A implantação dos "tasers", que são armas de eletrochoque, em vez das armas de fogo, segundo a PM, também contribuiu para a redução das mortes
Jair Viana Publicado em 27/07/2022, às 20h08
As policias Civil e Militar de São Paulo agiram com menor índice de letalidade entre janeiro e junho. No total foram 202 vítimas no período. Isto significa o menor índice para um semestre desde 2005, quando foram 178 vítimas.
Se computadas apenas mortes em decorrência de operações ou agentes em serviço e desconsideradas as ocorrências envolvendo de folga, o número de registro de mortes chega a 133. O menor de toda a série histórica iniciada em 2001.
Com os números apresentados agora, o total de vítimas da letalidade policial neste primeiro semestre de 2022 representa uma queda de 41,1% quando a comparação é feita com o mesmo período do ano passado e de 60,7% em relação ao número de vítimas registrado entre janeiro e junho do ano anterior. Em 2020, foram 514 mortes relatadas, o maior número da série.
Segundo as autoridades, um fator que influenciou na queda desses números é o uso de câmeras corporais nas fardas pelo programa Olho Vivo.
Iniciada no começo deste ano pelo governador João Doria (PSDB), a medida já está em uso em 58 batalhões do Estado, com 8,1 mil equipamentos. A expectativa é que até o fim do próximo mês este total chegue a mais de 10 mil.
"As câmeras têm uma responsabilidade por trás desse número, por ser um programa importante, especificamente para os batalhões que reduziram a letalidade mais do que outros. Mas é importante a gente destacar que essa queda é anterior à implementação dos equipamentos e começa uns meses antes", diz Samira Bueno, diretora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Uma mudança institucional, segundo ela, começou a reverberar após uma operação em Paraisópolis ter resultado na morte de 9 pessoas em 2019.
O episódio gerou uma onda de protestos pela capital paulista e um desconforto entre Doria e o comandante da PM, o coronel Marcelo Vieira Salles, que em março do ano seguinte deixou o cargo.
Para o comando da PM essas mudanças, que começaram em maio de 2020 e vão além da implementação das câmeras corporais.
"Essa redução das mortes vem de um forte trabalho de gestão do comando da instituição, que começou com o coronel (Fernando) Alencar (de Medeiros) e teve como primeira missão a Comissão de Mitigação de Não Conformidades", diz a corporação.
A equipe que foi montada há dois anos é responsável por analisar todas as ocorrências de morte em operações policiais e, como o nome sugere, verificar o que poderia ter sido feito de diferente ou não durante a ocorrência.
Além do trabalho em grupo com as equipes, também é feita uma análise individual para os agentes, que avalia do desempenho em zonas de perigo à saúde mental de cada um.
"Nós optamos em treinar bem os policiais e fazer com que obedeçam orientações e protocolos. Às vezes, a morte ou lesão é pela falta de técnica", diz a assessoria da Polícia Militar, complementando que "muitas vezes o policial é absolvido no Tribunal do Júri, mas é demitido da PM".
Outra medida que é considerada importante para a mudança nas estatísticas, segundo a PM, foi a implantação dos "tasers", que são armas de eletrochoque, em vez das armas de fogo. Hoje, esses equipamentos não letais são usados cerca de 50 vezes por mês. Antes, era uma média de quatro a cinco. "Salvar vidas custa caro", avaliam, apontando que o preço médio para cada pistola Glock da Polícia Militar é de R$ 800, ante R$ 6 mil dos tasers.
Para Samira, essa virada de chave em São Paulopode servir de exemplo para outros lugares. "A grande mensagem é mostrar que se o comando da polícia estiver disposto a reduzir a letalidade, consegue. Vimos isso no Estado inteiro, e nem todas as cidades têm equipes com câmeras corporais”.
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