Vítimas do Jacarezinho mandaram mensagens para a família antes de morrer: ‘Tô encurralado. Ora aí’

Parentes dos mortos da operação da Polícia Civil no Jacarezinho mostraram trocas de mensagens pelo WhatsApp que revelam como foram os últimos momentos de

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Redação Publicado em 08/05/2021, às 00h00 - Atualizado às 10h40

Troca pelo WhatsApp foi mostrada por parentes no IML na tarde desta sexta-feira (6). No final da tarde, parentes reclamaram da demora na liberação dos corpos e perita explicou todo o trâmite. MP e DH acompanham procedimentos.

Parentes dos mortos da operação da Polícia Civil no Jacarezinho mostraram trocas de mensagens pelo WhatsApp que revelam como foram os últimos momentos de alguns deles durante o tiroteio na manhã desta quinta-feira (6). A operação foi considerada a mais letal da história do RJ.

Na porta do Instituto Médico Legal, na Região Central do Rio, nesta sexta-feira (6), Rosiane Mendes, tia de John Jefferson Mendes Rufino da Silva, 30 anos, mostrava a conversa que ele teve com a com a irmã Ingrid Hellen.

No texto, ele diz que está na casa, encurralado e pede para ela orar por ele.

A irmã responde: “Não sai daí de jeito nenhum”, no texto enviado às 8h15 da manhã desta quinta.

Rosiane também diz que trocava mensagem com John, mas apagou por medo. A última que ele respondeu foi às 8h24. Depois, ela ainda insistiu mandando pontos e emojis, mas não recebeu mas nenhum retorno de John.

Operação e investigação

A operação deixou 28 mortos, um deles o policial civil André Leonardo de Mello Frias, 48 anos, que foi enterrado na tarde desta sexta, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap. Em entrevista no dia da operação, a polícia disse que os mortos eram todos criminosos.

No enterro do policial nesta sexta, o secretário de Polícia Civil do RJ, Alan Turnowski, disse que a inteligência da corporação confirmou que todos eram traficantes.

Também nesta sexta, a Procuradoria-Geral da República (PGR) informou ter pedido informações a autoridades do Rio de Janeiro sobre a operação policial.

De acordo com a PGR, o pedido é endereçado ao governador do estado, Cláudio Castro (PSC); ao procurador-geral de Justiça, Luciano Mattos; às polícias Civil e Militar; ao Tribunal de Justiça; e à Defensoria Pública. O prazo para envio das informações é de cinco dias úteis.

Encurralado

História parecida contou Anderson Araújo sobre o sobrinho Marlon. Ele disse que o rapaz ficou encurralado na casa onde vários corpos foram encontrados.

“Ele ligou para a minha irmã umas 8h20 falando que estava preso na casa, que não conseguia sair. Depois, umas 8h30, ele mandou uma mensagem com a voz bem baixinha dizendo:

“Mãe, ora por mim”, dizia a mensagem.

Para os parentes, as mensagens mostram o horário provável em que os familiares foram mortos e que eles estavam acuados com a intenção de se entregar.

“E daí se ele tinha envolvimento ou não? Tinha que pegar, levar e prender. Não matar. Mãe nenhuma pare traficante, não. Mãe, pare gente e mãe nenhuma merece isso”, disse uma das parentes.

Em mensagem, uma das vítimas fala que está encurralado — Foto: Reprodução

Reclamações sobre identificação

Um início de confusão se formou no IML por volta das 18h. Familiares dos mortos reclamavam de estar há mais de 12 horas no local e não ter conseguido fazer a identificação e liberação dos corpos.

” Eu estou aqui há mais de 12 horas, vi gente que chegou depois de mim ir embora e até agora nada?”, reclamava Rosiane

Um grupo cercou uma perita para cobrar explicações e ouviu que o procedimento se dá em várias etapas e que muitos corpos demoraram a chegar.

“Tudo está sendo feito minuciosamente. Tem a etapa de identificação, do scanner, se tiver projétil dentro, temos que tirar. Tem a fotografia , limpeza”, explicou a perita Maura Gonzaga.

Ela explicou ainda que peritos do IML foram chamados de folgas e de férias para ajudar no trabalho de identificação e disse que tudo está sendo acompanhado pelo MP e com interrogatórios da Delegacia de Homicídios.

Mulher diz que marido foi executado, mas polícia nega

Mais cedo, a mulher de um dos mortos no Jacarezinho disse que, ao ser localizado pela polícia, o marido, Rômulo Oliveira Lúcio, chegou a se entregar, mas ainda assim foi executado. A polícia negou.

Thaynara Paes, mulher de Rômulo Oliveira Lúcio, morto no Jacarezinho — Foto: Cristina Boeckel/G1 Rio

Thaynara Paes, de 22 anos, disse que o marido tinha 29 anos e estava em liberdade condicional. Segundo a polícia, Rômulo e mais dois mortos na operação foram denunciados pelo Ministério Público e eram procurados por tráfico de drogas.

“Os policiais entraram dentro da casa e ele se rendeu. Ele [o policial] falou ‘perdeu’. Ele já tinha se perdido. Só se rendeu. (…) Eles pegaram ele vivo e ele foi executado a facadas”.

Policiais civis durante operação na manhã desta quinta-feira (6) no Jacarezinho, no Rio de Janeiro — Foto: Ricardo Moraes/Reuters

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Fonte: G1 – Globo.

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