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Elize Matsunaga escreve ‘Piquenique no Inferno’ para contar à filha sua vida e como matou marido para se proteger

Após dez anos, Elize Matsunaga quer publicar o livro autobiográfico "Piquenique no Inferno", que escreveu à mão na prisão, para pedir perdão à filha, que está

Elize Matsunaga escreve ‘Piquenique no Inferno’ para contar à filha sua vida e como matou marido para se proteger
Elize Matsunaga escreve ‘Piquenique no Inferno’ para contar à filha sua vida e como matou marido para se proteger

Redação Publicado em 19/05/2022, às 00h00 - Atualizado às 07h28


Ela lembra violência sexual na adolescência e violência doméstica ao casar. Condenada por balear e esquartejar Marcos Matsunaga está impedida de ver filha desde 2012, quando baleou e esquartejou herdeiro da Yoki.

Após dez anos, Elize Matsunaga quer publicar o livro autobiográfico “Piquenique no Inferno”, que escreveu à mão na prisão, para pedir perdão à filha, que está impedida de ver desde 2012. E contar à garota que à época baleou, matou e esquartejou sozinha Marcos Matsunaga para se proteger das ofensas e agressões do marido.

A expectativa dela é de que a menina, atualmente com 11 anos, possa ler a obra um dia, quando estiver adulta, e conhecer a versão da mãe para o que aconteceu: Desde sua origem humilde até os relatos de ter sido vítima de violência sexual na adolescência e doméstica quando se casou. Por decisão da Justiça, a guarda da filha está com os avós paternos, que proíbem o contato da criança com a mãe (saiba mais abaixo).

O crime foi cometido em 19 de maio de 2012 no apartamento do casal, na Zona Oeste de São Paulo, e teve repercussão na imprensa por envolver uma bacharel de direito casada com um empresário herdeiro da indústrias de alimentos Yoki. Ele tinha 42 anos à época; ela, 30.

“Minha amada [filha], não sei quando você lerá essa carta ou se um dia isso irá acontecer. Sei o quão complicada é nossa história, mas o que eu escrevo aqui não se apagará tão fácil”, escreve Elize, atualmente com 40 anos, numa carta incluída na obra.

g1 teve acesso com exclusividade às 178 páginas do livro, falou com os advogados de Elize, mas não conversou com a bacharel. Na obra, escrita num caderno com o desenho de crianças na frente de uma escola, ela conta sua vida antes, durante e depois de ter sido presa e julgada pelo crime (veja vídeo acima com trechos dele).

Elize escreveu o livro num caderno escolar com uma capa que mostra três crianças brincando; Ao lado o título provisório da obra: 'Piquenique no Inferno' — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Elize escreveu o livro num caderno escolar com uma capa que mostra três crianças brincando; Ao lado o título provisório da obra: ‘Piquenique no Inferno’ — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Essa versão de Elize para o crime já era conhecida da polícia e da Justiça, mas é a primeira vez que ela mesma decide transformar o relato em um livro. As informações chegaram até a ser usadas por sua defesa no seu julgamento para sensibilizar os jurados. Numa das passagens, por exemplo, a bacharel conta ter sido estuprada pelo padrasto quando tinha 15 anos.

“Quando a penetrava, Elize sentia uma dor cortante com a sensação quente de seu sangue e a reação inútil de seu corpo. Cedeu sua virgindade à violência”, escreve .

Prisão até 2028

Vídeo mostra julgamento de Elize Matsunaga

Em 2016, Elize foi condenada pela Justiça a 19 anos, 11 meses e um dia de prisão em regime fechado por homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Mas em 2017, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) reduziu a pena dela para 16 anos e três meses.

Segundo a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), Elize conseguiu a progressão de regime e atualmente cumpre pena no semiaberto na penitenciária feminina de Tremembé, no interior paulista.

Elize conta no livro que foi estuprada pelo padrasto quando tinha 15 anos. Ela usou o nome fictício de Paulo para falar dele. Ao lado, a bacharel conta que atirou para se defender das agressões de Marcos — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Elize conta no livro que foi estuprada pelo padrasto quando tinha 15 anos. Ela usou o nome fictício de Paulo para falar dele. Ao lado, a bacharel conta que atirou para se defender das agressões de Marcos — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Por segurança, Elize optou por trabalhar dentro da prisão. Lá ela se dedica à costura, ganha seu salário e pode sair em todos os feriados, tendo de retornar depois ao presídio. A previsão da SAP é a de que ela seja solta em 20 de janeiro de 2028, quando termina sua condenação.

“E como o fim é sempre um novo começo, me atrevo a dizer que não termino minha vida na prisão”, escreve Elize no livro.

Cartas com pedidos de casamento

Elize conta no livro que recebeu propostas para se casar novamente. Os pretendentes faziam os convites por meio de cartas entregues a ela na prisão — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Elize conta no livro que recebeu propostas para se casar novamente. Os pretendentes faziam os convites por meio de cartas entregues a ela na prisão — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Enquanto continua presa, Elize conta no livro que recebe centenas de cartas de vários estados. São de pessoas que se sensibilizaram com sua história e de admiradores apaixonados. Entre as mais curiosas estão aquelas com pedidos de casamento (veja acima).

Em alguns trechos do livro, a bacharel usa a primeira pessoa para contar sua versão, noutros prefere ser narradora da sua própria história. E dá uma dica da escolha do título do livro: “Seria assim o inferno? Ou seria pior, como a visão dantesca?,” escreve Elize sobre estar presa, condenada e sem poder ver a filha.

Vídeo mostra Elize Matsunaga chorando enquando respondia às perguntas do juiz — Foto: Reprodução

Vídeo mostra Elize Matsunaga chorando enquando respondia às perguntas do juiz — Foto: Reprodução

E também conta por que escolheu usar a cor vermelha da caneta para contar nas páginas do caderno o que passou. “Só uma vida escrita em vermelho, sangue e vinho”, relata.

“Elize têm algumas opções de publicação e pretende assinar com a editora após ser colocada em liberdade”, diz ao g1 o advogado Luciano Santoro que, ao lado da esposa, Juliana Santoro, a defendem. A expectativa é de que futuramente o caderno possa virar uma obra oficial escrita pela própria autora e vendida em livrarias.

Antes do crime, Elize era aluna de Luciano, professor de direito na faculdade. Recentemente, ele entrou com um pedido na Justiça para que sua cliente faça um exame criminológico. O objetivo da defesa é saber se ela tem condições de receber o benefício da liberdade condicional e cumprir o restante da pena fora da prisão, em sua casa. O teste ainda não foi autorizado nem marcado.

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G1
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