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ONU com os dias contados?

ONU - Imagem: Reprodução | X (Twitter) - @AFPnews
ONU - Imagem: Reprodução | X (Twitter) - @AFPnews
Maria De Carli

por Maria De Carli

Publicado em 20/04/2024, às 06h00


O mundo vivencia uma crise da influência norte-americana e de todo o sistema multilateral internacional. Um sistema regido pela ordem liberal capitaneada por este mesmo país desde o final da 2a Guerra Mundial, e consolidado ao final da Guerra Fria. Faz sentido observar que organizações baseadas neste contexto irão passar por instabilidades e desequilíbrios, como é o que está acontecendo com a principal delas, a ONU - Organização das Nações Unidas. Mas será que essa crise é definitiva ou há uma possibilidade para a renovação?

A ONU foi fundada em 1945 com o objetivo de garantir a paz e a segurança mundial, e, ao longo de 7 décadas, funcionou relativamente bem. A organização foi uma espécie de sucessora da Liga das Nações que surgiu também num contexto pós-Guerra Mundial em 1919, e possuía objetivos similares aos da ONU. O projeto da Liga fracassou principalmente pela sua disposição interna que se baseava na regra da votação unânime para poder implementar suas ações. Como era de se esperar, nada pôde ser feito desta organização, afinal, como fazer para que nações que pensam diferente e possuem interesses diferentes possam convergir?

A estrutura das Nações Unidas se diferencia da Liga, não requer unanimidade para tomar iniciativas. Porém, no seu Conselho de Segurança, órgão que atua como poder executivo e delibera as principais ações em prol da paz, existe um mecanismo de poder de veto dentre os seus 5 membros permanentes - EUA, Rússia, Reino Unido, França e China, que impossibilita que a organização tome qualquer atitude efetiva para defender a segurança internacional.

Além dos fatores de falência internos, é preciso se atentar aos fatores de falência externos advindos do contexto global. Atualmente há uma crise sistêmica no mundo e toda crise exacerba a insegurança. Dados do Conflict Data Program comprovam que os conflitos armados começaram a subir substancialmente a partir de 2012. Em 2022, foram registrados 184 diferentes conflitos, incluindo a guerra na Ucrânia, com mais de 238 mil vítimas no total, contra uma média de 120 conflitos e 30 mil vítimas por ano entre 2001 e 2012.

O ano de 2024 não foge a regra no aumento da violência. Neste exato momento, o mundo presencia 2 guerras que possuem poder de escalada global imenso: a “Guerra da Ucrânia” e a “Guerra Israel vs Hamas”. E como fica a ONU diante disso?

A ONU já demonstrou a sua incapacidade para responder de forma apropriada a ambos esses conflitos, colocando em questão a própria eficiência da ordem multilateral. O multilateralismo é o cenário de institucionalização das formas de coordenação e cooperação de ações capazes de gerar estabilidade e previsibilidade nas relações entre as nações.

Em teoria isso é lindo, mas a realidade é bastante diferente, pois na prática os países se relacionam através de uma dinâmica de poder que busca potencializar seus interesses nacionais. Para que um cenário global de cooperação seja efetivo é preciso que haja uma autoridade central com o poder de aplicar normas de conduta e penalidades.

Além da inefetividade de atuação da ONU, sua presença também está em dissincronia no contexto de multipolarização econômica global promovido pela ascensão da China e outros atores globais que não compartilham do mesmo posicionamento liberal capitalista dos EUA. As Nações Unidas também têm sua legitimidade questionada com o crescimento transnacional de uma extrema direita que costuma adotar uma postura anti mainstream.

Os dias não estão fáceis para a ONU, porém, defendo que essa organização possui a plena capacidade de se reinventar e se reestruturar, se tornando mais eficiente para lidar com as atuais demandas globais. Assim como toda instituição governamental, a ONU precisa se desburocratizar e aumentar sua autonomia de atuação. Para tanto, cabe principalmente à China e aos EUA deixarem a retórica de lado e passaram a atuar concretamente e em sintonia, para que a ONU possa de fato e finalmente cumprir o seu papel no concerto das nações.

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