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Com eleição suspensa e sem nova data, oposição pede intervenção da CBV na Federação do Rio

A chapa de oposição candidata à presidência da Federação de Vôlei do Estado do Rio de Janeiro (FEVERJ) entrou com um pedido de intervenção junto à

CBV
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Redação Publicado em 24/02/2021, às 00h00 - Atualizado às 11h32


Chapa comandada por Franco entra com pedido junto à Confederação após fim de mandato da situação e não cumprimento de ordem judicial para a marcação do pleito

A chapa de oposição candidata à presidência da Federação de Vôlei do Estado do Rio de Janeiro (FEVERJ) entrou com um pedido de intervenção junto à Confederação Brasileira de Vôlei. Encabeçado por Franco, ex-jogador de vôlei de praia, o grupo alega que o atual mandatário, Carlos Reinaldo Pereira Souto, descumpriu ordem judicial para a marcação de uma nova data para a eleição, suspensa por liminar. O mandato vigente chegou ao fim no dia 3 de fevereiro, mas não houve posicionamento sobre o novo pleito. O ge tentou contato com a diretoria da entidade, mas ainda não obteve resposta.

– Decidimos dar entrada nesse pedido de intervenção na FEVERJ uma vez que o mandato do atual presidente acabou e a vigência do prazo de atuação da comissão eleitoral também terminou. Ou seja, nesse momento a entidade está acéfala e o processo eleitoral mais comprometido ainda. Além disso, as regras específicas da eleição permanecem desconhecidas apesar de ordem judicial para sua divulgação. Entendemos que há a necessidade de uma ação da CBV, que é a entidade máxima do voleibol no país, de modo que as coisas sejam regularizadas e que a eleição possa transcorrer de forma adequada e transparente – diz Franco.

A CBV ainda não se pronunciou oficialmente sobre o pedido. Franco afirma que cinco dos oito votantes já declararam formalmente voto na chapa de oposição, à espera da nova eleição.

– Nossa preocupação maior é com o voleibol do Rio de Janeiro, que, com todos esses fatos continua parado. Acreditamos ser urgente que a eleição ocorra, pois há muito trabalho a ser feito para que seja possível uma recuperação da FEVERJ que hoje se encontra em uma situação crítica. Reerguer a entidade será um enorme desafio e, para que isso tenha início, precisamos que ocorra a eleição o quanto antes, naturalmente com as regras divulgadas, com uma comissão eleitoral imparcial e sem a tentativa de manobras irregulares que possam comprometer o resultado. Com uma eleição limpa e transparente temos certeza de que os clubes votantes farão a melhor escolha para o voleibol de nosso estado. Na verdade, dos oito votantes, cinco já decidiram até antecipar a declaração de voto em nossa chapa por entenderem que alguma coisa precisa ser feita, urgentemente, para recuperar a FEVERJ dessa situação crítica em que foi colocada. O Flamengo, Grajaú Tênis, Clube dos Funcionários da CSN e as Comissões de Atletas de Praia e Quadra já nos entregaram uma carta de apoio oficializando os seus votos na chapa VOLEIBOL RJ – afirma.

Entenda o imbróglio

A eleição para a presidência da FEVERJ, que estava marcada para o início do mês, foi suspensa após uma liminar do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. A chapa da oposição, encabeçada por Franco, ex-atleta do vôlei de praia, entrou com um pedido de adiamento por falta de informações oficiais sobre o pleito. Os detalhes de como seria feito o pleito não foram divulgados até a data original. O Tribunal deu 15 dias à Federação para divulgar as regras da eleição e 20 dias para a marcação de uma nova data, o que não foi cumprido.

– Por todas estas razões, permanecem tanto a probabilidade do direito do autor como o perigo de dano já mencionados em minha decisão anterior, razão pela qual passo a determinar o seguinte: a) FICA SUSPENSA A ELEIÇÃO DO PRESIDENTE, VICE-PRESIDENTE E CONSELHO FISCAL DA FEDERAÇÃO, CONVOCADA PARA A DATA DE AMANHÃ, SOB PENA DE, EM SE REALIZANDO, SER TIDA POR ABSOLUTAMENTE NULA; b) Fica determino à Comissão Eleitoral que, em até quinze dias, divulgue as regras específicas para a eleição, ciente de que se esta divulgação se fizer pelo sítio eletrônico, deverá ser lançada na página de entrada, com destaque, e ali permanecer até que a eleição se realize; c) deverá haver prazo mínimo de 20 (vinte) dias entre a divulgação das regras específicas para a eleição e a designação da data da votação para os cargos acima indicados – diz o trecho final da liminar.

A federação carioca não tem uma eleição com mais de uma chapa há quase 25 anos. De um lado, Carlos Reinaldo Pereira Souto, à frente da entidade desde 1992. Do outro, Franco, bicampeão do Circuito Mundial de Vôlei de Praia e atleta olímpico nos Jogos de Atlanta 1996. O embate, porém, já é alvo de polêmica antes mesmo da realização.

Carlos Souto, presidente da Federação do Rio de Janeiro — Foto: Reprodução / SporTV

Carlos Souto, presidente da Federação do Rio de Janeiro — Foto: Reprodução / SporTV

Um dossiê apresentado pela oposição aponta irregularidades administrativas na entidade que gere o vôlei carioca. Entre as acusações, o bloqueio de contas por problemas na prestação de contas de eventos e ações judiciais que impedem o recebimento de verbas públicas pelos próximos cinco anos. O bloqueio da conta, inclusive, gera uma outra denúncia: os atletas estariam pagando as taxas anuais diretamente na conta do atual vice-presidente, Marcos Rozemberg.

Souto, técnico da seleção brasileira nas Olimpíadas de Montreal, em 1976, chegou à presidência da Federação de Vôlei do Estado do Rio de Janeiro em 1992. Desde então, emendou sete mandatos, com apenas uma eleição com concorrência no caminho. Na disputa de 1997, venceu a chapa formada por Dulce Thompson e Jackie Silva. Nesta quarta-feira, tenta se reeleger pela oitava vez e continuar à frente da entidade até 2024, mais uma vez ao lado de Rozemberg na chapa “Rio 2021”.

Franco encabeça a chapa “Voleibol RJ”. Ao seu lado, Mario Dunlop, prata no Pan de Winnipeg, em 1967, com a seleção brasileira de quadra. A dupla afirma que só conseguiu protocolar sua candidatura depois de um ano de tentativas. Até o momento, não houve comunicado oficial com o processo detalhado da eleição. Cada clube filiado, além das comissões de atletas do vôlei de quadra e da praia, tem direito a voto.

Mas, assim como na eleição da Confederação Brasileira de Vôlei, há pesos diferentes para cada membro, que ainda não foram revelados, mesmo faltando dois dias para o pleito. Entre os clubes votantes, Flamengo e Fluminense, que disputam a Superliga, além de Botafogo, Tijuca e Grajaú, entre outros. Uma nota oficial convocando a Assembleia Geral Ordinária foi publicada no site da Federação no dia 12 de janeiro, mas sem mais detalhes sobre o processo.

Franco, ex-jogador de vôlei de praia, é candidato da oposição — Foto: Maurício Kayke/CBV

Franco, ex-jogador de vôlei de praia, é candidato da oposição — Foto: Maurício Kayke/CBV

O ge entrou em contato com a chapa da situação para buscar respostas às acusações da oposição. Foram feitas tentativas por telefone e e-mail, mas nenhum retorno. Franco afirma ter solicitado balanços financeiros ao longo do último ano, o que teria sido negado pela administração. A chapa, então, passou a pesquisar por possíveis protestos e ações ao longo do ano. Descobriu o bloqueio de contas devido a processos do Ministério Público e da União, entre outros. A dívida ultrapassa a marca de R$ 700 mil apenas nos processos encontrados.

– Pedimos e não tivemos acesso. Segundo eles, porque não éramos filiados. Mas, por estarmos concorrendo, deveríamos ter acesso para conseguirmos montar um plano de gestão. Todas essas coisas vão dando imoralidade ao processo. São condenações ao longo de 30 anos que podem gerar problemas a quem assumir. Qual impacto disso no esporte no Rio de Janeiro? Não sabemos se é maior. São condenações por uso de dinheiro público, por falta de prestação de conta, e isso gera um impacto muito grande. Acho fundamental enaltecer práticas para que esse tipo de gestão não aconteça mais. O esporte não pode pagar pelos atos irresponsáveis de gestores – afirmou Franco.

Denúncia mostra pagamento de taxa da federação diretamente na conta do vice-presidente — Foto: Reprodução

Denúncia mostra pagamento de taxa da federação diretamente na conta do vice-presidente — Foto: Reprodução

Em uma troca de e-mails entre a Federação e um atleta, houve o pedido oficial para que a taxa fosse paga diretamente na conta do vice-presidente, Rozemberg. A prática teria sido institucionalizada após o bloqueio das contas da Federação.

– Não é pelo valor financeiro, é pelo moral. É uma pessoa física, dirigente da instituição. Como entra esse dinheiro na conta dele? Toda nossa investigação, nos enviaram de alguma forma como denúncia. Pessoas que não se expõem publicamente por medo de represálias. Muitas questões que precisamos saber ainda. E sempre nos foi negado o acesso – afirmou o candidato da oposição.

A oposição também acusa a atual diretoria de manobras para esconder conflitos de interesse na montagem da Comissão Eleitoral. A mesa foi alterada duas vezes através de ordens judiciais após protestos da chapa, acusando a relação dos nomeados com membros da diretoria.

– O que achamos é que o modelo atual é um modelo condenado, o mundo evoluiu. Essas gestões de muito tempo, com décadas no poder, a tendência é acomodar, não acompanham a velocidade das coisas – disse Franco.

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Fonte: GE – Globo Esporte.

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