O futebol segue sendo a mais perfeita imitação da vida no campo dos esportes.
Redação Publicado em 01/02/2021, às 00h00 - Atualizado às 12h31
O futebol segue sendo a mais perfeita imitação da vida no campo dos esportes.
Quem teima em ver, viver e sentir o futebol apenas pela frieza dos números, das pranchetas e dos detalhes técnicos e táticos deixa de curtir o que ele tem de melhor.
A modorrenta final da Libertadores, prejudicada por um horário insano em meio ao implacável verão carioca e assombrada pelo desastre da aglomeração provocada pela Conmebol, caminhava para um desfecho marcado pela cautela.
Uma decisão muito de treinadores e pouco de jogadores.
Mas os deuses da bola são danados. Adoram um “gran finale”.
Toques de drama, comédia e suspense.
No apagar das luzes, como contavam os grandes narradores do passado, o Palmeiras buscou sua segunda copa continental, num lance todo ele dos atletas.
Danilo descolou um lançamento estilo Gérson para Rony matar no peito, no lado oposto ao que tinha atuado em todo o jogo. Breno Lopes, que havia entrado para ser mais uma opção de velocidade pelos lados, se posiciona centralizado, olha para Rony e, com Luiz Adriano fechando em direção à área, busca o posicionamento às costas de Pará.
O lançamento parte preciso, perfeito, do pé direito de um jogador de chute nem sempre calibrado. O herói improvável sobe no tempo exato, cabeçada de olhos abertos. A bola cumpre uma trajetória caprichosa, com atletas e público (convidado) em silêncio absoluto por segundos eternos.
Ao final, a explosão do gol, numa decisão que remete a alguns dos maiores lances quase impossíveis do basquete.
Como escreveu Tostão em sua coluna na Folha: “Grandes finais costumam ser sem brilho. Elas devem ser celebradas, poetizadas, para sempre, não analisadas nos detalhes táticos”.
No que dependesse dos treinadores, que mapearam seus adversários e trancaram seus times com estratégias de pura destruição, o jogo estaria sendo disputado até agora.
Mas os jogadores ainda têm as rédeas do futebol, embora sistematicamente os adoradores de planilhas e pranchetas sigam em sua cruzada para transformar os treinadores nos donos de um controle remoto que, em seus sonhos mais perversos, um dia tomará conta do jogo mais simples e querido do mundo.
Nada contra os treinadores e sua (grande) importância. Mas a magia do futebol veste chuteiras e cria cenas mágicas como a cabeçada perfeita de Breno Lopes.
Que saiu da Série B como artilheiro do promovido Juventude para flutuar rumo à eternidade no maior palco da bola.
Ironia das ironias, Breno não pôde ser inscrito pelo Palmeiras para a disputa do Mundial de Clubes.
Encerro citando alguém que, mesmo pelos olhos dos outros, via o futebol como poucos. Nelson Rodrigues em “O Homem Fatal”: “Na velha imprensa as manchetes choravam com o leitor”.
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