A onda democrata avassaladora nas eleições de meio de mandato não se concretizou. Não que tenha sido uma marolinha, afinal a oposição recuperou o controle da
Redação Publicado em 07/11/2018, às 00h00 - Atualizado às 08h20
A onda democrata avassaladora nas eleições de meio de mandato não se concretizou. Não que tenha sido uma marolinha, afinal a oposição recuperou o controle da Câmara. Mas ficou longe do tsunami previsto por alguns. Os diques republicanos detiveram a maré.
A campanha liderada pelo presidente Donald Trump serviu para os republicanos conquistarem pelo menos três cadeiras do Senado, evitarem a derrota em eleições estaduais críticas e restringirem a extensão dos ganhos democratas na Câmara.
O resultado final era esperado. Democratas comandarão a Câmara e vários governos; republicanos, o Senado. Mas o placar foi mais apertado do que os democratas gostariam. Trump comemorou com razão.
No Senado, os republicanos tomaram dos democratas as cadeiras de Dakota do Norte, Indiana e MIssouri. A primeira derrota era prevista desde que a senadora Heidi Haitkamp votou, num estado conservador, contra a confirmação do juiz Brett Kavanaugh à Suprema Corte. As duas outras traziam esperanças à oposição, em especial Indiana, onde Trump fez campanha incansável pelo empresário Mike Braun. No Missouri, o republicano Josh Hawley derrotou a senadora Claire McCaskill.
As barreiras erguidas pelos republicanos nas eleições para o Senado também funcionaram no Tennessee e no Texas, onde a oposição depositava esperanças em Beto O’Rourke contra o senador Ted Cruz. Num estado de tradição republicana, O’Rourke conseguiu a façanha de encostar em Cruz, mas perdeu como previsto.
Em Montana, a apuração dá ampla vantagem ao republicano Matt Rosendale sobre o senador democrata Jon Tester. No Mississipi, estado que realiza eleições para duas vagas no Senado, os republicanos venceram a primeira. Haverá segundo turno para decidir a segunda, que o democrata Mike Espy esperava tirar da senadora Cindy Hyde-Smith.
A Flórida, outro estado essencial para a estratégia democrata no Senado, manteve a tradição de disputas apertadas cuja apuração se estende pela madrugada. O republicano Rick Nelson leva vantagem sobre o senador Bill Nelson e, ainda que haja recontagem de votos, poderá ser o quarto a conquistar uma cadeira democrata.
Nas eleições para os governos estaduais, a vitória do republicano Ron DeSantis na Flórida acaba com o sonho democrata de que Andrew Gillum se tornasse o primeiro negro a comandar o estado. Tanto Gillum quanto O’Rourke, do Texas, eram vistos como candidatos potenciais à Presidência no futuro, cenário que ficou mais distante.
Outro governo visto como possível conquista democrata, a Geórgia, foi mantido nas mãos do republicano Brian Kemp, cuja margem de vitória aparentemente será suficiente para evitar a recontagem de votos, último recurso vislumbrado pela democrata Stacey Abrams.
Apesar dessas derrotas, as disputas pelos governos estaduais estão entre as conquistas democratas nas urnas. A oposição tirou dos republicanos os governos de Kansas e Novo México. No Meio Oeste, região que garantiu a vitória de Trump em 2016, reconquistou os governos de Michigan, Illinois e, por margem apertada, Tony Evers derrotou o governador Scott Walker no Wisconsin.
Mesmo com a derota em Ohio, onde Richard Cordray perdeu a eleição a governador para o republicano Mike DeVine, o avanço democrata no Meio Oeste representa um problema potencial para Trump. Ele depende da região para a reeleição em 2020.
O maior problema para ele, claro, será enfrentar a maioria democrata na Câmara. Apesar de não ter protagonizado o tsunami que desejava, a oposição sairá com um saldo positivo em torno de 34 cadeiras, algo como 229 dos 435 votos. É o suficiente para rejeitar qualquer iniciativa legislativa do Executivo e até para denunciar o presidente num processo de impeachment (nos Estados Unidos, a denúncia exige maioria simples na Câmara; a condenação, dois terços no Senado).
Os democratas obtiveram conquistas simbólicas em distritos caros aos republicanos, como o sétimo da Virgínia, onde David Brat, uma das estrelas do Tea Party, perdeu para Abigail Spanberger por uma margem inferior a um ponto percentual. Só na Pensilvânia, tiraram cinco distritos dos republicanos.
Mais dois em Illinois, dois na VIrgínia, dois em Iowa, dois no Texas, pelo menos dois em Minnesota, outros dois em Nova York e também dois em Nova Jersey. Somados a conquistas no Michigan, Carolina do Sul, Arizona e Colorado, os distritos reconquistados pelos democratas redesenham o tradicional mapa eleitoral americano.
A vitória democrata na Câmara resulta de uma estratégia de campanha voltada para os subúrbios e para o público feminino, onde a rejeição a Trump é alta. Graças às candidatas democratas vitoriosas, em 2019 a Câmara terá pela primeira vez mais de cem deputadas. É provável que o partido aposte outra vez numa mulher para disputar a Presidência contra Trump em 2020.
Uma candidata possível é Sherod Brown, senadora que manteve sua cadeira por Ohio, estado-pêndulo crucial em qualquer eleição presidencial. Abrams, O’Rourke e Gillum deixam de sonhar com a Casa Branca. Os democratas podem celebrar a vitória na Câmara. Mas a derrota no Senado e em governos estaduais críticos, como Ohio e Flórida, dificulta o caminho do partido contra Trump em 2020.
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