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Páscoa cristã e o Pessach judaico: Qual a diferença?

Páscoa Judaica. - Imagem: Reprodução | Freepik
Páscoa Judaica. - Imagem: Reprodução | Freepik
Agenor Duque

por Agenor Duque

Publicado em 29/03/2024, às 07h30


A Páscoa celebrada pelos cristãos e o Pessach comemorado pelos judeus são riquíssimas, tanto histórica quanto espiritualmente. Por isso mesmo, torna-se relevante pontuar que ambas têm suas bases fundamentadas na fé e na história religiosa. A cristã, refere-se à celebração da ressurreição de Jesus Cristo e está relacionada à libertação da humanidade do jugo do pecado e da morte eterna. Já o Pessach trata-se de uma referência à libertação de Israel da escravidão imposta pelo Egito.

Em termos gerais, a Páscoa judaica e a cristã possuem nomenclatura e data comemorativa diferentes. “No original hebraico da Torá, a festa é chamada de ‘Pessach’ que significa ‘passagem’” em referência ao evento quando o anjo da morte passou por cima das casas que haviam sido “marcadas com o sangue do cordeiro”, recordou o hebraísta Getúlio Cidade em entrevista ao Guiame.

Já no aramaico, a palavra passou por uma alteração, tornando-se ‘Paskha’, que originou a palavra latina ‘Páscoa’, quando o catolicismo se tornou religião oficial por Roma.

O hebraísta afirma que há um lado pagão da Páscoa dentro do cristianismo, já que em países de fala inglesa e na Alemanha, o nome da festa deriva diretamente de uma crença pagã na deusa da primavera e da fertilidade, conhecida pelos anglo-saxões como ‘Eostre’, de ode provém ‘Easter’, que difere de ‘Passover’, quando se refere à Páscoa hebraica.

Eostre é conhecida em alemão como a deusa ‘Ostara’, de onde surgiu ‘Osterns’, a mesma divindade da fertilidade que existe desde antes do Império Romano e foi muito reverenciada na Babilônia, mencionada nos textos bíblicos como ‘Astarote’.

É desta representação de fertilidade que surge a conexão da Páscoa cristã com a figura do coelho, uma vez que este animal é reconhecidamente fértil. A associação do ovo de chocolate à Pascoa é relativamente recente, aproximadamente do fim do século XIX, embora o ovo, propriamente dito, tenha ligação antiga com o paganismo, pela crença de que a deusa Eostre teria descido do céu em um ovo gigante.

Em relação ao dia em que a festa é comemorada, a data do Pessach foi determinada por Deus na Torá (Veja Êxodo 12). Ali, Deus ordena que o povo sacrifique o cordeiro na tarde do dia 14 de Nisan. O Pessach envolve o dia da preparação (14) e outros sete dias de asmos, cuja festa (A Festa dos Pães Asmos) é celebrada do dia 15 ao dia 21, sendo o primeiro e o sétimo considerados dias de santa convocação, um feriado semelhante ao Shabat, explica Cidade.

Por ocasião do concílio de Niceia, no ano 325 d.C., a data de celebração da Igreja cristã passou a ser diferente da de Israel, o que agradou o Imperador que em carta aberta tornou pública sua simpatia pela ideia, pois considerava o povo judeu como responsável pela morte do Senhor Jesus. Daí, a celebração da Páscoa cristã ser no primeiro domingo após a lua cheia, pós equinócio de primavera no Hemisfério Norte, tornando-a uma festa móvel, distinto do que é descrito na Torá, diz o hebraísta, que conclui que a vontade do homem prevaleceu sobre a divina descrita nas Escrituras.

Getúlio menciona ainda que os cristãos desconhecem a importância da data estabelecida por Deus. Jesus morreu em 14 de Nisan e ressuscitou em 17, quando a Festa das Primícias era celebrada, o que tem a ver diretamente com o cuidado divino em que seu plano de salvação elaborado desde a fundação do mundo se cumprisse no período designado por ele para uma das Festas mais importantes ordenadas na Torá. Isso já seria motivo mais que suficiente para que a data original fosse mantida pela igreja gentílica para a Páscoa e não a data determinada segundo os desejos de um líder humano.

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