por Agenor Duque
Publicado em 24/10/2023, às 07h58
Nesta quarta-feira (18), depois de firmado um acordo com a Santa Sé, a Nicarágua enviou para Roma doze padres que viviam no país; a exceção foi o bispo Rolando Álvarez, que preferiu ser mantido preso a ser enviado para o exílio. Em fevereiro deste ano, Álvarez foi condenado a 26 anos e quatro meses de reclusão, embora alegue, em sua defesa, não haver cometido crime algum. Os sacerdotes, cuja maioria estava detida ou em prisão domiciliar, são alvos de diversas acusações e foram processados antes do deslocamento. Em comum, os líderes religiosos tinham o fato de serem críticos do governo de Daniel Ortega e sua vice, Rosario Murillo.
De acordo com informações do jornal El Confidencial, fonte ligada à Conferência Episcopal da Nicarágua, pelo menos oito dos condenados estavam detidos no seminário nacional de Nossa Senhora de Fátima, mas foram encaminhados para a mais temida unidade prisional do país. O centro de detenção, denominado El Chipote, é conhecido por ser um centro de tortura de presos políticos. Os detidos foram: Álvaro Toledo, Cristóbal Gadea, Eugenio Rodríguez Benavides, Iván Centeno, Julio Ricardo Norori, Osman Amador Guillén, Ramón Esteban Angulo Reyes e Yesner Cipriano Pineda.
A oposição afirma que dois dos padres estavam detidos em um centro penitenciário, acusados de “julgamentos manipulados” no ano de 2022, além de outros que eram mantidos em celas policiais ou em regime domiciliar em áreas da igreja. Comunicados oficiais não especificam com detalhes as acusações, mas os qualifica como “presos políticos, devido a críticas tecidas ao atual governo do país ou por haverem apoiado os protestos ocorridos em 2018.
Com o passar do tempo, em lugar de se encontrarem soluções pacíficas para a existência e permanência da igreja na Nicarágua, o que se vê é um acirramento da perseguição religiosa no país e uma piora considerável na qualidade do relacionamento entre a comunidade cristã católica e o governo Ortega. Após os protestos ocorridos em 2018, o quadro ficou ainda mais tenso, já que a leitura da base governista à época considerou o ato uma tentativa de golpe, com incentivo dos norte-americanos, da União Europeia, dentre outros países. Na ocasião, os protestos duraram cerca de três meses, tendo resultado em estradas bloqueadas, confrontos entres oposição e governo, o que terminou com 300 mortes, de acordo com comunicado da ONU.
Álvarez não foi o único a sofrer acusações. Além dele, Matagalpa, um bispo católico, também foi condenado, alegando-se proliferação de notícias inverídicas e desacato. Na terça-feira (17), o bispo recusou-se a acompanhar outros 222 opositores expulsos da Nicarágua; perdeu a nacionalidade e os direitos de cidadão, passando a ser considerado traidor do seu país.
Ortega já expulsou da Nicarágua outros religiosos cristãos, dentre eles um grupo de religiosas brasileiras; no total, 84 religiosos foram expulsos do país em apenas 5 anos, fora as expulsões não notificadas. O caso de maior repercussão foi o das Missionárias da Caridade, uma ordem fundada por Madre Teresa.
Apesar da clara campanha promovida pelo ex-guerrilheiro sandinista, Ortega, em perseguição à igreja católica no país sob seu governo e às ações extremas e violentas de que faz uso, o tirano defende-se, alegando que seu posicionamento visa a “garantir e defender a paz” na Nicarágua, mesmo que este cidadão sequer tenha ideia do que venha a ser, de fato, viver em paz.
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