Diário de São Paulo
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Taxista de 85 anos dirige 12 horas por dia para pagar tratamento da mulher

Um idoso de Santos, no litoral de São Paulo, comoveu a internet com uma história de amor e cuidados. Haroldo Pereira, de 85 anos, dirige um táxi cerca de 12

Taxista de 85 anos dirige 12 horas por dia para pagar tratamento da mulher
Taxista de 85 anos dirige 12 horas por dia para pagar tratamento da mulher

Redação Publicado em 15/08/2016, às 00h00 - Atualizado às 07h15


Seu Haroldo mobilizou milhares de pessoas ao ter história contada na web.
Idade pode fazer com que licença para dirigir não seja renovada em SP.

Um idoso de Santos, no litoral de São Paulo, comoveu a internet com uma história de amor e cuidados. Haroldo Pereira, de 85 anos, dirige um táxi cerca de 12 horas por dia para conseguir pagar uma casa de repouso e um tratamento médico para a mulher, com quem é casado há 53 anos. Taxista desde 1959, Pereira, porém, vive um dilema. Ele acredita que, a partir de 2017, não conseguirá renovar a licença para dirigir o táxi por causa da idade avançada.

“A minha aposentadoria é pequena, apenas um salário mínimo. Não consigo pagar as minhas contas e sustentar a minha esposa em uma casa abrigo apenas com isso. Ela está doente e necessita de vários cuidados. É muito pouco e, por isso, não quero parar de trabalhar”, conta.

Após ficar quase um mês sem conseguir trabalhar, Seu Costinha se viu atolado em dívidas  (Foto: Luna Oliva/G1)Após ficar quase um mês sem conseguir trabalhar,
Seu Costinha se viu atolado em dívidas (Foto:
Luna Oliva/G1)

Seu Costinha, como é mais conhecido na cidade, passou por várias reviravoltas na vida e provou a capacidade que tem de passar por todas elas.

O seu último desafio aconteceu há poucos meses, quando teve um problema de coluna e precisou ficar internado por 17 dias. Isso significa que ele ficou quase um mês sem visitar a sua esposa, dona Domingas Cardosina da Cruz e sem trabalhar.

Quando estava bem para voltar ao trabalho, o táxi estava no conserto e só voltou a rodar após uma semana. Durante todo esse período, Costinha deixou de ganhar dinheiro e todas as contas começaram a atrasar.

“Eu atrasei até o aluguel. Estava desesperado, acordava durante a noite assustado, com o coração batendo forte, pensava que não tinha mais o que fazer. Mas a solidariedade das pessoas mudou a minha vida. Falo isso com convicção”, conta.

Seu Costinha se refere a solidariedade que aconteceu por meio da internet. Um amigo do taxista fez uma campanha pedindo para que fizessem doação de alimentos, fraldas geriátricas (para dona Domingas, a esposa) e até mesmo dinheiro. Foi isso que ajudou o santista a conseguir sair da dificuldade.

Local onde o taxista recebeu doações, como fraldas geriátricas e alimentos  (Foto: Jaedson Reis/Arquivo Pessoal)Local onde o taxista recebeu doações (Foto: Jaedson Reis/Arquivo Pessoal)

A realidade do taxista não é diferente de muitos brasileiros, como ele mesmo conta: “da cama pro volante, do volante pra cama”. A situação fica mais difícil do que para a da maioria das pessoas devido à idade avançada que o deixa cansado e o fato de ele precisar sustentar a esposa, que tem problemas de saúde, em uma casa de abrigo de Santos.

“Moro sozinho, tenho medo de algo acontecer comigo. Meu portão é trancado com cadeado, se algo acontece, acho que vão descobrir depois de uma semana. É difícil. No começo sentia muita falta da minha mulher e acabei entrando em depressão”, afirma.

Há quase três anos, Seu Costinha enfrentou o maior desafio de sua vida: ver sua mulher ficando cada vez mais doente e debilitada: Dona Domingas sofreu dois derrames e duas convulsões. Após isso, ela ainda conseguiu ficar em casa, mas foi um período difícil, já que Costinha não podia ficar sem trabalhar e acabava precisando deixar a esposa sozinha. Por isso, uma assistente social resolveu que era necessário levá-la para um abrigo.

Com o dinheiro do táxi e a aposentadoria seu Costinha consegue cuidar de sua esposa  (Foto: Luna Oliva/G1)Com o dinheiro do táxi e a aposentadoria seu
Costinha consegue cuidar de sua esposa (Foto:
Luna Oliva/G1)

“O custo do abrigo é quase R$ 2 mil, mas conto com a ajuda da Prefeitura e, para manter a minha esposa sendo bem cuidada, desembolso cerca de R$ 600 por mês. Mesmo assim, para mim, é muito dinheiro”, lamenta.

Apesar de todos os problemas que vem enfrentando, sua fé e vontade de viver surpreendem todos que convivem com Seu Costinha. É o que conta Jaedson Reis, uma das pessoas que ajudaram na campanha de doação.

“Ele é conhecido e amado na cidade. Muitas pessoas ajudaram e só tinha comentários positivos na publicação. Sabemos como as pessoas podem ser maldosas na internet. Mas, no caso, eram só coisas bacanas, ele é muito querido, ninguém tem coragem de sujar a história dele”, conta.

Seu Costinha também tem uma grande história de amor com a cidade de Santos, onde já foi motorista de ônibus, carreta e táxi. Inclusive, foi dirigindo o ônibus que conheceu sua esposa. “Foi no ônibus 21. Até hoje minha ‘véia’ lembra disso. Ela não esquece”.

Sobre seus planos para o futuro, por incrível que pareça, Haroldo não quer parar de trabalhar, apenas diminuir as horas e a quantidade de trabalho. Seu maior sonho é conseguir trabalhar ‘por conta própria’, para ter um horário mais flexível.

“Trabalhar com o meu carro mesmo é um sonho. O que eu gostaria mesmo era de fazer transporte de mudanças. Aí fazia umas três ou quatro por semana e já tirava meu dinheirinho. Estou sossegado porque sei que Deus está sempre me ajudando”, conclui.

Fé e vontade de viver surpreendem todos que convivem com Seu Costinha  (Foto: Luna Oliva/G1)Fé e vontade de viver surpreendem todos que convivem com Seu Costinha (Foto: Luna Oliva/G1)
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