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Venezuela: a “Democracia” de araque que todos fingem não ver

Venezuela: a “Democracia” de araque que todos fingem não ver - Imagem: Divulgação
Venezuela: a “Democracia” de araque que todos fingem não ver - Imagem: Divulgação
Pablo Nobel

por Pablo Nobel

Publicado em 17/02/2024, às 08h06


O “Acordo de Barbados”, assinado em outubro de 2023, estipulando compromissos democráticos para a Venezuela fez surgir um sopro de esperança para os otimistas que acreditam num desenrolar positivo para este país, porém 2024 começa com uma sensação de “Déjà-vu” antidemocrático com a inabilitação política da principal candidata da oposição, María Corina Machado.

María venceu as primárias da oposição com bastante folga e um comparecimento de cerca de 8% da população capacitada a votar na Venezuela. As pessoas se mobilizaram para a votação, muitos enfrentaram horas de filas mesmo em locais com forte presença do governo e baixaram os aplicativos apesar de toda a censura. Isso demonstra que a população busca novos ares democráticos e que Maduro tem motivos para estar preocupado com as prometidas eleições de 2024.

O medo pode ser muitas vezes o inimigo daqueles que agem sob seu domínio. Será que Maduro envergará por um caminho mais linha dura?

O Presidente cassou os direitos políticos de María alegando corrupção e má conduta, assim como fez com principais opositores em anos anteriores. A comunidade internacional cruza os braços para muitas das atitudes de Maduro. O Brasil faz parte do grupo de países que apoiam o regime ditatorial venezuelano. Em recente declaração, Lula afirmou que a Venezuela é um país que possui mais eleições que o Brasil e que se alguém quiser derrotar Maduro que entre na disputa eleitoral. Inacreditável.

O mais recente “índice daDemocracia” da revista “The Economist” constatou que a Venezuela é um regime ditatorial. Demais estudos internacionais convergem na conclusão de que a qualidade da democracia e participação popular na Venezuela caiu drasticamente desde que Chávez entrou no poder. As últimas eleições presidenciais de 2018 obtiveram o pior índice de participação popular na história do país, sem falar que essas mesmas eleições foram consideradas injustas, não transparentes e sem competitividade.

No poder há mais de 10 anos, o ditador Maduro cada vez mais suprime os direitos democráticos do país, principalmente dos seus opositores, além de tornar os demais poderes, judiciário e legislativos, meros instrumentos para reafirmarem sua conduta autoritária e antidemocrática.

A oposição não tem vez na Venezuela, um cenário desencorajador para um país que se senta numa das maiores reservas de petróleo do mundo e poderia estar decolando economicamente. Porém, por muitos anos é assombrado por uma hiperinflação e índices de desenvolvimento social equiparados a países da África subsaariana. Na Venezuela não há livre escolha e nem livre mercado. Considerando-me um otimista, acredito que 2024 possa ser o ano para se começar a reverter esse cenário de terror. María não deve desistir e é de extrema importância que a comunidade internacional se mobilize para apoiá-la e garantir que a liberdade de escolha volte a fluir neste país.

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