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Estuário em SP é um dos locais mais contaminados por microplásticos no mundo

A conclusão preocupante é de uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

Estuário em Santos é um dos lugares mais contaminados do mundo - Imagem: reprodução Revista Fapesp

Vitória Tedeschi Publicado em 11/07/2023, às 16h30

Um estudo realizado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revelou que o estuário de Santos, no litoral de São Paulo, é um dos locais mais contaminados por microplásticos do mundo atualmente, substância quase invisível a olho nu, mas com grande perigo.

O estuário, de acordo com o portal Boicos, é o local onde as águas do mar e dos rios se encontram e, inclusive, servem como berçário para muitas espécies de animais.

Como o local é fundamental para o sustento de uma ampla biodiversidade e para o desenvolvimento da humanidade sua contaminação é preocupante.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores avaliaram três áreas: a região da balsa Santos-Guarujá, a praia do Góes e a ilha das Palmas e compararam as amostras com dados internacionais, publicados anteriormente na revista científica Science of the Total Environment, sobre mais de cem estudos de 40 países, com amostras de ostras e mexilhões coletados nessas três regiões durante o mês de julho de 2021.

O ponto em que foi observado maior nível de contaminação foi a área da balsa. Nesse trecho, os animais avaliados apresentaram o pior estado nutricional e de saúde, com uma média que variou entre 12 e 16 partículas plásticas por grama de tecido.

Como citado na própria pesquisa, seu maior diferencial foi mostrar que tanto as ostras quanto os mexilhões funcionam como sentinelas da contaminação. A conclusão se baseia em experimentos feitos com duas espécies: a Crassostrea brasiliana, popularmente conhecida como ostra-de-pedra, e o Perna perna, ou mexilhão marrom.

Como isso afeta a população?

Após a divulgação da pesquisa, uma das principais preocupações pode ser com relação às consequências para a saúde do seres humanos e se ela pode ser afetada, especialmente, pelos moradores da região ou visitantes frequentes.

Considerando que os organismos encontrados no estuário têm altas concentrações de microplásticos e que as espécies que vivem no estuário assim como as próprias espécies avaliadas no estudo são consumidas como recurso alimentar é possível que as pessoas ao ingerirem organismos capturados, pescados no local possam estar ingerindo microplásticos", explica Ítalo Braga de Castro, professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (IMar/Unifesp), um dos pesquisadors do estudo, à CBN Santos.

O professor ainda cita as diversas pesquisas que apontam a presença dos microplásticos em diversos órgãos humanos - como o pulmão, sangue, placenta, baço, etc - e os sérios riscos dessa contaminação - câncer, disfunções hormonais e ovário policístico.

Apesar disso, Ítalo defende que a principal preocupação no momento é com relaão aos riscos ambientais da descoberta: "O risco mais sério agora é o ambiental, uma vez que o estuário e os organismos que lá vivem fornecem para os seres humanos muitos serviços ecossistêmicos que na medida que eles são impactados pela contaminação podem deixar de serem fornecidos causando prejuízos", explica ele.

Como reverter esse cenário?

A partir disso, o foco maior deve ser pensar em soluções para minimizar e reverter esse cenário problemático que já atinge o mundo todo.

Na maioria dos países do mundo o que tem sido feito é uma redução e uma substituição dos utensílios de plástico por materias que sejam ou duráveis ou que tenham uma maior degradação. Então, pensando em atitudes individuais, eu acho que é preciso uma mudança cultural e de comportamento visando reduzir o consumo diário de plástico", diz Ítalo Braga também ao mesmo portal.

Ele ainda cita que outra grande fonte de contaminação encontrada na pesquisa foram as fibras, pequenas partículas de microplástico que tem origem origem dos tecidos durante a lavagem de roupa. Como elas não são filtradas nas estações de esgoto, acabam chegando até o meio ambiente, o que não é um problema apenas de Santos ou do Brasil, mas do mundo todo.

Em suma, os microplásticos são uma problemática global que se origina de diversos setores - tanto do consumo individual (canudos de plástico, talhes e pratos descartáveis), quanto da indústria têxtil, etc - e, portanto, merece atenção tanto dos grandes líderes quanto da população para soluções reais.

O que são microplásticos?

Dentre as origens do microplástico, os plásticos de uso único se degradam até se tornarem partículas minúsculas do material / Imagem: reprodução Freepik

Os microplásticos são partículas minúsculas de plástico, quase invisíveis a olho nu, de até 5mm, que já foram encontrados no ar, na água, nos alimentos, nas fezes humanas, na placenta e no sangue humano e podem ser de origem: primária ou secundária.

Os de origem primária são os projetados para uso comercial, ou seja, produtos como cosméticos, microfibras de tecidos e redes de pesca. Já os de origem secundária resultam da quebra de itens plásticos maiores, como canudos e garrafas de água.

Saiba mais sobre a pesquisa:

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