COLUNA

Os diferentes significados culturais dos gestos

- Imagem: Reprodução / Freepik

Reinaldo Polito Publicado em 25/08/2024, às 10h37

Os gestos, parte integrante do mundo da comunicação não verbal, possuem significados particulares em diversas culturas ao redor do mundo. Têm, por isso, uma amplitude a ser considerada. O que é um sinal comum e inofensivo em determinado país pode ser interpretado de forma completamente distinta em outro.

Até que ponto, entretanto, essas diferenças realmente impactam relações profissionais e pessoais em um mundo globalizado?

Vamos tentar nos colocar no lugar de um profissional de determinado país para entender melhor que reação poderíamos ter. Você deixaria, por exemplo, de realizar um negócio só porque o diretor de uma empresa norte-americana fez o sinal de "OK", encostando a ponta do polegar na ponta do dedo indicador, formando um círculo? Muito provavelmente não.

Verdade ou ficção?
Ou julgaria que dois membros do Politburo soviético são homossexuais porque trocaram beijos ao se encontrar? Também nesse caso não. A ideia de que gestos prejudicam contratos pode parecer exagerada, e muitos casos relatados em artigos se assemelham mais com histórias sensacionalistas do que realidades concretas.

É inegável, porém, que o significado dos gestos varia drasticamente entre culturas, e ignorar essas diferenças pode causar constrangimentos ou, no mínimo, mal-entendidos. Nas palavras do antropólogo Hall: A não ser que um homem entenda as indicações sutis implícitas na língua, no tom, nos gestos e na expressão, ele não apenas se equivocará, como também poderá ofender gravemente, sem saber nem por quê.

Diferentes sentidos
Vamos voltar ao gesto de "OK" como exemplo. Nos Estados Unidos e Brasil, ele é um sinal positivo, significando que está tudo bem. No entanto, em países como Turquia e Grécia, esse gesto é considerado um insulto, sendo associado a conotações vulgares ou homossexualidade. Além disso, na França, ele é usado para indicar "zero" ou "nada", e no Japão, está relacionado a dinheiro.

Outra diferença notável está no gesto de levantar o polegar. No Brasil, ele é amplamente aceito como um sinal de aprovação, indicando que está tudo certo. No entanto, em países como Turquia, Irã e Nigéria, esse gesto pode ser altamente ofensivo, equivalente ao gesto do dedo médio em muitas culturas ocidentais. Já na Alemanha e Japão, ele pode ser usado para indicar números, como "um" e "cinco", respectivamente.

Um exemplo curioso é o gesto de apertar a ponta da orelha. No Brasil, ele é um sinal de aprovação, enquanto na Índia é uma forma de se desculpar ou mostrar arrependimento. Já na Itália, o mesmo gesto pode indicar que a pessoa em questão é homossexual.

Os chifres e a figa
O gesto de fazer "chifres" com os dedos indicador e mínimo levantados também ilustra essas disparidades. No Brasil e na Itália, é usado para indicar que alguém está sendo traído (cornudo). Já nos EUA, especialmente no Texas, esse gesto é utilizado de outra maneira, como um sinal de apoio ao time de futebol americano.

Há ainda o exemplo da mão em forma de figa, que no Brasil é um símbolo de
boa sorte. Na Croácia, porém, representa algo sem valor, e na Turquia e na Grécia, pode ser um gesto obsceno.

Outra situação interessante. Ao viajar para a Bulgária ou para a Grécia, você pode se surpreender ao descobrir que o movimento de balançar a cabeça de um lado para o outro, sinalizando "não" na maioria dos países ocidentais, significa "sim" nessas regiões.

Vale o contexto
Apesar dessas diferenças, é improvável que um contrato seja rompido por causa de um gesto mal interpretado. A maioria das pessoas, principalmente em contextos globais, entende que o significado é cultural e, em geral, está disposta a relevar pequenos “deslizes".

Ainda que a maioria dos gestos não cause sérios problemas, conhecer suas variações em diferentes culturas pode evitar constrangimentos desnecessários.

O conjunto
O entendimento para uma comunicação eficaz entre culturas dependerá, por isso, de alguns fatores. Em primeiro lugar, ampliar nosso autoconhecimento a respeito de alguns de nossos atos inconscientes de comunicação. Geralmente temos uma atitude etnocêntrica, extremamente prejudicial. Segundo, procurar conhecer o padrão de comportamento em que um determinado estrangeiro se
coloca ao falar conosco.

Em outras palavras, estará na sensibilidade e na disposição de aprender sobre o outro. No fim das contas, os gestos fazem parte de um conjunto maior de informações que envolvem palavras, expressões faciais e o contexto geral.

Afinal, em um mundo globalizado, compreender as sutilezas culturais dos gestos pode ser a solução para fortalecer relações pessoais e profissionais, tornando-se um verdadeiro diferencial de comunicação.

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