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COLUNA

Mestre de cerimônia pisa na bola e atropela Lula no lançamento do Conselhão

Não era o dia de Lula. Sabe quando o raio cai duas vezes no mesmo lugar? Na 5ª feira, 4, caiu

Luiz Inácio Lula da Silva. - Imagem: Reprodução | TV Brasil
Luiz Inácio Lula da Silva. - Imagem: Reprodução | TV Brasil
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 07/05/2023, às 08h07


Na primeira reunião do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico Social e Sustentável, já apelidado de Conselhão, depois de o presidente iniciar o discurso e fazer o vocativo, o microfone parou de funcionar. Parece ter sido queda de energia. Normal. Por mais que os técnicos sejam zelosos e façam todos os testes com a devida antecedência, de vez em quando algo pode falhar. Lula abandonou o pódio. Aguardou que o problema fosse solucionado, brincou com o ocorrido e seguiu naturalmente.

Eu me lembro de um episódio que me deixou chateado, mas depois foi motivo de gostosas gargalhadas. Eu havia comprado um imóvel para ampliar as instalações da nossa escola. A reforma parecia construção de igreja, não terminava nunca. Depois de superados todos os obstáculos, finalmente chegou o dia da inauguração. Fiz com pompa e circunstância. Aproveitei para iniciar as atividades naquele novo local com uma aula de apresentação do nosso curso.

A bateria de iluminação sobre o palco era coisa de teatro. Passadeira verde no corredor, de ponta a ponta. Microfone de primeira. Caixas de som da melhor qualidade. Havia comprado o maior aparelho de TV que existia na época, 37 polegadas. Estou falando do início dos anos 1980. Para carregar o brutamontes, foram necessários quatro homens.

Tudo pronto, testado e revisado. Ao ligar o televisor para passar o vídeo com as apresentações dos visitantes, nada! Tira tomada, põe tomada, bate de um lado e de outro, desliga e liga umas dez vezes. Morto! A solução foi buscar um aparelho com menos de 20 polegadas de outra sala e quebrar o galho. Eu olhava aquelas imagens pequenas na tela e, ao lado, o enorme televisor sem funcionar. Descobri depois que havia queimado um fusível. Um pequeníssimo e, aparentemente, insignificante fusível. Bem, aquele não seria o primeiro nem o último contratempo tecnológico.

Para ilustrar, só mais dois casos que vivenciei. O primeiro ocorreu comigo. Fui proferir uma palestra para a OAB no Anhembi. 700 advogados presentes. A minha filha, Rachel, sempre parceira, foi até o local para me ajudar. Naquela época eu usava DVD como mídia de apoio para as projeções. Não sei como, quando ela foi retirar o DVDda caixinha, ele rachou. Nunca havia visto um DVD partido. Tente quebrar um. Vai machucar a mão e talvez não consiga.

Levei numa boa. Fiz sem nenhum slide. As citações que seriam projetadas estavam no livro “Oratória para advogados”. Fiz as leituras nos devidos capítulos. Conclusão. Como os advogados perceberam que o conteúdo estava todo na obra, assim que encerrei, correram para a livraria e esgotaram todos os exemplares.

O segundo episódio foi protagonizado pelo meu querido amigo Lair Ribeiro. Periodicamente, convidamos palestrantes renomados para falar aos jovens aprendizes e estagiários que participam dos trabalhos de capacitação e inserção realizados pela ONG que presido, Via de Acesso. Perguntei ao Lair que tipo de equipamento ele precisaria. Disse que faria projeções de umas telas. Seriam com imagem e áudio. Sem problema. O nosso auditório é muito bem equipado.

Perguntei se ele havia levado um pen-drive para inserir no laptop localizado no pódio. Ele disse que não levara essa mídia porque fazia questão de operar o próprio computador. Lair cumprimentou a plateia lotada. Explicou o tema que seria abordado. Apertou a tecla do computador para projetar a primeira tela e... não funcionou. Sem se abalar, com décadas de estrada proferindo palestras, fechou o aparelho e fez uma apresentação magistral. Ou seja, ele, como excelente orador, estava preparado para falar com o apoio dos visuais e também sem eles, caso fosse necessário.

Eu dizia no início que o raio havia caído duas vezes no mesmo lugar. O evento do Conselhão depois do contratempo do microfone seguiu normalmente. Quase no final, Luladisse: “As mulheres se preparem...”. Nesse momento, o mestre de cerimônias, sem que ninguém entendesse o motivo, imaginou que a reunião já estivesse encerrada, e atropelou o presidente: “Está encerrada esta cerimônia. Pedimos a todas e a todos que aguardem em seus lugares a saída”.

Lula, sem demonstrar irritação, falou com firmeza: “Não está encerrado, meu caro amigo. Reabra os trabalhos”.

Depois de perceber que Lula não ficara aborrecido com o fato, a plateia sentiu uma espécie de licença para rir e todos se divertiram muito. Acho que esse mestre de cerimônia não deve ter dormido naquela noite.

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