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‘Balde de água fria’, diz morador da Vila Leopoldina sobre projeto de moradias populares emperrado na Câmara de SP

Imagem ‘Balde de água fria’, diz morador da Vila Leopoldina sobre projeto de moradias populares emperrado na Câmara de SP

Redação Publicado em 05/07/2022, às 00h00 - Atualizado às 07h48


Há 30 anos a dona de casa Vera Lúcia Ribeiro, de 42 anos, mora em um barraco de madeira na Favela do Nove, na Vila Leopoldina. No frio, precisa revesti-lo com cobertores. Na chuva, se preocupa com os alagamentos que levam sujeira e dejetos para dentro de sua casa. Há cerca de seis anos, ela foi apresentada a um projeto que prometia mudar sua vida, mas a longa espera vem trazendo incertezas não só para Vera, como para centenas de pessoas.

Em 2018, os moradores das favelas do Nove e da Linha, comunidades vizinhas ao Ceagesp, na Zona Oeste de São Paulo, foram cadastrados no Projeto de Intervenção Urbana (PIU) Vila Leopoldina, que prevê a revitalização da região e a construção de moradias populares.

O PIU é um instrumento relativamente novo na cidade – surgiu em 2014 com o último Plano Diretor. Ele permite que empresas privadas proponham planos urbanísticos à Prefeitura. A Votorantim, dona de mais da metade do terreno, elaborou o projeto e o apresentou à administração municipal. Em seguida, o documento foi transformado em proposta de Projeto de Lei (PL) pelo executivo municipal.

Antes de chegar à Câmara, o projeto passou por Consulta Pública e assembleias entre os moradores. Em 2018, o g1 acompanhou um desses encontros entre moradores da região, e mostrou que o projeto sofria resistência de condomínios de luxo da Vila Leopoldina. A reportagem também contou que uma parte do terreno estava contaminado. O trabalho de descontaminação pela Prefeitura de São Paulo começou apenas 4 anos depois, em março deste ano.

O PIU Vila Leopoldina chegou como Projeto de Lei à Câmara Municipal de São Paulo em 2019. Ele foi aprovado com ampla maioria em outubro de 2021, e desde então está emperrado na Câmara, sem previsão para ir a plenário para sua votação definitiva. (entenda mais abaixo).

A dona de casa Vera Lúcia Ribeiro, de 42 anos, mora há cerca de 30 anos na Favela do Nove, na Vila Leopoldina. Ela conta que as chuvas levam sujeira e dejetos para dentro de sua casa. — Foto: Fábio Tito/g1

A dona de casa Vera Lúcia Ribeiro, de 42 anos, mora há cerca de 30 anos na Favela do Nove, na Vila Leopoldina. Ela conta que as chuvas levam sujeira e dejetos para dentro de sua casa. — Foto: Fábio Tito/g1

Enquanto isso, moradores como a Vera continuam sofrendo com os alagamentos e suas consequências na comunidade. “É desesperador, cada chuva, cada temporal é uma expectativa ruim. Alaga tudo aqui, é cocô para todo lado, fezes, até os animais que passam aqui sofrem. Tem vezes que entra sujeira para dentro de casa, você limpa, limpa, mas volta”, disse a dona de casa.

Quando o projeto foi apresentado, com a expectativa de se mudar nos anos seguintes, alguns moradores chegaram a suspender as melhorias e reformas em suas casas. No entanto, com a espera, as modificações voltaram a acontecer, inclusive com a construção de novos andares em alguns barracos.

“Particularmente, a gente que está aqui dentro da comunidade nunca teve esse sonho de ter algo para a gente, algo além dessa favela. A gente nunca teve essa esperança. Aí quando vem e colocam uma sementinha lá… dura tanto tempo para acontecer que vai minando nossa esperança”, disse o autônomo Paulo Alberto, de 35 anos, morador da Favela do Nove.

Além da remoção das Favelas da Linha e do Nove e reassentamento em moradias populares na mesma região, o projeto prevê a construção de equipamentos públicos no térreo dessas edificações, como creches e Unidades Básicas de Saúde (UBSs).

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