por Amilton Augusto
Publicado em 28/02/2023, às 07h33
O “bolsonarismo” que, segundo o Wikipédia, “é um fenômeno político de extrema-direita que eclodiu no Brasil coma ascensão da popularidade de Jair Bolsonaro, especialmente durante sua campanha na eleição presidencial no Brasil em 2018, que o elegeu presidente”, fortalecido e fruto da crise do petismo durante o governo Dilma Rousseff, precipitada e acelerada pela crise político-econômica de 2014”, decorrente também do “contexto da ascensão do populismo da dita Nova Direita internacional”.[1]¹
Como é cediço, o “bolsonarismo”, movimento que está diretamente atrelado a imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro, tem por características predominantes, conforme o próprio Wikipédia traz, “a retórica de defesa da família, do patriotismo, do conservadorismo, do autoritarismo, de elementos neofascistas, do anticomunismo, do negacionismo científico, do porte de armas, da rejeição aos direitos humanos e da aversão à esquerda política”.[2]²
O “bolsonarismo”, diante do contexto em que se apresenta no Brasil, em nada guarda relação com o que se entende por “Direita”, termo que, “no espectro político internacional, tem sido usado para se referir a diferentes posições políticas ao longo da história, tendo sido cunhado durante a Revolução Francesa (1789-1799), onde passou-se a diferenciar “política de direita” de “política de esquerda”, sendo a primeira formada como uma reação contra a segunda, formada por políticos que defendiam a hierarquia, a tradição e o clericalismo, tornando-se a expressão la droite (a direita) proeminente na França após a restauração da monarquia em 1815, voltada à descrever a ultramonarquia”.[3]³
Independente da origem da expressão, “o conceito de direita varia entre sociedades, épocas históricas, sistemas políticos e ideologias, mas, de acordo com o The Concise Oxford Dictionary of Politics, nas democracias liberais, a direita política se caracteriza basicamente pela oposição ao socialismo e à social-democracia, incluindo, por certo, nos partidos que assim se reconhecem, conservadores, democratas-cristãos, liberais e nacionalistas, diferente do que se entende por extrema-direta, onde encontramos nacionais-socialistas e fascistas”.[4]⁴
Diante de tais características e conceitos, facilmente verificável que o “bolsonarismo” não pode ser considerado como Direitapura e simples, sendo, por alguns especialistas categorizado como “neofascismo” e, ainda, “segundo um estudo feito por Cris Guimarães Cirino da Silva, que analisa a dimensão linguística da ideologia bolsonarista, afirma referido autor que o termo “bolsonarismo” tem sido amplamente utilizado para caracterizar práticas populistas que combinam ideias neoliberais e autoritárias”.[5]⁵
Ocorre que, difícil entender como no Brasil, em que há milhares de pessoas na linha da misérias, assim como o imperativo da classe média e classe média baixa, conceitos de direita ainda possam ecoar, especialmente diante da evidente necessidade da maioria expressiva da população de atendimentos básicos de saúde, educação, saneamento básico e assistência social, fatores que, diante da característica da Direita pura que defende o capitalismo em sua essência e, especialmente, conceitos de meritocracia e de livre mercado, demonstra um total desconhecimento da população acerca da tais conceitos e padrões, fazendo com que no Brasil tenhamos, em verdade, uma verdadeira mistura ideológica.
Guardadas as devidas proporções dos contextos técnicos e racionais, que passa ao largo do imaginário popular e de suas percepções e sentido, é fato que conceitos de “Direita” perduram na sociedade brasileira, porém muito diferente do que muitos imaginaram que fosse ocorrer, o “bolsonarismo” em si, ainda que haja divergência, é um conceito em extinção, cedendo espaço para práticas políticas muito mais coerentes com as necessidades reais da população brasileira e cedendo espaço para políticos, ainda que nascidos em berços bolsonaristas, mais condizentes com o verdadeiro sentido da política.
Digo isso, especialmente diante da forma como vem se portando e apresentando o atual Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que, embora apoiado pelo ex-Presidente Bolsonaro, demonstra, sem qualquer pudor, não levar consigo as características do seu antigo aliado político, e, mostrando cada vezes mais, estar alinhado com prefeitos democráticos e sociais, o que pode ser visto, com bastante clareza, diante dos últimos acontecimentos no Litoral Norte do Estado de São Paulo, quando este apareceu ao lado do Presidente Lula, numa demonstração de união dos Entes Federativos em torno da realização do bem comum: naquela ocasião, salvar vidas e amparar os desabrigados e desalojados.
Essa atuação do Governador Tarcísio de Freitas, que deixa de lado ideologias e conceitos, que, embora haja quem divirja, o levou ao cargo que ocupa, originários do “bolsonarismo”, demonstra a liderança de quem já entendeu que, na política, os extremos não sobrevivem, e o coloca como, mesmo diante do desagrado de boa parte dos seus apoiadores, principal opositor do ex-Presidente Bolsonaro nas eleições de 2026 (principalmente depois que este foi para os EUAe calou-se após a derrota eleitoral, o que se verifica, também, pelo descontentamento de alguns de seus principais aliados e apoiadores), trazendo, ainda, para muitos daqueles que não o apoiaram ou lhe fizeram oposição, esperança de que não haverá em São Paulo uma política ideológica que isole o Estado e exclua parte da população, ao contrário, ele vem demonstrando o interesse e muita vontade de unir as políticas públicas de atendimento à população e, ainda, de manter um laço permanente e uma importante porta de diálogo com o Governo Federal. Podemos afirmar, assim, que ainda que diante de uma “Direita”, do tradicional conceito de contraponto à “Esquerda”, como trazida pela Revolução Francesa, adota o atual Governador uma postura muito mais inteligente do que dos seus antecessores, uma postura de uma Direita flexível e preocupada com o social, o que mostra que, ao que parece, os anos em que fez parte dos governos anteriores ao governo Bolsonaro e o apadrinhamento de Gilberto Kassab lhe fizeram escola.
___________
¹ https://pt.wikipedia.org/wiki/Bolsonarismo
² https://pt.wikipedia.org/wiki/Bolsonarismo
³ https://pt.wikipedia.org/wiki/Direita_(pol%C3%ADtica)
⁴ https://pt.wikipedia.org/wiki/Direita_(pol%C3%ADtica)
⁵ https://pt.wikipedia.org/wiki/Bolsonarismo
[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Bolsonarismo
[2] https://pt.wikipedia.org/wiki/Bolsonarismo
[3] https://pt.wikipedia.org/wiki/Direita_(pol%C3%ADtica)
[4] https://pt.wikipedia.org/wiki/Direita_(pol%C3%ADtica)
[5] https://pt.wikipedia.org/wiki/Bolsonarismo
Amilton Augusto é advogado especialista em Direito Eleitoral e Administrativo. Vice-Presidente da Comissão de Relacionamento com a ALESP da OAB/SP (2019-2021). Membro julgador do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB/RJ (2019-2021). Membro fundador da ABRADEP - Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (2015). Membro fundador do Instituto Política Viva. Membro do Conselho Consultivo das Escolas SESI e SENAI - CIESP/FIESP (2019-2022). Coautor da obra coletiva Direito Eleitoral: Temas relevantes - org. Luiz Fux e outros (Juruá,2018). Autor da obra Guia Simplificado Eleições 2020 (CD.G, 2020). Coautor da obra Dicionário Simplificado de Direito Municipal e Eleitoral (Impetus, 2020). Autor da obra “Temas Contemporâneos de Direito Eleitoral e Político" (CD.G, 2022). Palestrante e consultor. Contato: https://linktr.ee/dr.amilton
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