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Punhos de ouro: dos ‘babas’ aos ringues, Hebert Conceição leva fé e perseverança em sua trajetória

Fé, palavra bastante conhecida pelo povo baiano. Bahia de todos os santos. Além de ser um celeiro do boxe, as raízes da Bahia também contam com manifestações

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Redação Publicado em 09/08/2021, às 00h00 - Atualizado às 08h43


Fé, palavra bastante conhecida pelo povo baiano. Bahia de todos os santos. Além de ser um celeiro do boxe, as raízes da Bahia também contam com manifestações religiosas. Nascido na comunidade de Pau da Lima, em Salvador, o pugilista Hebert Conceição fez questão de valorizar as suas origens durante o Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. O soteropolitano conquistou a medalha de ouro após nocautear o ucraniano Oleksandr Khyzniak, na categoria até 75kg da modalidade.

Devota de Nossa Senhora da Aparecida, padroeira do Brasil, dona Ieda Conceição, mãe de Hebert, acompanha todas as lutas do filho segurando a imagem da santa.

– Eu fico aqui torcendo, e torcendo. Sofro, às vezes as lágrimas caem, mas não perco a fé – conta.

Dona Ieda segurando a imagem da Nossa Senhora Aparecida durante luta de Hebert — Foto: Arquivo Pessoal

Dona Ieda segurando a imagem da Nossa Senhora Aparecida durante luta de Hebert — Foto: Arquivo Pessoal

Xodó da mãe, Hebert realizou, em novembro de 2020, um sonho de dona Ieda: conhecer o Santuário Nacional de Nossa Senhora da Aparecida, em São Paulo.

Hebert Conceição e a mãe no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Hebert Conceição e a mãe no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Foi sob a energia de toda essa fé que Hebert Conceição nocauteou o ucraniano nos ringues com a cruzada de esquerda, o mesmo braço que quebrou quando tinha apenas três anos de idade. O acidente foi superado sem sequelas, mas ainda é motivo de preocupação para a família.

– Quem diria, né, mãe, que o braço que ele quebrou, que batia com o gesso para a gente abrir a porta… Quem diria que esse braço iria fazer esse sucesso todo hoje – conta Nayrã, irmã de Hebert.

Hebert Conceição na final olímpica — Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino

Hebert Conceição na final olímpica — Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino

Dos campos aos ringues

O sucesso no boxe não era o previsto para aquela criança travessa. O pequeno Hebert tinha o sonho de ser jogador de futebol; com os amigos, “batia o velho baba”, como são chamadas as “peladas” na Bahia, em um campo de barro localizado em frente à casa de dona Ieda, em Pau da Lima.

Apaixonado por esportes e torcedor do Bahia, aquele Hebert sempre acompanhava os jogos do seu time de coração e demonstrava seu amor pelo Tricolor nas redes sociais. A irmã, Nayrã, conta que o pugilista sempre acompanhou Copa do Mundo, Olimpíadas e outras competições esportivas.

Campo de futebol onde Hebert e os amigos jogavam em Salvador — Foto: Reprodução/EE

Campo de futebol onde Hebert e os amigos jogavam em Salvador — Foto: Reprodução/EE

Para além do futebol, Hebert também tentou ser lutador de jiu-jitsu e capoeirista. Mas foi nos ringues que ele se encontrou: em 2019, ganhou a medalha de bronze no Campeonato Mundial e a prata no Pan-Americano de Lima, no Peru.

Da Cidade Nova para o mundo

A história campeã começou no bairro de Cidade Nova, na capital baiana, mais especificamente na Academia Champion. Foi com a ideia de perder peso que aquele baiano de 15 anos iniciou sua trajetória no boxe, sob orientação do ex-pugilista Luiz Dórea, no projeto social chamado Campeões da Vida.

A evolução de Hebert na academia foi rápida. Em apenas três meses de boxe, tornou-se campeão brasileiro na categoria cadete.

– Ele é um atleta que tem uma habilidade acima do normal, é determinado, tem atitude de campeão, se impõe no ringue – conta Luiz Dórea.

Na academia, a inspiração estava exposta na parede. Uma delas é decorada com pinturas de rostos de grandes atletas que se consagraram no boxe brasileiro, formados no celeiro baiano, como Popó e Robson Conceição.

Robson, aliás, é a maior inspiração de Hebert Conceição. Em meio à atmosfera onde ídolos treinam garotos, o medalhista olímpico responsável pelo primeiro ouro do boxe nas olimpíadas de 2016 ensinou seus passos – e golpes – ao pugilista mais jovem. Dos treinos na academia, surgiu uma grande amizade, que rendeu até apelido a Hebert: ‘Pivete’.

– Vai puxando, vai incentivando os atletas mais novos. O atleta vê um campeão olímpico treinando do lado, ele quer treinar igual, quer ser campeão olímpico também – diz Robson Conceição.

Robson Conceição e Hebert Conceição treinando juntos na academia Champion — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Robson Conceição e Hebert Conceição treinando juntos na academia Champion — Foto: Reprodução/Redes Sociais

– A história dele me inspirou muito. Eu cresci vendo ele treinar, vendo a história dele. E hoje eu consegui me igualar ao feito dele e eu estou muito feliz – conta Hebert após conquistar o ouro.

Foi sob a fé de sua mãe e inspiração em um ídolo que virou amigo, que Hebert Conceição saiu dos campos para os ringues e, na última sexta-feira, levou o nome da Bahia, mais uma vez, ao ouro em uma olimpíada.

A comemoração, como não poderia deixar de ser, agitou a madrugada no bairro de Pau da Lima. Familiares e vizinhos se juntaram para assistir, em uma área externa do condomínio onde moram, à conquista daquele torcedor tricolor, embalada pelo hino do time do coração e pela letra do Olodum:

“Nobre guerreiro, negro de alma leve. Nobre guerreiro, negro lutador”…

Família passou madrugada acordada, para acompanhar luta do pugilista baiano — Foto: Aricelma Araújo/Arquivo pessoal

Família passou madrugada acordada, para acompanhar luta do pugilista baiano — Foto: Aricelma Araújo/Arquivo pessoal

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Fontes: Ge – Globo Esporte.

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