Bárbara Silvestre: Sobrevivendo ao Desastre da Moral

Mais do que gostaríamos, nos deparamos comaquela famosa espécie de ser humano presa em suapessoal ilusão de superioridade: são os possuidoresdo manual do

Bárbara Silvestre: Sobrevivendo ao Desastre da Moral -

Redação Publicado em 12/07/2020, às 00h00 - Atualizado às 12h05

Sobrevivendo ao Desastre da Moral

Mais do que gostaríamos, nos deparamos comaquela famosa espécie de ser humano presa em suapessoal ilusão de superioridade: são os possuidoresdo manual do correto e bem agir, ditadores da conduta alheia, auto elegidos juízes do tribunal da hipocrisia; enfim, a ancestral linhagem dos Senhores da Moral. Da convivência com esse tipinho, muito bem denominado pela linguagem popular como “caga regras”, o imaginário comum e marginalizado passou a compreender a atitude moral como restritiva, conservadora e reativa. Ora, o senso comum desvirtua os mais variados conceitos de seus verdadeiros sentidos filosóficos, gerando o seguinte problema: muitas das vezes em que conversamos sobre uma coisa, empregamos um sentido oposto ao real significado daquela palavra, ignorando o seu princípio; adequando-a ao nosso bem querer; deturpando a hermenêutica. Assim, comumente associamos a moral à punição e privação caracteristicamente propagadas e consolidadas ao senso comum pela ancestral linhagem dos Senhores da Moral. Esta concepção da moral é uma inversão do verdadeiro sentido filosófico de tal conceito. Por isso leitor, preste muita atenção no que vou te contar: a moral é a liberdade para deliberar sobre o próprio comportamento através do uso da inteligência. Imagine a seguinte cena: você está caminhando na rua e encontra uma caixinha com o dizer “itens para a doação: pegue apenas o que precisa caso realmente precise” e você resolve olhar a caixinha. Lá você encontra um casaco novinho com a sua exata numeração. Casaco que você não precisa, mas quer. Na hora que você vai pegá-lo, o senhor da banca ao lado se aproxima e começa uma conversa, contando que este é um novo projeto dos moradores do bairro para ajudar quem vive nas ruas durante o inverno. Envergonhado por ter sido flagrado, você disfarça sua verdadeira intensão e se despede. Entenda, você só não pegou o casaco por vergonha e, constrangido por variáveis que você não controla,como o medo das consequências, o receio da punição ou o conhecimento de ser vigiado, você não pode ter agido na moral. Esta situação era de interesse da moral até o ponto em que você estava deliberando sobre pegar ou não o casaco mas, no momento em que você não toma posse do que queria apenas porque estava sendo observado, você age por medo da vergonha e ser medroso não é ser honesto. O medo não é virtude moral. Talvez, você esteja pensando que agiu adequadamente porque no final acabou por não tomar posse do casaco,mas, filosoficamente, agir adequadamente por receio das consequências é diferente de agir adequadamente por consciência da moral. Ao contrário do significado comumente aplicado à moral exposto no início deste artigo, para a filosofia a moral é uma atitude intrassubjetiva, ou seja, do Eu com o Eu e para o Eu. Filosoficamente, a moral é uma atividade do pensamento relacionada à pessoal reflexão sobre o certo e o errado da própria conduta. Agir na moral é pensar sobre como agir com você e sobre você porque é você mesmo quem vai agir: é ser juiz de si mesmo, avaliador de suas próprias condutas. Entretanto, educados em uma sociedade da vigilância, como pasto pastoreado por câmeras e membros ativos do tribunal dos juízes “caga regras” onde a absolvição está mais relacionada ao aparecer do que ao ser, a moral está fora de moda. A nossa sociedade decadente nos ensina que pouco importa a consciência moral: o valor de uma palavra se diluiu ao valor de um contrato assinado, nossa maléfica intenção se perdoou pela falsidade da benfazeja atitude e assim, seguimos nossas vidas ignorantes às virtudes morais, agindo como robôs programados ao mínimo necessário para a manutenção do bem comum, sem realmente nos importarmos com tal bem. Mas hoje leitor, arranco o Véu de Maya que encobre os olhos sociais e te desafio: aja na moral porque a moral é o restinho de liberdade que te sobrou para não agir bem por causa do medo e do olhar castrador, mas agir bem por causa do seu entendimento sobre conduta humana, dignidade, bem viver e conviver.

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