas sobre o tema, o EU Atleta conversou com dois especialistas: o médico do esporte e ortopedista Nemi Sabeh Júnior e o skatista profissional Raphael Índio.

Segundo Nemi, que também já foi praticante assíduo do esporte, apesar do rótulo de esporte radical, o skate conta com menos incidência de lesões do que o futebol, e a maior parte dos ferimentos nesse caso estão relacionadas a traumas ocorridos na queda, como fraturas e luxações. Lesões atraumáticas não são muito comuns.

O médico comenta que as lesões acontecem majoritariamente nos membros superiores (punho e ombro), mas também destaca entorses de tornozelo e joelho. Em estudo recente, o Instituto Brasileiro de Pesquisa e Ensino em Fisiologia do Exercício (IBPEFEX), focado em skatistas do sexo masculino, indica ainda a presença de fraturas da costela, falanges, rádio, ulna, úmero, cotovelo e fíbula.

Tony Hawk mostra a mão deslocada após acidente de skate — Foto: Reprodução/Instagram

Tony Hawk mostra a mão deslocada após acidente de skate — Foto: Reprodução/Instagram

O médico conta também que algumas lesões não-traumáticas podem acontecer, principalmente por conta do cansaço muscular e tendinite patelar, ocasionada pelo número excessivo de saltos. De acordo com Nemi, esses ferimentos são menos comuns no esporte. O skate apresenta maior risco para o tendão patelar, responsável pelo mecanismo dos saltos, do que outras modalidades onde esses movimentos estão bastante presentes, como vôlei e basquete.

– Apesar do número alto de saltos, no vôlei e no basquete, há quase sempre o mesmo mecanismo de ação: salto vertical, com os dois pés no solo, e a aterrissagem com um pé ou dois. Já no skate, os saltos são mais complexos e demandam maior habilidade. O movimento tem mais complexidade, pois ocorrem em giro, muitas vezes com um pé só e sob uma plataforma instável. É um salto desorganizado. Por isso, o desenvolvimento da tendinite no tendão patelar e as entorses do joelho e tornozelo são mais comuns.

Principais lesões e atletas que tiveram

  1. Fraturas e luxações no punho e nos dedos: como as sofridas no ano passado pela anglo-japonesa Sky Brown, que ganhou o bronze no Skate Park em Tóquio, na mesma queda em que teve um traumatismo craniano
  2. Lesões do ombro: o brasileiro Luiz Francisco, o Luizinho, quarto colocado no Skate Park em Tóquio, sofreu com uma sequência delas. Ficou boa parte de 2020 sem competir por conta disso;
  3. Entorse de tornozelo: como a que atrapalhou a brasileira Pâmela Rosa nos Jogos Olímpicos;
  4. Fraturas da costela: lesão apontada como a pior de sua carreira pelo brasileiro-americano Bob Burnquist;
  5. Fratura de fíbula: como a que, em 2013, tirou o campeão mundial de street Sean Malto das competições por três anos e cuja recuperação virou documentário;
  6. Fraturas no braço: sofrida pelo brasileiro Héricles Fagundes no Mundial de Skate Park em 2019;
  7. Lesões no joelho: finalista do Skate Park em Tóquio, Pedro Quintas enfrentou uma ruptura do Ligamento Posterior Cruzado que o deixou por 45 dias sem andar em 2019;
  8. Luxação de cotovelo: lesão sofrida pela tetracampeã mundial de skate vertical Karen Jonz, em 2017.
Lesão no tornozelo de Pâmela Rosa atrapalhou a performance da campeã mundial nos Jogos de Tóquio — Foto: Reprodução

Lesão no tornozelo de Pâmela Rosa atrapalhou a performance da campeã mundial nos Jogos de Tóquio — Foto: Reprodução

Prevenção e tratamento

Por se tratar de um esporte em que as quedas estão bastante presentes, as lesões traumáticas acabarão sempre acontecendo em certo nível, como alerta Raphael Índio, atleta profissional e instrutor do esporte para crianças. Índio ainda comenta que os riscos não estão diretamente atrelados ao nível e à experiência do praticante.

– Sinceramente falando, o skatista está sempre vulnerável a lesões mesmo estando equipado, seja na diversão, no treino ou na competição. Skate é superdivertido, porém tem seus desafios. E não existem riscos extras para quem está começando no esporte. Um iniciante pode se lesionar da mesma forma que um profissional. Se alongar antes de praticar é uma boa dica – aconselha Índio.

Apesar das quedas fazerem parte da rotina e da natureza do esporte, Nemi aponta para alguns cuidados que podem ser tomados para reduzir sua incidência. O principal é o uso de equipamentos de segurança: cotoveleiras, joelheiras, luvas e capacetes são capazes de reduzir os impactos e evitar problemas graves. Contudo, medidas tomadas fora da prática do esporte também ajudam o atleta a prevenir quedas e traumas, como orienta o médico.

– As principais lesões relacionadas ao trauma são por causa da queda, mas a gente consegue evitá-las através de um treinamento de equilíbrio. É possível mimetizar algumas manobras e a aterrissagem com aquelas meias-bolas de fisioterapia e outras plataformas instáveis que melhoram a noção proprioceptiva de equilíbrio. Outro tipo de prevenção, que poucos skatistas fazem, é o treinamento resistido de musculação. Ao ganhar um pouco de massa muscular, você consegue ter melhores movimentos em saltos. O desenvolvimento dos músculos também é importante para proteção e para estabilizar o corpo na queda.

Treinos sobre a meia-bola de pilates e fisioterapia, também conhecida como bosu, ajudam a melhorar o equilíbrio sobre o skate e prevenir quedas — Foto: Istock

Treinos sobre a meia-bola de pilates e fisioterapia, também conhecida como bosu, ajudam a melhorar o equilíbrio sobre o skate e prevenir quedas — Foto: Istock

Com base em sua experiência com crianças, Índio aponta ainda alguns cuidados com os pequenos na hora de iniciar no esporte. Por ser um esporte de risco, é importante que tenha sempre a presença de um adulto responsável e instrutores certificados.

– Hoje, temos crianças cada vez mais novas iniciando no skate. Uma forma divertida e protetora para que eles curtam a brincadeira com segurança é ter sempre um responsável por perto, observando e dando apoio. Outra opção é matriculá-los em uma escolinha de skate, mercado que tem crescido bastante. Porém, é sempre importante saber a formação do profissional.

Nemi alerta que todo e qualquer tratamento deve ser feito por um médico da área (ortopedista ou, eventualmente, um médico do esporte), com suporte também de um fisioterapeuta. A importância de respeitar o processo evita não só uma possível má recuperação da lesão como as chances de transformá-la em uma lesão mais grave no futuro.

– No caso do tratamento das lesões traumáticas, seja cirúrgica ou não, o ortopedista é o médico especialista da área. O atleta consegue retornar à atividade depois de realizar a imobilização ou cirurgia e fixação com consolidação da fratura ou a recuperação dos chamados tecidos moles, como ligamentos e tendões, que também machucam no trauma. Esse retorno se dá pela alta médica do ortopedista, que é o médico-cirurgião da área. Em casos não-cirúrgicos, o tratamento pode ser feito também com um médico do esporte, que detém o conhecimento ortopédico. E, no pós-operatório ou pós-imobilização, um fisioterapeuta é sempre acionado para ganho de movimento e da função normal do membro.

Lesões cranianas: cuidados e retorno

Skate escapa dos pés de Sky Brown enquanto skatista tentava manobra no halfpipe: capacete evitou danos maiores na lesão craniana sofrida — Foto: Reprodução

Skate escapa dos pés de Sky Brown enquanto skatista tentava manobra no halfpipe: capacete evitou danos maiores na lesão craniana sofrida — Foto: Reprodução

Outro ponto de precaução no esporte é em relação a lesões na cabeça, sobretudo as concussões. Acidentes, como o sofrido por Sky Brown no ano passado, costumam acender o debate sobre a segurança no esporte, como idade mínima para a sua prática e obrigatoriedade do capacete. Hoje, o recurso de proteção em competições só é obrigatório para atletas menores de 18 anos, sendo facultativo para os mais velhos. Além disso, mesmo para atletas amadores que praticam o esporte por hobby, o capacete não é obrigatório em todas as pistas, sendo apenas recomendado em algumas delas. Contudo, seu uso é fundamental para evitar lesões cranianas mais graves em caso de quedas.

– O uso do capacete no skate é um benefício. No futebol, você não pode usar capacete e existe um número elevado de lesões de traumas de crânio, que nós chamamos de concussão cerebral, um chacoalho do cérebro em que a pessoa fica desacordada. No skate, você pode até ter a concussão, mas, por conta do capacete e do trauma ser no chão, a proteção é bem maior do que um choque cabeça-com-cabeça como acontece no futebol – destaca Nemi.

Caso sofra uma concussão, o praticante deve ficar afastado do esporte até que todos os sintomas passem e ele seja liberado por um médico. A sucessão de concussões pode gerar danos cerebrais severos e deixar sequelas irreversíveis, como já foi estudado em pugilistas e jogadores de futebol americano e, mais recentemente, discutido também no futebol. É preciso que o protocolo, chamado de “Return to Play”, seja seguido à risca.

– A concussão dá sequelas principalmente quando você tem dois traumas em um período curto de tempo, causando uma encefalite, processo inflamatório do cérebro, que pode gerar danos cerebrais graves, incluindo lesões de comportamento e alterações de função motora ou até cognitiva. Para voltar depois de uma concussão, é importante ter a recuperação demonstrada em testes físico-neurológicos antes da liberação do atleta para não ter risco de sequelas em caso de uma nova concussão. O processo pode durar de seis dias até dois meses, porque você precisa retornar de todos os sintomas neurológicos, incluindo os mais corriqueiros, como fotofobia, alteração do sono, náuseas e irritabilidade.

Fontes:
Nemi Sabeh Júnior é Médico do Esporte formado pela Unifesp e Ortopedista especialista em Cirurgias de Ombro e Cotovelo pela Universidade John Hopkins (EUA). É Médico Coordenador das Seleções Brasileiras de Futebol Feminino e cirurgião-ortopedista do Hospital Sírio-Libanês.
Raphael Índio é skatista profissional, instrutor de skate há 20 anos e criador da escola de skate para crianças Mini Monstros.

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Fontes: Ge – Globo Esporte.

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