‘Queriam que meu pai morresse em casa’, diz filho de paciente que depõe nesta quinta na CPI da Prevent na Câmara de SP

“A sensação que a gente teve é de que eles queriam que o meu pai morresse em casa.” É assim que o advogado Tércio Felippe Mucedola Bamonte descreve os

‘Queriam que meu pai morresse em casa’, diz filho de paciente que depõe nesta quinta na CPI da Prevent na Câmara de SP -

Redação Publicado em 28/10/2021, às 00h00 - Atualizado às 07h24

“A sensação que a gente teve é de que eles queriam que o meu pai morresse em casa.” É assim que o advogado Tércio Felippe Mucedola Bamonte descreve os primeiros dias de atendimento recebido pelo pai, Tércio Felippe Bamonte, em unidades da rede Prevent Senior, em São Paulo, antes de perdê-lo para a Covid-19 em 25 de junho do ano passado.

O filho é um dos convocados para a sessão desta quinta-feira (28) da CPI da Câmara Municipal de São Paulo aberta para investigar denúncias contra a operadora de saúde. Ele questiona os procedimentos adotados durante o tratamento do pai desde o pronto-atendimento até a decisão de interná-lo na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e afirma que a empresa omitiu ao paciente e à família o primeiro resultado positivo para a doença.

A denúncia foi feita pela família ao Legislativo paulista após a abertura da comissão. Tércio afirma que conseguiu falar sobre o assunto depois de um ano da morte do pai e que somente após os primeiros depoimentos feitos sobre a Prevent Senior à CPI da Covid no Senado é que suspeitou que as falhas e as omissões dadas ao atendimento do pai poderiam não ser um erro, mas sim um protocolo a ser seguido.

Para o advogado, o pai foi feito de cobaia pelo plano de saúde. “Depois que eu fui ver o que tinha no coquetel, tinha até Tamiflu para gripe suína. Meu pai não tinha H1N1, ele tinha Covid. Então qual era o objetivo? Era fazê-lo de cobaia, era ver o resultado do que eles estavam prescrevendo a diversos pacientes que eles estavam tratando.”

A CPI da Prevent também vai ouvir outros dois familiares de vítimas da Covid que acusam a operadora de saúde de irregularidades, além de um paciente que sobreviveu e sua filha.

Tratamento em casa

Tércio pai e Tércio filho em um momento de comemoração em família — Foto: Arquivo pessoal

O pai, Tércio Felippe Bamonte, foi professor durante quase toda a vida. Após a aposentadoria, decidiu seguir os passos do filho e cursou Direito. Ele tinha 71 anos e ainda advogava quando começou a apresentar os sintomas do novo coronavírus, em maio de 2020.

O primeiro atendimento foi feito na unidade da Mooca, Zona Leste de São Paulo, e depois transferido para outro hospital da rede, em Santa Cecília, no Centro. “Naquele dia, ele chegou a ficar internado, foi direto para a UTI Covid porque a tomografia que foi feita apontou uma pneumonia, de 20% a 25% do pulmão comprometido. Ele ficou cinco dias na UTI. Depois, no dia em que ele foi para o quarto, ele mesmo me ligou e disse: ‘Filho, eu estou indo pro quarto e depois eles vão me dar alta’.”

Ainda a caminho do hospital, para buscar o pai, o advogado disse que também recebeu a ligação de um médico da Prevent Senior que comunicou a alta. “Ele disse: ‘Ele vai pro quarto e logo depois ele já vai ter alta’. E aí eu falei: ‘Mas e o exame de Covid?’ Porque a Prevent tem um aplicativo de celular onde saem todos os exames: exame de sangue, tomografia, sai tudo pelo aplicativo do celular. Eu abri o aplicativo de celular e não tinha nada lá. Não tinha nenhum exame de Covid. Aí ele me falou: ‘Não, o exame de Covid deu negativo, pode vir buscar’. Eu fui, entrei pro quarto, fiquei aguardando no quarto, e ele já veio. E fomos embora pra casa.”

No momento da alta, o advogado conta que recebeu da enfermagem uma série de medicamentos em ampolas, sem rótulos, que foram aplicados por um profissional da operadora em atendimento domiciliar por uma semana.

Segundo a família, depois disso – e ainda sem o diagnóstico de Covid, o pai teve uma piora muito forte. “A saúde dele foi de 80% – porque não estava 100% – para zero. A situação neurológica dele caiu absurdamente. Ele não conseguia mais digitar no celular, ele mal conseguia falar com a gente, e isso começou a preocupar. Porque se não é Covid, é o quê?”.

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G1

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