DÓLAR

Com alta do dólar, preocupações com inflação voltam à pauta

A valorização do dólar reacende o temor da inflação brasileira e coloca pressão sobre a economia

Imagem ilustrativa - Imagem: Reprodução / Freepik

Sabrina Oliveira Publicado em 06/08/2024, às 08h30

Na última semana, o dólar americano registrou uma alta significativa, fechando a segunda-feira cotado a R$5,7412, após ultrapassar a marca de R$5,86 durante o pregão. Essa disparada de 18,31% desde o início de 2024 trouxe à tona uma série de preocupações econômicas, especialmente no que diz respeito à inflação no Brasil.

Essa alta expressiva do dólar está ligada a vários fatores, incluindo o temor de uma recessão nos Estados Unidos, um cenário fiscal brasileiro preocupante e a intensificação dos conflitos no Oriente Médio. Essas variáveis criam um ambiente de incerteza que afeta diretamente o valor da moeda americana.

Para os brasileiros, a valorização do dólar significa um impacto direto na economia. Produtos e insumos importados ficam mais caros, o que eleva os custos de produção e, consequentemente, os preços ao consumidor final. Setores como o de alimentos, combustíveis e tecnologia são os primeiros a sentir os efeitos dessa alta.

A criação de gado, por exemplo, se torna mais cara quando a ração, muitas vezes importada ou dependente de grãos cotados em dólar, encarece. Esse aumento nos custos se reflete no preço da carne bovina. Da mesma forma, a produção de pães e massas, que dependem do trigo importado, e a fabricação de combustíveis, que utiliza petróleo como matéria-prima, são diretamente impactados.

O Comitê de Política Monetária (Copom) já havia mencionado a piora dos riscos para a condução dos juros no país devido à valorização do dólar. Essa preocupação se reflete nas expectativas de inflação, que vêm aumentando. Segundo o boletim Focus, a estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2024 subiu para 4,12%, acima dos 3,75% previstos no final do primeiro trimestre.

A situação econômica dos Estados Unidos também contribui para a alta do dólar. Dados recentes mostraram uma desaceleração na criação de empregos, aumentando o temor de uma recessão. O relatório "payroll" revelou que foram criadas 114 mil vagas não agrícolas em julho, abaixo das expectativas, e a taxa de desemprego subiu para 4,3%. Essa perspectiva de desaquecimento econômico eleva a busca por investimentos mais seguros, como os títulos de dívida americana, fortalecendo ainda mais o dólar.

Além disso, o conflito no Oriente Médio continua a ser uma fonte de risco geopolítico. A possibilidade de uma escalada nos conflitos entre Irã e Israel poderia impactar significativamente os preços do petróleo, uma commodity crucial para diversas cadeias produtivas. Em tempos de incerteza, o dólar se torna um refúgio seguro para investidores, aumentando ainda mais sua valorização.

No cenário interno, a situação fiscal do Brasil permanece uma preocupação constante. A capacidade do governo federal de controlar as contas públicas é vista com ceticismo pelos mercados, que esperam medidas mais incisivas tanto no controle das receitas quanto das despesas. O recente congelamento de R$15 bilhões no Orçamento de 2024, anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é um passo na direção certa, mas ainda insuficiente para eliminar o déficit previsto.

Os consumidores brasileiros também sentem o impacto dessa alta do dólar. A inflação nos alimentos é uma das principais pressões, e estratégias como priorizar compras em atacarejos, estocar produtos não perecíveis e escolher datas específicas para realizar as compras podem ajudar a mitigar esses efeitos.

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