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Martine e Kahena lembram ouro nas Olimpíadas do Rio: “Difícil ser melhor que isso”

As velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze viveram o cenário dos sonhos de qualquer atleta no dia 18 de agosto de 2016. Diante dos amigos e família, as

Olimpíadas
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Redação Publicado em 09/05/2021, às 00h00 - Atualizado às 16h47


No sexto episódio da série Minha Medalha, do Esporte Espetacular, as brasileiras relembram a conquista na categoria 49er FX no quintal de casa, em 2016

As velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze viveram o cenário dos sonhos de qualquer atleta no dia 18 de agosto de 2016. Diante dos amigos e família, as brasileiras tiveram o privilégio de conquistar a medalha de ouro olímpica no “quintal de casa”, a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.

No sexto episódio do “Minha Medalha”, série do Esporte Espetacular, Martine e Kahena relembram cada momento marcante da inédita categoria 49er FX, estreante na Rio 2016. Na última regata da classe, a dupla ousou na última manobra da regata contra as neozelandesas e assumiram a liderança na reta final, rumo ao ouro.

– Quando a gente terminou a olimpíada, a gente falou “cara, vai ser difícil ser melhor do que isso”. Porque a olimpíada em casa, com todos os nosso amigos lá, com todos os nossos familiares, todo mundo, teve uma sensação de gratidão de poder ter a oportunidade de vivenciar aquilo – relembrou Martine durante entrevista ao Esporte Espetacular.

Barco de Martine Grael Kahena Kunze é carregado após ouro — Foto: REUTERS

Barco de Martine Grael Kahena Kunze é carregado após ouro — Foto: REUTERS

Leia abaixo o depoimento de Martine Grael e Kahen a Kunze sobre o inédito ouro na vela feminina brasileira na da Rio 2016:

Kahena: A gente se conheceu na classe optimist, que é a classe em que a maioria das crianças começa desde pequena, e foi mesmo velejando. Foi entre regatas que a gente parava pra combinar alguma coisa entre um campeonato e outro. E a gente sempre teve um círculo de amizade muito forte.

Martine: A gente teve um campeonato e a gente foi pra classe 420 que é uma classe já de dupla, e a gente tinha um campeonato que é muito legal entre os jovensque chama “Mundial da Juventude”, que é de menores de 18 anos. Sempre tivemos isso na cabeça, que iríamos porque queríamos correr esse campeonato. Então eu acho que dois anos antes desse campeonato, a gente já tava decidida que a gente ia formar dupla.

Kahena: Esse elo entre a gente foi se conectando desde dois anos antes. A gente sempre tentava velejar um pouco, porque a gente sabia que tinha que se preparar pra esse campeonato, e eu acho que o que realmente nos uniu foi ter ido pra esse campeonato…

Martine: E eu acho que a gente sempre teve muita garra e com os mesmos objetivos de querer ganhar e fazer nosso melhor. E eu acho que isso que deu super certo. A entrada dessa classe 49er era uma oportunidade única de você pegar todo mundo que não sabia nada e ir evoluindo junto pra essa olimpíada. Então, basicamente, quem treinasse mais, quem se dedicasse mais, tinha maior chance. É um pouco diferente das outras classes que tem um conhecimento acumulado de anos. Então foi uma oportunidade incrível.

Kahena: E eu lembro que eu tava viajando, eu acho, entre as férias da faculdade e eu recebi o e-mail da Martine. Aí ela escreve “ah, como vê tá?” e não sei o que, e aí ela foi bem direta “você quer fazer uma campanha comigo?”. E aí claro, eu fiquei né, tipo, óbvio, sempre foi meu sonho fazer uma olimpíada. E em casa? Eu acho que poucos atletas tem essa oportunidade de em casa. Eu acho que foi essa uma coisa única e que não acontece sempre. Então tipo, eu falei “vamo e se for pra ser, vai ter que ser bem feito”. E aí a Martine foi em busca de um barco, foi bem difícil esse começo porque não tinha o barco aqui.

Martine Grael e Kahena Kunze  vela rio 2016 olimpíada — Foto: REUTERS/Benoit Tessier

Martine Grael e Kahena Kunze vela rio 2016 olimpíada — Foto: REUTERS/Benoit Tessier

Martine: No mundial, pra você ter uma ideia, a gente chegou a fazer 18 regatas, 19 regatas. Então é uma maratona quase no mundial. No mundial, a gente ainda corre com 50 barcos. É bem diferente da olimpíada. A olimpíada é um campeonato diferente. Por isso que nem sempre quem vai bem em todos os campeonatos necessariamente vai bem na olimpíada.

Kahena: E eu lembro que a gente chegou um pouquinho antes, e a gente ficou sentada na praia vendo as regatas, porque tinham outras regatas de medalhas de outras classes antes da nossa. E é sempre interessante observar porque você já vai pegando informação, já vai vendo como está a maré, como está o vento, que lado que está dando e favorecendo, e a gente já foi anotando e percebendo como estavam as condições. E eu acho que isso foi importante também. E antes, a gente já tava com o barco todo preparado e a gente chegou a ver o comecinho da regata dos meninos, que foi, sei lá, 20 minutos antes que a nossa. E a gente reparou assim que um lado tava um pouquinho mais favorecido, que eles ganhavam mais pra um lado, e isso ajudou nas tomadas de decisões.

Martine: A gente dividiu a regata por etapas. Primeiro, a gente queria fazer uma boa largada, depois, um bom contra-vento, foi um passo a passo, pra não colocar a carroça na frente dos bois.

Kahena: Eu acho que é também difícil ali quando você tem que ganhar ou chegar na frente de um adversário, já estipular uma “ah, vamo pra esse lado”. A gente tem que marcar as outras adversárias. E eu acho que a gente não montou em primeiro a primeira boia, a gente foi recuperando sempre, e a partir do momento que a gente montou uma das boias, a gente sempre recuperava um pouco pela esquerda…

Martine: E quando a gente montou uma boia pela esquerda, a dinamarquesa montou atrás da gente, bem mal assim. Aí a gente “cara, temos um medalha aqui garantida, vamos ficar aqui até a gente achar o melhor bordo pra voltar”.

Kahena: E a neozelandesa, ela optou por ir pelo lado da praia, que foi assim… a chave pra gente fala “a hora é agora”. Se você seguir, a gente não vai passar e a gente sempre tava recuperando pela esquerda e falou “não, quem sabe ela vai perder por ali”. Só que nesse momento na praia, todo mundo me falando depois, já tavam “putz”, porque nunca dá ali, “o que que elas tão fazendo ali?”. E a gente fez uma manobra bem assim arriscada, difícil, mas a gente treinou para aquilo. Hoje, eu olho pra essa manobra e falo “nossa, que bonita”

Martine Grael Kahena Kunze ouro rio 2016 pódio — Foto: Brian Snyder / Reuters

Martine Grael Kahena Kunze ouro rio 2016 pódio — Foto: Brian Snyder / Reuters

Kahena: Um dos momentos mais marcantes foi a linha de chegada, o momento que eles sobem nosso barco, que foi um momento assim que a gente tava ali em êxtase. Eu não sei nem descrever como foi, né? E depois a entrega de prêmio com todos ali, todos os amigos, torcida brasileira em massa cantando o hino. Aquilo pra mim foi assim de arrepiar. Eu fico até arrepiada só de escutar e ver aquelas imagens daquela praia.

Desde os jogos, eu deixei a medalha sempre exposta. Tem muita gente ainda querendo ver e tocar. Então eu acho que quem sabe mais pra frente eu enquadre, faça alguma coisa. Segurar e ver o peso é muito bom, é muito… Você vê que é a realidade.

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Fonte: Ge – Globo Esporte.

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