Moradores em situação de pobreza do Grajaú, na Zona Sul de São Paulo, estão penando para garantir ao menos uma única refeição no dia, após uma unidade
Redação Publicado em 26/11/2021, às 00h00 - Atualizado às 20h36
Moradores em situação de pobreza do Grajaú, na Zona Sul de São Paulo, estão penando para garantir ao menos uma única refeição no dia, após uma unidade do restaurante Bom Prato no bairro ter fechado as portas, após queda do teto em fevereiro.
A nova unidade abriu em outro local, a quase cinco quilômetros de distância do antigo endereço. Desde então, um carro do governo de SP está levando marmitas para o pessoal que não tem como percorrer essa distância.
O problema é que a quantidade distribuída – 300 marmitas por dia – não tem dado conta da demanda com tanta gente precisando de refeição.
Por causa de escassez de marmitas, 10h da manhã a fila já está grande na Avenida Dona Belmira Marin, onde são distribuídas as marmitas. Faça sol ou faça chuva, há seis meses, o movimento é esse por lá.
“Tem momentos que a gente não tem outra opção. Se pensar em sol, chuva a gente não vai”, contou a aposentada Lídia Paz.
O carro aguardado das marmitas chega por volta das 10h30. R$ 1,00 na mão e as pessoas vão pegando os marmitex.
“Só pode pegar uma marmita. Aí tem que pegar várias vezes a fila para pegar três marmitas. To pegando pra mim e pras minhas filhas”, afirmou o morador em situação de rua José da Silva.
Trazer as refeições assim foi a opção desde que o restaurante Bom Prato do Grajaú parou de funcionar no endereço.
O prédio foi fechado em maio, porque estava com o forro e o telhado comprometidos. Precisava de uma reforma. Segundo os moradores, lá eram servidas cerca de 1.500 refeições todos os dias. Mas agora, eles só trazem 300 marmitas.
“Uma vez cheguei aqui e o carro já tinha ido embora. Aí só resta pegar o restinho da janta. Compra um pouquinho de ovo, faz aquele omelete e vai vivendo, né?”, declarou o desempregado Cristóvão Avelino Nery.
Ele contou que já ficou sem comer por 2 ou 3 dias por causa da falta de marmitas.
“Eu sou pai de oito filhos, moro com sete, e as vezes eu dependo do Bom Prato, né? Se vocês pegar as estatísticas, a planilha, vai te falar de quanto eles venderam aqui por dia. eles tiraram daqui, levaram pra outro lugar e tão dando 300. Isso aqui vai ficar até que dia? Daqui a uns dias vai sair?”, questiona o paisagista Diogo Rogério dos Santos.
O restaurante do Bom Prato do Grajaú foi transferido pra cinco quilômetros dali, pertinho do autódromo de Interlagos, em Cidade Dutra.
“Eu me senti, como posso dizer? Traído. Porque moro aqui na periferia e tiraram daqui e levaram pra Cidade Dutra, onde o poder aquisitivo do povo é melhor. Quem vai sair daqui? O cara não tem dinheiro pra pagar condução pra ir lá”, disse o aposentado Raimundo Rodrigues Ferreira.
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A unidade nova, maior, também tem recebido muita gente. boa parte são funcionários do comércio e de empresas do entorno. Mas não só eles.
“Tem moradores de rua também, pra não passarem fome. Ajuda bastante. E nos que moramos que casas mais humilde em questão de gás, água, luz, mantimentos, colocando no lápis são muito mais caros”, afirmou a autônoma Suelen Scorse da Silva.
Segundo Rita Damaso, coordenadora do Bom Prato, o governo paulista não encontrou outro imóvel no local com o tamanho semelhante ao do Grajaú e tenta negociar com o proprietário da antiga unidade para recuperar o imóvel.
“Nós estamos em tratativas com o proprietário. Não temos ainda um prazo para inicio, nem de término dessa reforma. Estamos acompanhando também [a questão das marmitas]”, disse ela.
“Hoje estamos atendendo uma média de 100 a 110 pessoas. O que ocorre é que elas pegam mais que uma marmita, e isso acaba com as 300 marmitas muito rapidamente, mas são as mesmas pessoas. A gente não tem averiguado uma demanda excedente dessas 300. Mas se a gente perceber a necessidade de um aumento, a secretaria fará. Não deixaremos ninguém sem atendimento”, completou.
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