Diário de São Paulo
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EL NIÑO

Da comida japonesa ao vestuário: como um fenômeno climático pode impactar a economia do país?

A cervejinha e eletricidade também serão afetadas

Da comida japonesa ao vestuário: como um fenômeno climático pode impactar a economia do país? - Imagem: Divulgação/Haná Restaurante
Da comida japonesa ao vestuário: como um fenômeno climático pode impactar a economia do país? - Imagem: Divulgação/Haná Restaurante

Marina Roveda Publicado em 04/07/2023, às 08h55


O El Niño, fenômeno climático conhecido por suas mudanças nos padrões atmosféricos, está deixando sua marca neste inverno brasileiro. Com temperaturas mais amenas e alterações no transporte da umidade, o país se prepara para enfrentar consequências em diversos aspectos, inclusive na economia.

Segundo especialistas consultados pelo g1, as mudanças trazidas pelo El Niño podem resultar em impactos significativos em diferentes setores econômicos. No Norte e Nordeste do Brasil, a previsão é de um tempo mais seco, enquanto o Sul e Sudeste devem enfrentar chuvas excessivas.

Agricultura, atividade pesqueira, bares e restaurantes, vestuário, setor elétrico e segmento farmacêutico são alguns dos segmentos que podem ser afetados com a chegada do fenômeno climático. A variação nas condições climáticas pode comprometer safras, dificultar a pesca e alterar a demanda por produtos e serviços.

De acordo com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês), este El Niño tem sido um dos mais intensos dos últimos 70 anos. Isso aumenta a preocupação com os possíveis impactos econômicos que poderão ser sentidos em todo o país.

Diante desse cenário, é fundamental que os setores afetados estejam preparados para enfrentar as mudanças e se adaptar às novas condições climáticas. A busca por estratégias de mitigação de danos, investimentos em infraestrutura e políticas de incentivo se tornam essenciais para minimizar os efeitos negativos.

Ainda que os impactos diretos e indiretos do El Niño na economia brasileira possam trazer desafios, é importante ressaltar que a adoção de medidas de prevenção e adaptação pode contribuir para um enfrentamento mais eficaz dessas mudanças. A união de esforços entre o setor público e privado, aliada à conscientização da população, será fundamental para mitigar os efeitos do fenômeno climático e garantir a resiliência econômica do país.

A agropecuária brasileira é um dos setores mais impactados pela chegada do El Niño. As mudanças nas temperaturas e no ciclo de chuvas podem influenciar tanto positivamente quanto negativamente diversas culturas agrícolas em diferentes regiões do país. Além disso, a produção de ração para o gado, que depende das safras de milho e soja, também pode ser afetada, assim como a atividade pesqueira, que é sensível às variações na temperatura dos oceanos.

A professora Gleriani Ferreira, da Fundação Instituto de Administração (FIA) Business School, ressalta que se as previsões se confirmarem e o El Niño deste ano for um dos mais intensos das últimas décadas, os efeitos no setor serão diversos. Mudanças bruscas na temperatura e na quantidade de chuvas podem alterar o ritmo da produção agrícola e afetar diferentes setores da economia.

A quebra na produção de cana-de-açúcar, por exemplo, pode levar a um aumento nos preços dos combustíveis. Já impactos nas culturas de soja e milho podem se refletir na ração de gado, afetando potencialmente os preços da carne. Essas consequências podem ser sentidas não apenas no mercado interno, mas também na balança comercial, uma vez que outros países também serão impactados pelos efeitos climáticos do El Niño.

A dependência do Brasil na exportação de produtos agrícolas in natura e a importação de commodities como o trigo destacam a vulnerabilidade do país a eventuais quebras de safra. O aumento dos preços de alimentos e a redução da disponibilidade de certos produtos podem afetar tanto o mercado interno quanto as relações comerciais internacionais.

A influência do El Niño na agropecuária tem reflexos na alimentação dentro e fora de casa. Prevê-se um possível aumento de preços nos alimentos vendidos em supermercados, tanto nos que tiveram a produção diretamente afetada pelo fenômeno quanto naqueles que utilizam produtos impactados como matéria-prima. O setor de bares e restaurantes também antecipa impactos, uma vez que o aquecimento dos oceanos pode diminuir a disponibilidade de peixes de água gelada, como o atum, que é amplamente utilizado na culinária japonesa e asiática em geral.

Agropecuária 

Além disso, caso as preocupações com as safrasde cereais se concretizem, alimentos e bebidas que utilizam esses produtos como matéria-prima, como o pão francês e a cerveja, podem sofrer impactos. Empresários do setor preveem que ajustes no menu e a busca por produtos locais se tornem necessários para minimizar os efeitos nos custos, uma vez que repassar integralmente esses custos aos clientes pode ser desafiador.

Qualquer abalo significativo na produção da cana-de-açúcar pode trazer um aumento nos preços dos combustíveis, por exemplo. Já impactos nas culturas de soja e milho tendem a se refletir na ração de gado e podem acabar eventualmente alterando até os preços da carne”, acrescenta a professora da Fundação Instituto de Administração (FIA) Business School Gleriani Ferreira.

Vestuário, energia e medicamentos 

Outros setores da economia também serão afetados pelo El Niño. No segmento de vestuário, por exemplo, é esperado que a demanda por roupas de frio seja reduzida devido às temperaturas mais amenas e ao clima mais seco. Isso pode resultar em uma comercialização em liquidação das coleções de inverno. Os varejistas estão cada vez mais investindo em uma gestão de estoques eficiente para evitar excessos e atender às demandas que são influenciadas pelo clima.

Além disso, a redução dos reservatórios das hidrelétricas devido à menor incidência de chuvas em determinadas regiões pode afetar o setor elétrico. Outro aspecto a ser considerado é o impacto indireto do El Niño na saúde pública, o que pode afetar o setor farmacêutico. A Organização Mundial da Saúde (OMS) está se preparando para um aumento na transmissão de doenças virais, como dengue, Zika e chikungunya, associadas ao fenômeno El Niño.

Diante dessas perspectivas, torna-se essencial que os setores afetados pelo El Niño estejam preparados para enfrentar os desafios e adotem medidas de prevenção e adaptação. 

A OMS está se preparando para a muito alta probabilidade de que 2023 e 2024 sejam marcados pelo evento El Niño, que pode aumentar a transmissão de dengue e outras das chamadas arboviroses, como Zika e chikungunya”, disse o diretor-geral da agência, Tedros Adhanom Ghebreyesu na última quarta-feira (21).
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