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‘Ele ia me matar’, diz uma das 1.500 vítimas de violência doméstica que foram morar em abrigos na pandemia em SP

Quando a pandemia de coronavírus teve início, em março de 2020, Vitória* (nome fictício) foi morar com o companheiro em uma casa em São Paulo após engravidar

‘Ele ia me matar’, diz uma das 1.500 vítimas de violência doméstica que foram morar em abrigos na pandemia em SP
‘Ele ia me matar’, diz uma das 1.500 vítimas de violência doméstica que foram morar em abrigos na pandemia em SP

Redação Publicado em 20/08/2021, às 00h00 - Atualizado às 08h03


Quando a pandemia de coronavírus teve início, em março de 2020, Vitória* (nome fictício) foi morar com o companheiro em uma casa em São Paulo após engravidar dele. Ela parou de trabalhar como cuidadora de idosos e passou a depender financeiramente do homem.

Argumentando ciúmes da esposa, ele quebrou o celular dela a proibindo de conversar com outras pessoas. Em seguida, a empurrou. Numa outra ocasião, deu uma coronhada na cabeça dela com a arma que guardava na residência.

Foram inúmeras agressões: física, verbal e psicológica. A última ocorreu perto de outubro do ano passado. Ele encostou uma faca no pescoço da mulher e a ameaçou de morte.

“Falou que eu não ia mais ficar com os meus filhos, que ia me matar”, disse a jovem negra de 23 anos ao G1.

Além da filha, atualmente com 1 ano e 5 meses, ela tem um menino de 3 anos, fruto de outro relacionamento, que mora com a avó paterna em Pernambuco.

Vitória* (nome fictício) e a filha que completou um ano de vida no abrigo sigiloso da Prefeitura de São Paulo. Jovem de 23 anos saiu da casa onde morava com o companheiro após ser agredida e ameaçada de morte por ele durante a pandemia — Foto: Divulgação / SMDHC

Vitória* (nome fictício) e a filha que completou um ano de vida no abrigo sigiloso da Prefeitura de São Paulo. Jovem de 23 anos saiu da casa onde morava com o companheiro após ser agredida e ameaçada de morte por ele durante a pandemia — Foto: Divulgação / SMDHC

Já em São Paulo, Vitória saiu da residência do companheiro agressor para se tornar uma das quase 1.500 mulheres vítimas de violência doméstica que foram morar em abrigos da prefeitura em um ano de pandemia. Ela ainda levou a filha caçula.

“Entrei em depressão. Aí foi o momento que eu mais me senti sozinha, mas tinham pessoas me apoiando”, falou Vitória.

De acordo com levantamento da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), o número de mulheres que procuraram os abrigos aumentou durante a quarentena, quando o governo estadual implantou medidas de restrições e distanciamento social.

Antes da pandemia, de março de 2019 a março de 2020, a secretaria abrigou 1.139 mulheres vítimas de violência doméstica.

Entre março de 2020 a março de 2021 o número de vítimas abrigadas aumentou para 1.496.

Vitória* (nome fictício) abraça a filha bebê num abrigo sigiloso na capital paulista — Foto: Divulgaçao/SMDHC
Vitória* (nome fictício) abraça a filha bebê num abrigo sigiloso na capital paulista — Foto: Divulgaçao/SMDHC

Nem todas as mulheres continuaram nos abrigos, pois algumas ficaram 24 horas e outras permaneceram por mais tempo ou ainda continuam neles. O tempo máximo de permanência é de 90 dias, prorrogáveis pelo mesmo período ou mais.

Para se ter uma ideia, até a quinta-feira (12) passada, 15 vítimas estavam abrigadas, sendo que 13 delas têm filhos. Nos abrigos elas têm apoio de uma equipe multidisciplinar, com psicólogas, médicos etc. Também ganham alimentação e têm direito a banheiro, chuveiro e dormitórios com camas.

Atualmente Vitória está com a filha num abrigo sigiloso. Ela só soube da existência dele após ter ido prestar queixa contra o ex-companheiro na delegacia.

Ela registrou boletim de ocorrência por agressão e ameaça numa das delegacias de Defesa da Mulher (DDMs). Depois a Justiça deu a Vitória uma medida protetiva para o homem não se aproximar mais dela.

Os abrigos municipais também recebem mães com filhos no contexto de vítimas de violência doméstico — Foto: Everton Clarindo / SMDHC

Os abrigos municipais também recebem mães com filhos no contexto de vítimas de violência doméstico — Foto: Everton Clarindo / SMDHC

“[Ele] ia me matar se eu me separasse dele. Eu tinha terminado com ele, estava tentando sair desse relacionamento que não estava dando certo”, disse Vitória.

A mulher recebe um auxílio-aluguel de R$ 400 da prefeitura para ajudar a comprar alimentos para a filha, que comemorou o primeiro aniversário de vida onde está abrigada com a mãe. “[A menina] tem 1 ano e 5 meses. Completou 1 ano aqui no abrigo”, lembrou Vitória.

O benefício em dinheiro já foi concedido a 560 mulheres até a última segunda-feira (16). Para tentar se recolocar no mercado de trabalho, Vitória faz cursos técnicos próximos ao abrigo. Eles fazem parte do Programa Tem Saída, da Prefeitura.

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G1

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