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Delegacia de Defesa da Mulher Online de SP registrou mais de 60 mil BOs de vítimas de violência doméstica em 2 anos de pandemia

A Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) Online registrou mais de 60 mil boletins de ocorrência de vítimas de violência doméstica em dois anos de pandemia de

Delegacia de Defesa da Mulher Online de SP registrou mais de 60 mil BOs de vítimas de violência doméstica em 2 anos de pandemia
Delegacia de Defesa da Mulher Online de SP registrou mais de 60 mil BOs de vítimas de violência doméstica em 2 anos de pandemia

Redação Publicado em 12/04/2022, às 00h00 - Atualizado às 08h24


Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) Online registrou mais de 60 mil boletins de ocorrência de vítimas de violência doméstica em dois anos de pandemia de Covid no estado de São Paulo. Aproximadamente 10 mil deles viraram medidas protetivas autorizadas pela Justiça.

Os dados são de abril de 2020 a abril de 2022 e mostram que a maioria das queixas das mulheres são de crimes de ameaça (20.322 registros), ofensas (12.324) e agressões (11.722) contra elas.

O número total de vítimas nesse período não foi divulgado pela Polícia Civil. Segundo policiais que participam dos trabalhos, a quantidade de queixas será sempre maior do que a de mulheres que fazem denúncias porque uma mesma vítima pode ter sofrido vários crimes. Como ter sido ameaçada, agredida e ofendida, por exemplo.

Os casos de estupros ainda precisam ser registrados pessoalmente pelas vítimas nas delegacias do estado.

DDM Online

Delegada e escrivã atendem vítimas de violência doméstica pela DDM Online em São Paulo — Foto: Divulgação/Polícia Civil de SP

Delegada e escrivã atendem vítimas de violência doméstica pela DDM Online em São Paulo — Foto: Divulgação/Polícia Civil de SP

A DDM Online foi criada concomitantemente com a chegada da pandemia do coronavírus. Ela funciona 24 horas por dia e pode ser acessada pelo site da Delegacia Eletrônica.

O objetivo da polícia foi oferecer mais caminhos para mulheres procurarem ajuda e medidas legais e judiciais contra seus agressores. Durante a pandemia, a percepção de quem atende essas vítimas é a de que algumas delas não conseguem deixar as casas onde moram para ir presencialmente a uma delegacia.

Apesar do incremento da DDM Online, as delegacias especializadas na Defesa da Mulher ainda concentram o maior número de registros de vítimas. Os BOs feitos pela internet correspondem a 24% do total.

Para buscar atender também vítimas que buscam distritos policiais de bairros, mas não encontram neles uma Delegacia de Defesa da Mulher, a instituição criou salas chamadas de DDM 24 horas. Elas funcionam em 44 delegacias comuns do estado e oferecem atendimento para mulheres que querem denunciar violência doméstica diretamente a uma delegada ou escrivã especializadas.

Medidas protetivas

Sala DDM 24 horas, na qual a cor padrão é o lilás — Foto: Divulgação/Polícia Civil de SP

Sala DDM 24 horas, na qual a cor padrão é o lilás — Foto: Divulgação/Polícia Civil de SP

Como isso funciona? A mulher que entrar num distrito relatando ter sido vítima de violência doméstica será levada pelos policiais até essa sala reservada, que tem a cor lilás como padrão.

“Para dar uma sensação mais acolhedora para as vítimas”, disse a delegada Jamila Jorge Ferrari, coordenadora de todas as delegacias de Defesa da Mulher no estado de São Paulo, tanto das físicas quanto das digitais.

Lá elas irão conversar virtualmente com uma equipe da DDM Online por meio de uma câmera instaladas no computador. Os depoimentos poderão ser gravados para depois serem transcritos.

Dependendo do caso, alguns relatos serão levados ao Ministério Público (MP) e à Justiça para solicitação de medidas protetivas.

“Você cria uma ferramenta para proteger mulheres vítimas de violência que estavam em isolamento social e não tinham como pedir ajuda. Verificou-se que era uma ferramenta necessária, mas que foi desenvolvida de forma mais rápida por conta da pandemia”, disse Jamila.

Antes da criação da DDM Online, os casos de violência doméstica só podiam ser registrados presencialmente nas delegacias paulistas. A medida visa resguardar mais as vítimas.

Depoimentos são gravados

Delegacia Eletrônica da Polícia Civil de São Paulo centraliza os BO´s feitos pela internet — Foto: Divulgação/Polícia Civil de SP

Delegacia Eletrônica da Polícia Civil de São Paulo centraliza os BO´s feitos pela internet — Foto: Divulgação/Polícia Civil de SP

“Notamos que algumas mulheres preferiram fazer denúncias nas delegacias eletrônicas”, disse o delegado”, disse o delegado Luiz Fernando Zambrana Ortiz, da equipe de Desenvolvimento de Sistemas da Polícia Civil.

No caso da lesão corporal, por exemplo, quando a queixa for cadastrada, o delegado poderá entrar em contato com a vítima para saber a gravidade das agressões e as possibilidades que ela tem de sair de casa para fazer o exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML).

“Todas as oitivas são realizadas por vídeo e gravadas em tempo real”, disse o delegado José Brandini Júnior, diretor da Divisão de Tecnologia do Departamento de Inteligência da Polícia Civil (Dipol).

Todos os sistemas informatizados e projetos de modernização da Polícia Civil são desenvolvidos pela Divisão do Dipol. “Nos casos de violência doméstica, a rapidez nos procedimentos salva vidas”, afirmou Brandini.

Vítima de violência doméstica

Vitória* (nome fictício) tem 23 anos e trabalhava como cuidadora de idosos. Ela parou de trabalhar na pandemia e foi morar com o companheiro, que a agrediu e a ameaçou matar em São Paulo. A mulher saiu de casa com a filha recém-nascida e foram morar num abrigo sigiloso — Foto: Everton Clarindo / SMDHC

Vitória* (nome fictício) tem 23 anos e trabalhava como cuidadora de idosos. Ela parou de trabalhar na pandemia e foi morar com o companheiro, que a agrediu e a ameaçou matar em São Paulo. A mulher saiu de casa com a filha recém-nascida e foram morar num abrigo sigiloso — Foto: Everton Clarindo / SMDHC

Por questões de privacidade, os policiais não podem informar quem foram as vítimas que procuraram os serviços da DDM Online. Mas geralmente são mulheres como Vitória* (nome fictício), entrevistada pelo g1 em 2021.

Quando a pandemia de coronavírus teve início, em março de 2020, ela foi morar com o companheiro em uma casa em São Paulo após engravidar dele. Ela parou de trabalhar como cuidadora de idosos e passou a depender financeiramente do homem.

Argumentando ciúmes da esposa, ele quebrou o celular dela e a proibiu de conversar com outras pessoas. Em seguida, a empurrou. Numa outra ocasião, deu uma coronhada na cabeça dela com a arma que guardava na residência.

Foram inúmeras agressões: física, verbal e psicológica. A última ocorreu perto de outubro de 2020. Ele encostou uma faca no pescoço da mulher e a ameaçou de morte.

“Falou que eu não ia mais ficar com os meus filhos, que ia me matar”, disse a jovem de 23 anos à época.

Ela registrou boletim de ocorrência por agressão e ameaça numa das delegacias de Defesa da Mulher. Depois a Justiça deu a Vitória uma medida protetiva para o agressor não se aproximar mais dela.

Vitória saiu da residência do companheiro agressor para se tornar uma das quase 1.500 mulheres vítimas de violência doméstica que foram morar em abrigos da prefeitura no primeiro ano de pandemia. Ela ainda levou a filha caçula.

Além da filha, atualmente com 2 anos, ela tem um menino de quase 4 anos, fruto de outro relacionamento, que mora com a avó paterna em Pernambuco.

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G1

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