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Do estrategista ao explosivo: as facetas de Abel no primeiro ano de histórias e títulos pelo Palmeiras

Há um ano, Abel Ferreira fazia seu primeiro jogo pelo Palmeiras. Anunciado como substituto do demitido Vanderlei Luxemburgo, o português venceu na estreia o

Do estrategista ao explosivo: as facetas de Abel no primeiro ano de histórias e títulos pelo Palmeiras
Do estrategista ao explosivo: as facetas de Abel no primeiro ano de histórias e títulos pelo Palmeiras

Redação Publicado em 05/11/2021, às 00h00 - Atualizado às 10h43


Técnico completa nesta sexta-feira um ano de sua estreia pelo Verdão

Há um ano, Abel Ferreira fazia seu primeiro jogo pelo Palmeiras. Anunciado como substituto do demitido Vanderlei Luxemburgo, o português venceu na estreia o Red Bull Bragantino por 1 a 0 no Allianz Parque, confirmando a classificação para as quartas de final da Copa do Brasil.

Iniciou-se, então, uma relação que já rendeu dois títulos – daquela Copa do Brasil e da Libertadores –, seis finais e a disputa pelo bi continental no próximo dia 27, contra o Flamengo, em Montevidéu.

Abel Ferreira durante o treino do Palmeiras — Foto: Cesar Greco\Palmeiras

Abel Ferreira durante o treino do Palmeiras — Foto: Cesar Greco\Palmeiras

Ao longo dos 98 jogos sob o comando de sua comissão técnica no Verdão, Abel apresentou diferentes estilos. Desde o estrategista, com planos bem sucedidos em momentos marcantes, como nas últimas duas Libertadores, passando pelas reclamações sobre calendário, arbitragem e um lado muito emotivo, também.

ge listou as principais facetas do comandante alviverde, que está concorrendo ao prêmio de melhor treinador do ano na IFFHS (Federação Internacional de História e Estatística do Futebol).

Estrategista

Abel Ferreira faz anotações antes de partida pelo Palmeiras — Foto: Divulgação

Abel Ferreira faz anotações antes de partida pelo Palmeiras — Foto: Divulgação

Abel já escalou o Palmeiras com linha de cinco na defesa, três atacantes, meio-campo com dois armadores, sem centroavante… enfim, o repertório é grande. Este é o exemplo da inquietude do português, que gosta de estudar muito e armar suas estratégias de acordo com o adversário.

Foi assim contra o River Plate, na Argentina, e diante do Atlético-MG nas semifinais das duas edições da Libertadores. Ao longo deste ano no clube, o técnico usou quase 50 jogadores e mudou constantemente a equipe considerada ideal.

– Para mim, futebol é vida, é renovação, inovação, não fazer sempre as mesmas coisas. Essa é minha equipe. Às vezes ganha, às vezes perde, às vezes falam que o treinador está pressionado, outras vezes que sou mágico, mas não sou. É minha forma de ser, estar e que gosto de ser assim na vida e no futebol. Não gosto de fazer sempre as mesmas coisas – disse Abel.

Crítico

Abel Ferreira reclama com Leandro Vuaden em São Paulo x Palmeiras — Foto: FERNANDO ROBERTO/UAI FOTO/ESTADÃO CONTEÚDO

Abel Ferreira reclama com Leandro Vuaden em São Paulo x Palmeiras — Foto: FERNANDO ROBERTO/UAI FOTO/ESTADÃO CONTEÚDO

O calendário do futebol brasileiro e a arbitragem daqui irritaram o treinador em diversos momentos. O fato de muitas vezes não ter 72 horas de descanso entre as partidas, os cartões recebidos e a falta de reforços já foram motivos para o português mostrar seu descontentamento em entrevistas.

– Não sei quem são os inteligentes que organizam (as competições), mas enquanto eu estiver aqui, como diria o Zagallo, vão ter que me engolir – esbravejou, ao falar da sequência de jogos do Palmeiras.

– Está na altura de dizer basta, chega. Assumi que ia fazer um esforço tremendo para melhorar meu comportamento. Vivo o futebol de forma intensa e apaixonada. (…) Não tenho guerra contra árbitros, e espero que os árbitros não tenham guerra contra mim. Mas sinto que está muito fácil expulsar o treinador do Palmeiras.

A diretoria e jogadores, também, já receberam cobranças públicas seja pela atuação no mercado ou por atuações abaixo do esperado. Embora algumas vezes ele suba o tom e seja preciso aparar arestas, a relação é de admiração tanto do clube quanto do português.

Vitorioso

Abel Ferreira, do Palmeiras, com a taça da Libertadores — Foto: Divulgação/Conmebol

Abel Ferreira, do Palmeiras, com a taça da Libertadores — Foto: Divulgação/Conmebol

Em 98 jogos sob o comando de Abel e seus auxiliares, o Palmeiras venceu 52 vezes, empatou 22 e perdeu 24. O português é o único treinador no clube a vencer dois títulos em uma mesma temporada no século, o segundo com mais vitórias em Libertadores (13) e um dos mais longevos desde 2001.

Já na sua chegada, ele avisou que sonhava grande ao trocar o PAOK, da Grécia, pelo Palmeiras.

– Atravessei o (oceano) Atlântico não foi para tirar férias ou conhecer a cidade. Vim para trabalhar, para ganhar, para ajudar a estrutura e os jogadores crescerem. É minha missão, principal objetivo –respondeu logo na sua apresentação.

– Ninguém, seja no Palmeiras ou onde for, quer vencer mais do que eu. Nem minhas filhas eu deixo vencer quando brincamos. Minha mulher fica chateada às vezes, porque não deixo minhas filhas ganharem. Quero ganhar todos os jogos, seja onde for, contra quem for.

Intenso

Abel reage à beira do campo durante a partida entre Internacional e Palmeiras — Foto: Cesar Greco

Abel reage à beira do campo durante a partida entre Internacional e Palmeiras — Foto: Cesar Greco

Quando Abel entende que passou do ponto, o treinador não tem vergonha de assumir e se justificar com sua forma intensa de viver o trabalho.

Ele já disse mais de uma vez que o Palmeiras tornou-se um “estilo de vida”. E assim recusou propostas como do Al-Rayann, do Catar, e do Fenerbahçe, da Turquia.

– O Palmeiras é o sonho de qualquer treinador. E eu digo isto porque em termos de estrutura, oferece todas as condições ao treinador para desempenhar seu trabalho. Sei que às vezes o treinador é chato, porque depende de resultados. (…) Tenho uma relação extraordinária com o presidente, relação de respeito, verdade e exigência. Ele me entende, sou um treinador jovem e tenho sangue sempre a ferver quando o jogo começa.

– Enquanto me sentir bem aqui, vou continuar. Já disse que quando for problema deixo de ser problema no outro dia. Quando sentir que sou um problema, assim como recusei essas ofertas para sair, saio pelos meus próprios pés. Mas como disse, o Palmeiras é um estilo de vida, me sinto bem no clube e há trabalho a fazer – reforçou.

Emotivo

Abel Ferreira se emocionou com homenagem na Academia do Palmeiras — Foto: Cesar Greco / Ag. Palmeiras

Abel Ferreira se emocionou com homenagem na Academia do Palmeiras — Foto: Cesar Greco / Ag. Palmeiras

Abel veio para o Brasil sem sua esposa e filhas, que permaneceram em Portugal e fizeram apenas visitas esporádicas em São Paulo. O técnico se emociona quando fala da saudade que sente delas e como sua carreira o afastou de seus familiares.

– Sou muito melhor treinador, mas sou pior tio, pior irmão, pior pai, pior marido, pior filho. Vocês não sabem o quanto chorei sozinho de saudade – contou, emocionado, após o título da Libertadores.

Para preencher parte deste vazio, Abel considera ter uma segunda família no Brasil, com os funcionários e jogadores do Palmeiras. Nessa semana, eles prestaram uma homenagem ao treinador, que até chorou ao receber uma camisa autografada por todos que trabalham na Academia de Futebol.

– Eu pensei que só tinha uma família e encontrei duas. É muito duro viver sozinho, muito duro. E vocês foram a minha família. Eu pareço aquele gajo que chuta, eu tenho coração, sou um coração mole. A única palavra que me ocorre na cabeça é obrigado a cada um de vocês. Eu não fazia ideia que esse clube era tão grande em valores, respeito, solidariedade, amizade, esforço. Para mim, títulos é isso.

Com contrato até o fim de 2022, Abel não demonstrou até agora intenção de deixar o clube ao fim desta temporada. Vice-líder do Brasileirão, mas a dez pontos do Atlético-MG, o técnico tem na Libertadores a grande chance de levantar mais uma taça e fortalecer ainda mais uma história que, embora curta, já se tornou marcante.

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Globo Esporte

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