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Afetada pela pandemia, 34ª Bienal de São Paulo começa neste sábado e discute qual é a ‘voz’ da arte em tempos sombrios

A 34ª Bienal de São Paulo, que abre as portas ao público neste sábado (4), vai discutir neste ano a importância da produção artística em tempos sombrios. O

SAO PAULO
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Redação Publicado em 04/09/2021, às 00h00 - Atualizado às 08h14


A 34ª Bienal de São Paulo, que abre as portas ao público neste sábado (4), vai discutir neste ano a importância da produção artística em tempos sombrios. O tema escolhido para a edição – “Faz escuro mas eu canto”, um verso do poeta amazonense Thiago de Mello escrito em 1965 – já denuncia a provocação feita pelos curadores da bienal.

“Quais são as obras importantes de serem trazidas a público em um momento escuro? Porque, nesses momentos, a arte e a cultura têm um papel ainda mais fundamental”, afirma a curadora convidada Carla Zaccagnini.

Obras de arte em exposição na 34ª Bienal de São Paulo, intitulada "Faz escuro mas eu canto" . realizada no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque do Ibirapuera, na manhã desta quinta, 02 de Agosto. — Foto: VAN CAMPOS/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Obras de arte em exposição na 34ª Bienal de São Paulo, intitulada “Faz escuro mas eu canto” . realizada no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque do Ibirapuera, na manhã desta quinta, 02 de Agosto. — Foto: VAN CAMPOS/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

A pandemia de Covid-19 é apenas um dos aspectos sombrios aos quais os curadores fazem referência. O tema “Faz escuro mas eu canto” fora escolhido por eles ainda em 2019, já que a Bienal deveria ocorrer em setembro de 2020.

Autor do verso que dá nome à mostra, o poeta Thiago de Mello foi preso e exilado durante a ditadura militar brasileira. Sua obra “Faz escuro, mas eu canto porque a manhã vai chegar”, de 1965, reflete o contexto autoritário e demonstra uma clara oposição ao regime militar, segundo pesquisadores do projeto Memórias da Ditadura, vinculado ao Instituto Vladimir Herzog.

“Quando nós começamos a trabalhar nesta mostra, entre 2018 e 2019, nós já prevíamos que essa bienal aconteceria num momento conflituoso. E foi pensando nisso que nós escolhemos o título da bienal”, diz Paulo Miyada, curador adjunto da exposição.

“Mas não podíamos prever que essa escuridão seria tão literal de 2019 pra cá”, completa Paulo Miyada.

“Esse mesmo verso ganha, sucessivamente, sentidos de protesto, de resistência, de luta, e de esperança. Então, pra nós, retomar esse verso hoje é uma forma de lembrar que uma obra pode continuar transformando seus sentidos também”, completa.

Exposição 'Faz escuro mas eu canto' da 34ª Bienal de São Paulo no Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera — Foto: Patrícia Figueiredo/G1 SP

Exposição ‘Faz escuro mas eu canto’ da 34ª Bienal de São Paulo no Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera — Foto: Patrícia Figueiredo/G1 SP

Para o curador-geral do evento, Jacopo Crivelli Visconti, a oportunidade de discussão deste tema na Bienal de São Paulo é única por conta da diversidade do seu público. Historicamente, o evento sempre foi gratuito, enquanto mostras similares em outros países do mundo são, tradicionalmente, pagas.

“A bienal de São Paulo é única exatamente pela diversidade de públicos que ela consegue convocar. E a gente quer que cada visitante entenda as obras da sua maneira, mas também fazer sugestões e deixar que cada visitante se sinta autorizado a discordar delas, a fazer suas próprias leituras”, diz Visconti.

Obras de arte em exposição na 34ª Bienal de São Paulo, intitulada "Faz escuro mas eu canto" . realizada no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque do Ibirapuera. — Foto: VAN CAMPOS/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Obras de arte em exposição na 34ª Bienal de São Paulo, intitulada “Faz escuro mas eu canto” . realizada no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque do Ibirapuera. — Foto: VAN CAMPOS/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

‘Enunciados’ e Museu Nacional

Além das obras de arte, a Bienal exibe ainda 14 “enunciados”, instalações que contam histórias com a ajuda de objetos diversos. Cada um deles é acompanhado de uma carta, que explica a relação entre as peças e convida os visitantes a conectá-los de diversas maneiras.

“Os enunciados são pontos de entrada sutis para algumas das estruturas curatoriais e narrativas que o público encontrará no espaço expositivo”, explica Elvira Dyangani Ose, editora convidada em colaboração com o museu The Showroom, em um trecho do catálogo da exposição.

O primeiro desses enunciados é composto por três objetos pertencentes ao acervo do Museu Nacional, entre eles o meteorito Santa Luzia, o segundo maior objeto espacial conhecido no Brasil, que sobreviveu ileso ao incêndio no museu em setembro de 2018.

Meteorito Santa Luzia, o segundo maior objeto espacial conhecido no Brasil, integrante do acervo do Museu Nacional e atualmente exposto na 34ª Bienal de São Paulo — Foto: Patrícia Figueiredo/G1 SP

Meteorito Santa Luzia, o segundo maior objeto espacial conhecido no Brasil, integrante do acervo do Museu Nacional e atualmente exposto na 34ª Bienal de São Paulo — Foto: Patrícia Figueiredo/G1 SP

Outro objeto incluído neste enunciado é uma pedra que, com o calor do incêndio, se transformou de ametista em citrino, dois tipos de quartzo de cores diferentes. A rocha é apresentada como símbolo de uma dolorida transformação.

“Trata-se de um processo demorado, o que atesta que a temperatura no museu deve ter ficado ao redor dos 450 °C por várias horas. Ao absorver indelevelmente o calor, a pedra tornou-se um indício, e sua cor, uma testemunha do que aconteceu. Transformou-se, mas é a mesma pedra. Continua sendo a mesma pedra porque soube transformar-se”, explicam os curadores no catálogo.

O terceiro objeto do enunciado em homenagem ao Museu Nacional não estava exposto no local que pegou fogo, mas foi doado por Kaimote Kamayurá, da aldeia Karajá de Hawaló, na Ilha do Bananal, Tocantins, para ajudar na reconstituição do acervo da instituição.

Trata-se de uma boneca ritxòkò, que, simbolicamente, substituiria uma boneca do acervo do Museu Nacional e que foi perdida no incêndio.

“Com esse gesto, Kaimote Kamayurá atua como representante de um povo originário que decide contribuir ativamente para a preservação da sua cultura e para a reconstrução do acervo do Museu Nacional”, dizem os curadores do museu na carta do enunciado.

“Começar de novo pode ser também uma oportunidade de reiterar as parcelas dos pactos que fortalecem as partes envolvidas, criticando o que subjuga o saber de um povo à violência exploratória de outro”, completa a carta.

Visitas à Bienal

As visitas à 34ª Bienal de São Paulo não precisam ser agendadas previamente, mas é obrigatório o uso de máscaras e a apresentação de um comprovante de vacinação contra Covid-19, com pelo menos uma dose, para a entrada no pavilhão. O “passaporte da vacina” poderá ser apresentado por aplicativo de celular, chamado E-saúde, ou em formato físico.

Obras de arte em exposição na 34ª Bienal de São Paulo, intitulada "Faz escuro mas eu canto" . realizada no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque do Ibirapuera. — Foto: VAN CAMPOS/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Obras de arte em exposição na 34ª Bienal de São Paulo, intitulada “Faz escuro mas eu canto” . realizada no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque do Ibirapuera. — Foto: VAN CAMPOS/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

O público pode optar por visitas livres ou participar de visitas mediadas, que ocorrem sem agendamento e em horários fixos, além de visitas temáticas, mediadas por profissionais de diferentes áreas. Os horários de cada tipo de mediação podem ser conferidos na agenda oficial do evento. Há ainda visitas em inglês, em espanhol, com interpretação em Libras ou específicas para crianças.

Para atender o público da mostra, o pavilhão da Bienal foi equipado com dois restaurantes temporários, um na área externa do térreo e outro no segundo andar do edifício. Há ainda o café oficial da Bienal, que foi decorado com uma coleção completa dos cartazes das 33 edições da Bienal de São Paulo. Também será possível emprestar cangas no local para fazer piquenique no parque.

Entrada da 34ª Bienal de São Paulo, Faz escuro mas eu canto, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo — Foto: Patrícia Figueiredo/G1 SP

Entrada da 34ª Bienal de São Paulo, Faz escuro mas eu canto, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo — Foto: Patrícia Figueiredo/G1 SP

34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto

  • Datas: De 4 de setembro a 5 de dezembro de 2021;
  • Horários: Terça, quarta, sexta e domingo, 10h – 19h (última entrada às 18h30); quinta e sábado, 10h – 21h (última entrada às 20h30);
  • Entrada gratuita;
  • Acesso mediante apresentação de comprovante de vacinação contra Covid-19 (carteirinha de vacinação impressa ou QR Code, também disponível nos aplicativos ConecteSUS, E-Saúde e Poupatempo);
  • Endereço: Av. Pedro Álvares Cabral, s.n. Parque Ibirapuera, Portão 3, São Paulo, SP.
Obras da 34a Bienal de São Paulo, com o tema 'Faz escuro mas eu canto', no Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera — Foto: Patrícia Figueiredo/G1 SP

Obras da 34a Bienal de São Paulo, com o tema ‘Faz escuro mas eu canto’, no Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera — Foto: Patrícia Figueiredo/G1 SP

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Fontes: G1 – Globo.

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