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Parece o Evangelho, mas não é

Papa Francisco. - Imagem: Divulgação / Vatican News
Papa Francisco. - Imagem: Divulgação / Vatican News
Agenor Duque

por Agenor Duque

Publicado em 29/12/2023, às 07h20


Se analisarmos sinceramente, concluiremos que o ser humano é um moralista nato. Basta olhar para a forma como a maioria das pessoas vive. O uso de máscaras se tornou normal, já que a sociedade só expõe aquilo que deseja que seja visto. A forma como os filhos são criados é outro sinal característico do moralismo, pois ensina a eles desde muito pequenos que ao se comportarem bem serão recompensados, mas ao se comportarem mal serão punidos, dando a entender, ainda que sem essa intenção, que a preocupação dos pais em relação a eles é com o comportamento delas apenas.

Assim, crianças tendem a entender rapidamente que ao se comportarem bem, terão como recompensa a aprovação de seus genitores, além de outros mimos, e, ao se comportarem mal, receberão um castigo merecido e serão privados de mimos. Ao longo do desenvolvimento, muitas outras figuras de autoridade, de professores a chefes, reforçarão essa ideia, num constante ciclo que reforça exacerbadamente o comportamento, como se uma mudança real fosse possível apenas por esforço próprio.

Desta forma, o moralismo apresenta-se como um dos falsos evangelhos com maior poder de sedução e engano. Esse evangelho diluído, falso, adulterado possui muitas faces, todas trazendo em essência uma mesma ideia, a saber, que ser cristão verdadeiro está reduzido a melhorias no comportamento.

Acreditar que ser cristão é simplesmente deixar de fazer isso ou aquilo, de agir desta e não daquela maneira, ir àquele lugar em vez de neste e coisas desse tipo,é dizer ao mundo que Deus deseja delas que deem um jeito na própria vida. E essa é a mensagem que muitas igrejas transmitem, mas que foge completamente ao evangelho de Cristo e, com isso, conduzem muitos à perdição, por as exporem a um evangelho que nem de longe se assemelha àquele que Cristo anunciou.

Colocar ênfase sobre as mudanças e melhorias no comportamento e não na graça salvadora e capacitação do Espírito Santo, gera nas pessoas um falso sentimento de que tudo está bem, enquanto ela se comporta bem, quando, na verdade, apenas a casca mudou, mas não a essência. O resultado disso é que se tem um indivíduo bem-criado e comportado, mas que caminha em direção à perdição eterna, pois Deus não vê como o ser humano vê; as pessoas veem o exterior, uma aparência que atende às expectativas morais relacionadas à ética pessoal e social; um comportamento exemplar com vistas a alcançar justiça, mas que, além de ser incapaz disso, muitas vezes, encobre um interior apodrecido e fétido tal qual um sepulcro caiado.

Deus não espera aperfeiçoamento moral da humanidade caída; pensar assim seria destruir o evangelho verdadeiro e anunciar um falso evangelho. O moralismo é dos insidiosos e falsos evangelhos o pior, pois oferece ao pecador a possibilidade de barganhar com Deus, numa dinâmica de se a pessoa se comportar bem e comprometer-se a se aperfeiçoar moralmente, terá satisfeito a justiça de Deus e receberá em troca o seu favor. Cumprir a lei jamais aperfeiçoará alguém, mas o ser justificado pela fé, salvo pela graça e redimido por Cristo; ter sua lei escrita no coração.

O moralismo reduz a Palavra de Deus a instruções para o comportamento humano, afastando-a do que ela, na verdade é: o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê. E só Cristo salva. Cristo já fez tudo o que era necessário para a salvação. A Cruz é o ponto de encontro de todos com o Cristo salvador, que recebe a todos e propõe uma caminhada de transformação de dentro para fora.

Voltemos às Escrituras, pois como afirma Carlos Bezerra Jr., “[...] a história nos mostra que todo moralista tem um fim trágico”!

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