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Pagando bem, que mal tem?

Imagem: Reprodução | Twitter
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Agenor Duque

por Agenor Duque

Publicado em 09/12/2022, às 08h50


Nas relações entre ocidente e oriente, especialmente aquele sob influência muçulmana, existe uma irreconciliável visão de mundo. Se alguém ouvir um oriental muçulmano referindo-se ao mundo ocidental, perceberá que este o descreve unanimemente como hipócrita. As razões são simples e poderíamos aderir a elas sem muita dificuldade. Essa visão critica os dois pesos e as duas medidas com que ocidente trata os países daquela região.

Uma das críticas realizadas é que aquilo que interessa ao ocidente não são os valores, os direitos humanos, a democracia ou algo semelhante. Se assim fosse, agiria coerentemente. Mas aquilo que realmente importa a eles é a geopolítica e os interesses econômicos e financeiros, seja por agenda interna ou por questões de comércio internacional. Valores, direitos humanos e democracia são quase sempre desculpas midiáticas para convencer as multidões e esconder os interesses geopolíticos e econômicos próprios das oligarquias ocidentais. 

Quando ouvimos a palavra ocidente, sempre devemos nos perguntar: Que ocidente? Pois existe basicamente uma guerra interna dentro deste lado do mundo desde o século XVIII: uma guerra entre aquele ocidente niilista, que não acredita em nada, hedonista, progressista, laicista nos moldes franceses, pluralista, secularista, globalista e belicista; com aquele ocidente de inspiração cristã.

 Como sabemos, o primeiro prevaleceu sobre o segundo, especialmente entre as oligarquias econômicas e intelectuais da Europae América do Norte. Seu propósito é dinheiro, poder e a desintegração de tudo o que resta de cristianismo: a última barreira para seu projeto de sociedade.

Compreender este breve pano de fundo nos fará perceber a dupla medida que ocidente usa para se relacionar com países onde direitos humanos e valores são pisoteados com aleivosia.

O ocidente niilista, que não acredita em mais nada exceto no momento presente, no “aqui e agora”, se assemelha a Roma próxima à sua decadência. Naquele tempo, um espião foi enviado à capital do Império e à sua volta foi perguntado: Qual é a fraqueza de Roma? Esperavam uma resposta do tipo: “Sua fraqueza está na quinta legião”. A resposta do espião foi surpreendente: “Roma está à venda para quem pagar mais por ela”. O mesmo pode se dizer de ocidente hoje: quem pagar mais leva, valores não importam.

As empresas estão lucrando fortunas no Qatar. A Globo, que tanto defende os gays, sequer menciona sobre os direitos destes no Qatar. O que já é de se esperar, pois o que importa para ela é nadar em dinheiro de publicidade. Idem com grandes conglomerados de mídia, patrocinadores etc. E os direitos humanos, onde ficam? A pergunta paira no ar, pois tudo está à venda, à disposição do melhor ofertante, como na Roma decadente. E o mesmo absurdo se dá no Qatar, na China, nos Saud de Arabia Saudita etc.

Por isso, cada vez que você, estimado leitor, ouve falar de cristãos perseguidos em países totalitários, gays oprimidos como em Qatar ou na Arábia Saudita; de Uigures em campos de concentração na China, de israelenses discriminados, de mulheres degradadas e humilhadas, tratadas como seres de segunda classe, não espere muita coisa desse ocidente decadente e niilista. Este sempre estará do lado de quem lhe der mais lucro e estará disposto a relevar até as maiores atrocidades se algo tiver para arrancar.

Você verá todo tipo de ataque a patriarcados neste lado do mundo de influência cristã e também escutará sobre “racismo estrutural”, entre outros tantos delírios progressistas, mas nunca escutará esses profetas mudos do progressismo dizer nada sobre dramas reais de mulheres, gays, cristãos, uigures e judeus, em outros lados do mundo. A questão é muito antiga, já denunciada pelo clássico profeta Miqueias, que dizia sobre os falsos profetas moralistas, semelhantes aos profetas do progressismo moderno, o seguinte: “Dizem paz para aqueles que lhes dão algo para morder, mas declaram guerra contra aqueles que não tem nada para dar”.

Ocidente niilista e suas instituições ditas democráticas, viram a cara para as denúncias dos milhares de imigrantes mortos na construção de estádios no Qatar, se fazem de desentendidos em conluio com a FIFAe as grandes ligas sob a desculpa de não “desrespeitar” a cultura catari com a faixa LGBTe outros costumes, mas não pensam duas vezes em multar o Real Madrid por não içar a mesma bandeira no estádio Bernabeu, na Espanha.

A desculpa para se omitir diante dessa realidade que violenta flagrantemente direitos humanos é que “devemos respeitar a cultura alheia”. Podemos concordar com isso, mas, se ousarmos aplicar esse mesmo princípio aos imigrantes muçulmanos que chegam à Europa, exigindo deles respeito à cultura europeia, imediatamente os multiculturalistas europeus progressistas nos tratarão como xenófobos, racistas, fascistas, nazistas e todo tipo de insulto. Mas eles podem...Podem porque são hipócritas.

Contudo, em tudo isto resta uma alerta: Quando o ocidente niilista e progressista age desta maneira, ignorando valores caros à sua consciência milenar em troca de umas poucas moedas de prata, só pode estar indicando que sua hora de decadência está mais próxima do que imaginamos. É um indicativo claro de que a consciência ocidental foi esvaziada e que sua cultura espiritual, com os valores que dão forma à nossa vida neste mundo, já não existe mais para sustentar aquilo que sem tais valores, se desintegrará.

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