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Nova plataforma robótica de cirurgia chega no Brasil e promete revolucionar o mercado

A chegada da inovadora plataforma robótica no Brasil promete uma revolução no mercado

Imagem: Acervo Pessoal
Imagem: Acervo Pessoal
Marina Roveda

por Marina Roveda

Publicado em 23/05/2023, às 10h30


A plataforma robótica HUGO RAS, produzido pela empresa Medtronic, chega ao Brasil e sua primeira cirurgia foi realizada no Hospital Israelita Albert Einstein.

Nesta entrevista, convidamos nosso colunista, o urologista Dr. Ariê Carneiro, para esclarecer questões sobre os avanços e benefícios da cirurgia robótica aos pacientes.

O Dr. Ariê é especialista em cirurgia robótica e foi o cirurgião responsável por “comandar” a primeira cirurgia com a nova plataforma, no Brasil.

Diário: O que é cirurgia robótica?

Dr. Ariê: A cirurgia robótica foi inicialmente desenvolvida para realização de procedimentos em áreas remotas e guerras, permitindo que um cirurgião especialista opere pacientes em outros lugares. Atualmente, a cirurgia robótica é uma realidade no mundo. No entanto, a qualidade de transmissão de dados ainda limita a realização de procedimentos em longas distâncias.  Porém, a tecnologia 5G, rede de satélites da Starlink, entre outras, prometem “vencer” esse obstáculo.

A cirurgia robótica começou, na prática clínica, em 2000 trazendo alguns benefícios de segurança e precisão.

Trata-se de um dispositivo eletrônico em que os braços do robô são acoplados em instrumentos e o cirurgião, em uma “casa de comando”, controla as ações do robô. 

As principais características são:

  • visão em três dimensões;
  • movimentação livre dos instrumentos, igual ao das nossas mãos;
  • eliminação do tremor e com dispositivos de segurança para evitar acidentes.

Diário: Quais os riscos e benefícios da utilização da plataforma robótica na prática clínica?

Dr. Ariê: As tecnologias disponíveis no mercado atualmente foram amplamente testadas e são seguras. O que precisamos entender é que o robô não realiza o procedimento sozinho, ele “apenas” responde aos comandos do cirurgião e, com isso, se uma pessoa sem o treinamento adequado utilizar essa tecnologia, pode prejudicar o paciente. Portanto, apenas a utilização da plataforma robótica em si não garante melhores resultados. Para atingir o resultado esperado é de fundamental importância ter um médico capacitado e com experiência.

Em relação aos benefícios podemos citar muitos, mas eu como urologista vou focar aqui nos benefícios que obtivemos em nossa área.

A cirurgia robótica revolucionou o tratamento do câncer de próstata. Com a plataforma conseguimos fazer um procedimento minimamente invasivo de retirada da próstata com maior precisão, possibilitando a preservação de tecidos adjacentes como o esfíncter urinário (responsável pela continência urinária) e as bandas neuro vasculares (responsáveis pela função erétil). Com isso,  podemos promover uma reabilitação mais precoce do paciente, com retorno às atividades habituais, além de permitir um menor risco de sequelas como incontinência urinária e disfunção erétil.

Dessa forma, é possível  curar um câncer de próstata e manter a qualidade de vida do paciente, com a preservação da continência e potência sexual na grande maioria. Isso deve-se à utilização da cirurgia robótica.

Atualmente, todos os grandes hospitais do mundo se utilizam desse procedimento de alta tecnologia.

Também utilizamos a plataforma robótica para o tratamentos de câncer renal, câncer de bexiga invasivo, entre outros procedimentos.

Além da urologia, o robô tem sido cada vez mais incorporado a outras áreas como: cirurgia torácica, ginecologia (tratamento de endometriose) e cirurgia do aparelho digestivo.

Diário: Como é realizado o treinamento para se tornar um “cirurgião robótico”?

Dr. Ariê: Na minha época, não tínhamos possibilidade de realizar treinamento no Brasil. Por isso tive que buscar fora do país alternativas para o treinamento.

Iniciei o treinamento durante meu doutorado na Harvard Medical School, onde pude observar grandes cirurgiões operando e tive a oportunidade de participar do programa de treinamento em simulador. Após isso, fui para Paris no “Institute Mutualiste Montsouris”, onde pude obter um treinamento mais efetivo, e realizar cirurgias sob tutela de grandes cirurgiões. Após mais de 300 procedimentos vivenciados, voltei para o Brasil já proficiente.

Atualmente, o cenário mudou; é possível realizar o treinamento aqui no Brasil. Grandes instituições como o Hospital Israelita Albert Einstein, por exemplo, possuem programas de pós-graduação e treinamento de novos cirurgiões, tornando o aprendizado mais acessível e democrático.

Importante destacar que o cirurgião, para realizar o procedimento, deve ter uma certificação especial validada pela Sociedade Brasileira de Urologia. E recomendamos que o treinamento seja realizado em um centro chancelado pela sociedade brasileira de urologia, e não cursos de “curta duração” em intuições sem tradição em cirurgia robótica.

Diário: Quais as tecnologias disponíveis atualmente no Brasil?

Dr Ariê: A plataforma robótica “Da Vinci” foi a primeira a chegar no mercado, e por 20 anos esteve com a patente, atuando com exclusividade.

Atualmente, está na quinta geração e é considerado a tecnologia “padrão”.

Recentemente, chegou uma nova plataforma chamada “HUGO RAS”, da empresa MEDTRONIC, uma das maiores em dispositivos médicos do mundo.

O hospital Albert Einstein foi o primeiro a adquirir essa tecnologia, e eu tive a honra de ter sido escolhido para treinar e “pilotar” os primeiros “voos” no Brasil.

Trata-se de uma plataforma inovadora e multi-modular, podendo “acoplar” quantos braços o cirurgião quiser, sendo chamada popularmente como “Robo Transformer”.

Acreditamos ser uma grande revolução para o mercado, pois com o caráter competitivo, certamente teremos uma corrida tecnológica com aceleramento das melhorias, redução de custos e, com isso, possibilitando maior acesso de pacientes e cirurgiões à plataforma robótica.

Diário: Como se preparou e como se sentiu realizando a primeira cirurgia robótica no Brasil?

Dr. Ariê: Primeiramente gostaria de agradecer as lideranças do Hospital Israelita Albert Einstein, em especial ao Dr. Sidney Klajner (presidente) e   Dr. Nam (diretor do programa de cirurgia),  pela oportunidade e pela honra em ser uma das lideranças deste projeto, e poder realizar a primeira cirurgia. 

O Hospital Israelita Albert Einstein demonstrou mais uma vez ser um hospital de vanguarda e focado na inovação e segurança de seus pacientes, protagonizando mais este avanço para a saúde em nosso país.

Importante destacar que, antes de iniciar nosso treinamento com a nova plataforma, nossa equipe já contava com a experiência de mais de 2.000 procedimentos robóticos e, esta bagagem, certamente ajudou no encurtamento da curva de aprendizado e em uma rápida adaptação.

Antes de a plataforma chegar ao Brasil, os principais cirurgiões do hospital foram enviados a Chicago, sede de treinamento da Medtronic, onde foram realizadas mais de 70 horas de treinamento em simuladores, modelo e cadáver. Além dos cirurgiões, as equipes de enfermagem e engenharia também receberam treinamentos específicos.

O processo foi muito  interessante!

O primeiro procedimento foi bastante tenso; todos envolvidos para que tudo transcorresse bem, pois não havia espaço para erro.

Mas, devido aos exaustivos treinamentos e comprometimento de todos os membros da equipe, tudo transcorreu de acordo com o planejado. Conseguimos realizar uma prostatectomia radical para o tratamento de um câncer de próstata, seguindo todo o rigor técnico necessário e o paciente teve uma excelente evolução.

Diário: Quais as dicas que você pode dar aos nossos leitores, que possuem alguma doença, para que possam se candidatar a uma cirurgia robótica?

Dr. Ariê: Grande parte das cirurgias de alta complexidade no tórax, abdome e pelve podem ser realizadas com a plataforma robótica. Com isso, sugiro que você consulte seu médico sobre essa possibilidade, ou procure grandes centros e especialistas na área. Como falamos anteriormente, para termos sucesso no procedimento e agregar o benefício da plataforma, o mais importante é contar com um cirurgião capacitado.

Aos novos cirurgiões, recomendo que busquem treinamentos específicos em grandes centros. Dessa forma, teremos cada vez mais cirurgiões preparados e mais pacientes poderão se beneficiar dessa tecnologia.

Em nosso site oferecemos maiores detalhes sobre as plataformas e sobre as aplicações e benefícios nas diferentes doenças.

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