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COLUNA

PT lança cartilha ensinando candidatos a dialogar com evangélicos e a falar sobre Deus com parcimônia

O vale-tudo da campanha eleitoral para abocanhar os eleitores cristãos

Luiz Inácio Lula da Silva. - Imagem: Divulgação / Ricardo Stuckert
Luiz Inácio Lula da Silva. - Imagem: Divulgação / Ricardo Stuckert
Agenor Duque

por Agenor Duque

Publicado em 16/08/2024, às 06h00


A Fundação Perseu Abramo, puxadinho do Partido dos Trabalhadores (PT), lançou recentemente uma cartilha, com 9 páginas, para orientar seus candidatos em como abordar o eleitorado evangélico, que representa uma parte significativa do eleitorado brasileiro. O documento, redigido na primeira pessoa do plural e repleto de textos bíblicos, sugere uma comunicação cuidadosa ao falar sobre temas religiosos, aconselhando os candidatos a evitarem exageros ao falar de Deus. No entanto, a iniciativa tem gerado críticas, especialmente entre os cristãos conservadores, que enxergam a medida como uma tentativa de conquistar a confiança dos evangélicos para fins políticos, sem um real comprometimento com os valores e princípios judaico-cristãos.

A cartilha, que faz parte da estratégia do PT para a próxima eleição, orienta os candidatos a dialogarem com o público evangélico sem se afastar da agenda do partido. A intenção é se aproximar desse segmento da população, que tem se distanciado do PT nos últimos anos, em grande parte devido à identificação com pautas conservadoras e alianças com partidos de direita. No entanto, para muitos cristãos conservadores, a cartilha é vista como uma ferramenta retórica, que busca manipular a religiosidade do eleitorado para fins eleitorais, sem um real alinhamento com suas crenças e valores. O texto menciona a participação dos evangélicos em “[...] vários momentos que marcaram o país, inclusive na fundação do partido” e completa afirmando a existência de evangélicos nos diversos núcleos do partido espalhados “na maioria dos estados” brasileiros e lembra ações em prol dos cristãos como a criação do Dia Nacional da Marcha para Jesus.

O PT, conhecido por suas posições progressistas em temas como direitos humanos, diversidade e igualdade, orienta seus candidatos a apresentarem essas pautas de forma que pareçam compatíveis com os valores cristãos. A cartilha sugere que os candidatos se posicionem como defensores da justiça social e do amor ao próximo, valores que ressoam com muitos princípios cristãos. Contudo, os cristãos conservadores apontam que essas propostas, muitas vezes, são conflitantes com os ensinamentos bíblicos sobre questões como aborto, família tradicional e liberdade religiosa.

A recomendação para que os candidatos evitem usar a fé de maneira oportunista é recebida com ceticismo por líderes evangélicos conservadores. Para eles, a verdadeira preocupação do PT não é estabelecer um diálogo sincero com os evangélicos, mas sim criar uma narrativa que conquiste a confiança desse eleitorado, essencial para qualquer partido que almeje o poder no Brasil. Segundo essa perspectiva, o PT estaria mais interessado em consolidar seu controle sobre as instituições de poder do que em respeitar ou promover os valores e princípios cristãos.

Um dos pontos centrais da cartilha é a orientação para que os candidatos participem de eventos religiosos e interajam com líderes e membros de igrejas evangélicas. A ideia é construir uma ponte de diálogo que possibilite ao PT entender melhor as preocupações e necessidades desse grupo. No entanto, os cristãos conservadores alertam para o risco de que essas interações sejam apenas superficiais, servindo mais como uma estratégia eleitoral do que como uma genuína abertura ao diálogo.

Ao abordar temas como a laicidade do Estado, a cartilha do PT reafirma o compromisso do partido com a separação entre religião e política, um princípio que, para muitos conservadores, não reflete o papel que a fé deve desempenhar na vida pública. Para esses críticos, o discurso do PT pode ser visto como uma tentativa de neutralizar a influência religiosa na política, em vez de reconhecer e valorizar a contribuição que os princípios cristãos podem oferecer à sociedade.

Em suma, a cartilha lançada pelo PT levanta muitas preocupações, já que muitos veem na iniciativa uma tentativa de manipular o eleitorado evangélico para fins eleitorais, sem um real compromisso com os valores e princípios que eles defendem. Para esses críticos, o verdadeiro objetivo do PT não é o diálogo ou a aproximação, mas sim a conquista do poder, utilizando a retórica religiosa como uma ferramenta estratégica para alcançar esse fim.

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