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Bullying mata!!!

Imagem: Reprodução | Twitter
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Adriana Galvão

por Adriana Galvão

Publicado em 01/11/2023, às 05h17


Entre comovida e indignada, a sociedade soube pela imprensa no dia 23 de outubro que um adolescente de 16 anos, portando um revólver calibre 38, matou uma aluna e feriu outras duas pessoas numa escola de Sapopemba, na Zona Leste paulistana, onde estudava. A arma pertencia ao pai dele. Nada reparará a dor dos familiares da vítima, mas há que se mensurar também a dor que era infligida diariamente ao menino que se tornou homicida.

É de bullying que se trata, uma prática ainda não combatida como deveria. Alunos e professores testemunharam que o adolescente em tela era homossexual e, por isso, alvo cotidiano de assédios humilhantes e até de violência física. Ele chegou a registrar um Boletim de Ocorrência em 24 de abril último por agressão física e ameaças sofridas. Sua vida escolar era permeada de constrangimentos e agressões.

A Lei 13.185 / 2016 classifica o bullying como intimidação sistemática, mediante violência física ou psicológica em atos de humilhação ou discriminação. No passado, era comum recordarmos decertas “brincadeiras” na infância e na adolescência, sem contudo terem se tornado homicidas. Tais comentários revelam uma visão simplista - ou mesmo primária - e desconhecimento dos contextos em que o bullying se insere, além de ignorância sobre seu próprio conceito.

Academicamente, os critérios para caracterização do bullying foram definidos pelo pesquisador Dan Olweus, da Universidade de Bergen (Suécia), em estudos realizados entre 1978 e 1993, quais sejam ações repetitivas contra a mesma pessoa por um período prolongado de tempo, desequilíbrio de poder (o que impede a defesa da vítima), ausência de motivos que justifiquem os ataques - aqui, claro está que preconceito não é motivo justificável.

Olweus constatou, e os tempos presentes confirmam, forte relação entre bullying na infância e na adolescência e problemas criminais na vida adulta. Estados Unidos, Reino Unido e Canadá têm obrigado escolas a instaurarem programas anti-bullying. A Noruega estimula a criação de comissões anti-bullying nas instituições de ensino. Nada parecido acontece no Brasil, ao menos não efetivamente.

Não bastassem casos como o de Sapopemba para nos alertar, há inúmeros estudos acadêmicos classificando o bullying como fenômeno social de grande relevância, a ser analisado a partir das particularidades de cada caso, levando-se em conta a subjetividade dos envolvidos e suas características sociais, culturais e econômicas. Não é tarefa simples.

As implicações familiares, é claro, são determinantes. O adolescente do mais recente caso paulistano, por exemplo, não tinha condições psicológicas de suportar a contumaz humilhação a que era submetido por causa de sua orientação sexual, e o revólver que o pai tinha em casa mostrou-se um instrumento de descarga.

Não é preciso ser profissional de psicologia para saber que a agressividade e o preconceito manifestados por meio de gestos, atitudes ou palavras, intencional e repetitivamente, atentam contra a integridade psíquica da pessoa alvejada, cujo dia a dia torna-se uma tormentosa jornada de medo, dor, angústia e sofrimento. A reação de cada um a tudo isso é imprevisível. Às vezes é mortal.

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