Enchentes no RS não só devastam, mas também desencadeiam ondas de doenças infecciosas
Sabrina Oliveira Publicado em 13/05/2024, às 11h47 - Atualizado às 12h19
As recentes inundações devastadoras no Rio Grande do Sul não só deixaram um rastro de destruição, mas também acenderam o alerta para as potenciais ondas de doenças infecciosas que podem se seguir. O contato com água contaminada emerge como uma fonte crítica de preocupação, conforme especialistas observam padrões conhecidos de enfermidades pós-desastres.
O contato inicial e as consequências imediatas
No tumulto das inundações, milhares foram expostos à água contaminada, seja ao serem deslocados de suas casas ou ao se aventurarem nas águas turvas. Esse contato direto com a água carregada de matéria orgânica abre portas para uma série de doenças infecciosas. Cortes e ferimentos também se tornam caminhos de entrada para agentes patogênicos.
Como podemos imaginar, essa água está nitidamente contaminada. Ela é escura e deve estar cheia de matéria orgânica, com excretas de humanos e outros animais; e obviamente quem teve contato com esses líquidos corre um risco maior de adoecer", diz o médico Alessandro C. Pasqualotto, presidente da Sociedade Gaúcha de Infectologia, em entrevista ao portal BBC News.
Para o Dr. Alessandro, a prioridade inicial é o resgate e a segurança das vidas afetadas. No entanto, após a primeira onda de emergência, surge a preocupação com as doenças infecciosas que se manifestam nos dias seguintes.
Primeira onda: diarreias e infecções cutâneas
Estudos baseados em desastres similares no mundo delineiam um padrão claro: nos primeiros dias após as inundações, diarréias e infecções de pele lideram os casos. A água contaminada é a culpada principal, desencadeando uma série de complicações, especialmente em crianças e idosos.
O Dr. Alexandre Vargas Schwarzbold, da Universidade Federal de Santa Maria, observa que condições de abrigo precárias exacerbam a disseminação de vírus respiratórios e parasitas, como sarna e piolhos.
"Inclusive, as doenças diarreicas são a maior causa de morte por questões infecciosas após desastres hídricos", afirma ele.
Segunda onda: leptospirose, tétano e hepatite A
Após uma semana ou mais, doenças como leptospirose, tétano e hepatite A se tornam uma preocupação crescente. A leptospirose, transmitida pela urina de animais, tem um período de incubação que pode estender-se por semanas.
A quimioprofilaxia é recomendada para grupos de alto risco, mas a atenção também se volta para vacinas contra o tétano e hepatite A, essenciais para limitar a propagação dessas doenças.
Terceira onda: dengue
Embora o clima outonal possa mitigar o risco, a ameaça da dengue persiste. O Aedes aegypti, vetor da doença, pode ressurgir com o aumento da temperatura, exigindo vigilância contínua das autoridades de saúde.
A dengue já era uma preocupação antes das enchentes, pois tivemos um número elevado de casos e mortes no Brasil inteiro neste ano. E isso afetou inclusive áreas que não costumavam ter esse problema, como é o caso da região Sul do país. À medida que a água começar a baixar, podemos ter a formação de muitos focos de criadouro de mosquito e a dengue voltará a ser uma preocupação", diz Alexandre.
Além das doenças infecciosas
As preocupações de saúde se estendem além das infecções. Doenças crônicas negligenciadas, como diabetes e hipertensão, correm o risco de piorar sem acesso adequado aos cuidados médicos. Além disso, problemas de saúde mental e traumas emocionais demandam atenção especial à medida que a comunidade se recupera.
"É como se estivéssemos voltando ao período inicial da pandemia de covid-19, em que toda a assistência de saúde ficou desestruturada. Logicamente, o foco agora está no socorro emergencial das pessoas que mais precisam. Mas logo mais, todas as outras doenças podem ficar desassistidas", afirma Pasqualotto.
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