O Corinthians acaba de eleger um novo presidente. Duílio Monteiro Alves, apoiado por Andrés Sanchez, assume um clube em condição delicada. Futebol contestado,
Redação Publicado em 11/12/2020, às 00h00 - Atualizado às 12h02
O Corinthians acaba de eleger um novo presidente. Duílio Monteiro Alves, apoiado por Andrés Sanchez, assume um clube em condição delicada. Futebol contestado, mudanças na diretoria, finalização de acordos para viabilizar o pagamento do estádio.
O maior desafio do cartola, no entanto, tende a ser outro: a equação das dívidas acumuladas pelo antecessor em sua segunda passagem na presidência. Em que se pese o alto potencial de arrecadação, também são altas as pendências a resolver já no curto prazo.
O ge prossegue com a série sobre as finanças dos clubes de futebol, desta vez baseado nos balancetes sobre o terceiro trimestre. Ouça também o episódio do podcast Dinheiro em Jogo sobre a situação alvinegra, com a participação do gerente financeiro Roberto Gavioli.
Carrossel Corinthians Finanças — Foto: GloboEsporte.com
Em nove meses, de janeiro a setembro, o Corinthians contabilizou R$ 416 milhões em faturamento. Muito ou pouco? Difícil fazer qualquer comparação com o passado alvinegro. A diretoria retomou a prática de publicar balancetes em junho deste ano. Não há dados sobre 2019.
O balancete publicado traz a comparação de números de setembro com os de junho de 2020. Não há muita serventia. Nesse tipo de análise, o ideal é que sejam comparados sempre os mesmos períodos de temporadas diferentes para notar se há avanço ou retrocesso.
Em R$ milhões | set/19 | set/20 | Variação |
Televisão | Não disponível | 130 | |
Marketing e comecial | Não disponível | 68 | |
Bilheterias e estádio | Não disponível | 7 | |
Associados | Não disponível | 22 | |
Atletas | Não disponível | 186 | |
Outros | Não disponível | 3 | |
Receitas | Não disponível | 416 |
A saída para que os números façam algum sentido, então, está no paralelo com o principal adversário no futebol brasileiro: o Flamengo. Contra quem os paulistas pretendem competir na bola e na grana. No mesmo período, o clube carioca teve arrecadação de R$ 510 milhões.
O Corinthians está abaixo em todas as receitas. Na mais alta delas – as transferências de atletas, que vêm salvando a temporada –, o desempenho ficou aquém mesmo com a venda de Pedrinho.
Nas receitas com direitos de transmissão, existe um asterisco. Dirigentes divergiram na maneira de contabilizar as receitas. Enquanto o Flamengo registrou corretamente de acordo com a realização do Campeonato Brasileiro, atrasado pela pandemia do coronavírus, o Corinthians seguiu o recebimento das parcelas por parte da Globo – o “fluxo de caixa”.
O que a divergência significa na prática? Os valores não são comparáveis, pois seguem critérios contábeis diferentes. No caso do Corinthians, as receitas seriam menores do que foram registradas no balancete pelo departamento financeiro, e o deficit (prejuízo) seria maior.
Nas bilheterias, a diretoria alvinegra não está acostumada a contar com o dinheiro da venda dos ingressos. A Neo Química Arena consome tudo para o pagamento de sua dívida. Os R$ 7 milhões expostos no quadro acima, então, foram usados para arcar com as contas do estádio. Mais uma desvantagem em relação ao adversário mais endinheirado.
Nos gastos, o mesmo problema: sem os números do mesmo período referente a 2019, fica difícil ter uma dimensão mais clara do que representam os R$ 358 milhões registrados. Não há como saber se houve aumentou ou redução em cada uma das rubricas.
Em R$ milhões | set/19 | set/20 | Variação |
Deduções | Não disponível | 15 | |
Folha salarial do futebol | Não disponível | 137 | |
Demais despesas do futebol | Não disponível | 173 | |
Sociais e esportes amadores | Não disponível | 33 | |
Despesas | Não disponível | 358 |
De todas essas linhas, a mais importante é a folha salarial do futebol profissional. Uma soma de salários, encargos trabalhistas, direitos de imagem e de arena. Este é o indicador que possui maior correlação com o desempenho, pois teoricamente reflete a qualidade dos jogadores.
Como a comparação com o Flamengo mais uma vez ficaria torta – pois os cariocas misturam folhas do futebol com esportes olímpicos –, neste caso o blog recorre ao paralelo com o São Paulo. Os adversários empregam a mesma quantidade de dinheiro: R$ 135 milhões.
A diferença está no desempenho. Se os são-paulinos têm brigado pelo topo da tabela do Campeonato Brasileiro com a mesma quantidade de dinheiro, enquanto os corintianos estavam na zona de rebaixamento até outro dia, aí está um sinal de ineficiência na aplicação de seus recursos.
Em R$ milhões | set/19 | set/20 | Variação |
Receitas | Não disponível | 416 | |
Despesas | Não disponível | -358 | |
Despesas extraordinárias da Arena | Não disponível | -5 | |
Resultado não operacional | Não disponível | -12 | |
Resultado financeiro | Não disponível | -47 | |
Resultado líquido | Não disponível | -6 |
No fim das contas, houve um deficit de R$ 6 milhões. Pouco? Pouco. Mas esta é uma linha do balanço que costuma receber atenção demais do público e ter relevância de menos na vida prática. Como há inúmeras questões contábeis no meio disso, trate apenas como um detalhe. Seria grave se houvesse um prejuízo de dezenas de milhões. Não é o caso.
Em toda a história que o balancete corintiano conta sobre as finanças, esta é a parte mais grave. As dívidas. Em poucos anos, os compromissos alvinegros dispararam. Em 2020, prejudicado pela pandemia do coronavírus e por todas as suas consequências, o clube deixou que a quantidade chegasse a R$ 920 milhões ao término de setembro.
Dois recortes podem ser feitos para facilitar a compreensão da gravidade. O primeiro, por vencimento. O Corinthians deve nada menos do que R$ 566 milhões no curto prazo – ou seja, em período inferior a um ano. Isto é mais do que toda a receita da temporada.
Não há solução fácil. O clube precisará de novas vendas generosas de atletas. Além disso, a diretoria precisará contar com a paciência de credores para renegociar prazos, tentar descontos, enfim, empurrar as dívidas de curto prazo com a barriga até achar dinheiro.
Outro número relevante: em setembro, o Corinthians fechou o mês com apenas R$ 1,5 milhão em caixa. Dinheiro disponível para uso imediato. Praticamente nada. O São Paulo tinha R$ 27 milhões. O Flamengo, 73 milhões. Isso explica a dificuldade para manter salários em dia.
O segundo recorte vem com as naturezas das dívidas. E neste caso há fartura em todos os tipos possíveis. Empréstimos bancários, fornecedores, direitos de imagem, obrigações trabalhistas ou impostos parcelados – este último o menos grave, pois já renegociado. Por todos os lados, há cobranças mais altas do que o Corinthians está apto a pagar.
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GE – Globo Esporte
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