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Morreu Maguila, o maior lutador peso-pesado do Brasil

Morreu Maguila, o maior lutador peso-pesado do Brasil - Imagem: Reprodução / Instagram
Morreu Maguila, o maior lutador peso-pesado do Brasil - Imagem: Reprodução / Instagram
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 27/10/2024, às 11h31


Nesta quinta-feira, dia 24, faleceu, aos 66 anos, Adilson “Maguila” Rodrigues. Seus números no boxe marcaram época: 85 lutas. 77 vitórias. 61 por nocaute. 7 derrotas. 1 empate. Independentemente de sua qualidade técnica, esses resultados mostram a intensa dedicação aos treinamentos e à carreira.

Maguila foi além dos ringues. Era um personagem folclórico, muito querido pelo público. As pessoas o admiravam por sua simplicidade, ingenuidade e autenticidade. 

Depois de cada luta, ele agarrava o primeiro microfone disponível e começava uma longa série de agradecimentos – mencionando desde o açougueiro até o dono da concessionária de carros, sem deixar ninguém de fora. Só parava com a intervenção de algum jornalista. Suas entrevistas eram garantia de entretenimento, com aquele jeito bronco e espontâneo.

Um estranho no ninho

Nos anos 1980, quando sua fama estava em alta, Maguila compareceu a uma formatura do nosso curso de oratória. A princípio, sua presença parecia deslocada – afinal, o que fazia ali alguém com dificuldades para discursar? Naquela noite, o palco estava reservado a homens e mulheres que haviam se dedicado por meses a aprender a falar em público com desenvoltura.

Contudo, talvez poucos deles tivessem a mesma naturalidade com o microfone que o lutador demonstrava.

Maguila hesitou por um momento ao chegar à frente da plateia. Notei seu desconforto e fui até ele para cumprimentá-lo, conduzindo-o à mesa diretora. Ele me olhou com os olhos semicerrados, em um gesto que transmitia agradecimento sem palavras. 

O carisma em ação

Durante a cerimônia, os formandos iam até o microfone para deixar uma mensagem depois de receber o certificado, aproveitando a oportunidade para pôr em prática o que haviam aprendido. 

Maguila, convidado de última hora, ajudava a entregar os certificados e parecia se divertir sem reservas. Para ele, aquela experiência era provavelmente diferente de tudo o que já havia vivido, e sua presença alegrava o ambiente.

Quando os discursos eram bem-humorados, ele ria sem se preocupar com a reação dos outros. Em alguns momentos, a plateia observava com curiosidade, esperando para ver como o lutador responderia aos comentários. Sem precisar dizer uma palavra, ele conseguia cativar o público com seu comportamento espontâneo.

A palavra do paraninfo

Um dos momentos mais marcantes daquela noite foi o discurso do paraninfo, Guilherme Afif Domingos. Logo no início, Afif fez um jogo de palavras ao se referir a Maguila, dizendo: “E nós, que hoje estamos aqui para homenagear a força da expressão, precisamos reverenciar também aquele que é a expressão da força”. A frase rendeu aplausos prolongados, e o lutador abriu um largo sorriso, prestando atenção ao restante do discurso.

Diversos convidados usaram da palavra para homenagear os formandos e, sem exceção, mencionaram Maguila em seus discursos. Embora eu tenha considerado chamá-lo para dizer algumas palavras, decidi que sua presença já havia abrilhantado a solenidade. Ele não precisava discursar; estar ali era suficiente para tornar a noite inesquecível.

Uma carreira de altos e baixos

Maguila viveu uma trajetória meteórica. Veio de Sergipe para São Paulo, onde já estavam seus irmãos, e, por ser grandalhão, foi incentivado a tentar a sorte como boxeador. Enfrentou dificuldades, mas rapidamente deixou o amadorismo para trás. Na sua quarta luta, conquistou o título de campeão brasileiro; na décima primeira, venceu o sul-americano. Tornou-se um ídolo nacional. Entretanto, ao enfrentar Evander Holyfield e George Foreman, descobriu os limites de sua carreira, sendo derrotado por ambos.

Maguila morreu devido a encefalopatia traumática crônica, também conhecida como demência pugilística, doença que o acometia há onze anos. Se, por um lado, o boxe o tornou conhecido e admirado, por outro, as lutas contribuíram para sua morte precoce. Seu legado no esporte e sua personalidade cativante já deixam saudades.

Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de Oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão de Marketing e Comunicação, Gestão Corporativa e MBA em Gestão de Marketing e Comunicação na ECA-USP. Escreveu 37 livros, com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram: @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no https://reinaldopolito.com.br/home/

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