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NEGLIGÊNCIA

Bebê morre após ter atendimento negado por médica

Segundo a mãe do bebê, a médica teria se recusado a atendê-lo por nojo

Enrico. - Imagem: Reprodução | Redes Sociais
Enrico. - Imagem: Reprodução | Redes Sociais

Marina Roveda Publicado em 27/08/2022, às 14h01


Um menino de sete meses morreu em Guarapari, na Grande Vitória-ES. Segundo a mãe o pequeno teria passado mal após ter engolido uma lagarta.

A dona de casa, Natalia Gotardo (23), contou que encontrou uma lagarta no vômito do filho, no dia 11 de agosto.

"Quando fui limpar o vômito, eu vi um bichinho preto, que achei até que fosse um pedaço de carne. Na hora que peguei mais de mais perto, vi que era uma lagarta. Aí meu esposo colocou numa sacola e fomos para o Hospital Materno Infantil Francisco de Assis, o Hifa", disse a mãe.

Natalia conta que ao chegar no hospital  e passar pela triagem, a primeira médica que estava de plantão se negou a pegar o caso por sentir nojo.

"Eu sentei em frente a um corredor, que tinha dois consultórios em frente. Aí a enfermeira da triagem passou o caso para uma médica, dizendo 'doutora, tem um caso em que o menino vomitou uma lagarta e está passando mal' e ela respondeu 'ai que nojo, não quero esse caso, não".

Em seguida, a enfermeirapassou o atendimento para um segundo médico, que examinou a criança.  Enrico foi medicado com soro, remédio para controlar os vômitos e ficou em observação.

No outro dia, 12 de agosto, o médico solicitou um raio-x, e depois daria alta para Enrico. A mãe disse que esperou cerca de 3 horas pela chegada do profissional responsável pela operação da máquina.

A segunda médica que examinou Enrico no plantão disse que ele não tinha nada.

Mãe levou bebê ao hospital quatro vezes
Natalia contou que o filho continuou vomitando e teve febre alta e ela voltou na noite do mesmo dia ao hospital. Segundo ela, o médico que a atendeu disse que já sabia do caso.

"Meu filho foi atendido por um terceiro médico, que disse que todo mundo já conhecia o caso, já tinham visto foto da lagarta".

Natalia explicou que o filho tomou soro e fez alguns exames: sangue, urina e outro raio-x.

No dia seguinte (13), Enrico foi liberado do hospitalcom medicação para controlar a diarreia e paracetamol para dor e febre. A receita também tinha soro para hidratar, remédio para o vômito e antibiótico.

A mãe disse que o antibiótico foi receitado porque em um dos exames de sangue do bebê foi identificada uma alteração nas plaquetas, o que seria um sinal de infecção. Ainda segundo ela, os médicos não conseguiram dizer de onde estava vindo a infecção.

No domingo (14), a criança não apresentou melhora e Natalia levou o filhoao hospital pela quarta vez. Uma outra médica viu os exames do menino e disse que Enrico não tinha nada.

Pequena melhora
A mãe contou que Enrico continuava passando mal na segunda-feira (14), mas que ele acordou melhor no dia seguinte, terça-feira (15).

"Ele não tinha melhorado... continuava amuado, com o olhar caidinho. Mas ele mandava beijo, ficava mais tempo acordado, conseguia tomar a mamadeira, comer uma banana. Antes ele não fazia nada disso, ele não tinha forças para abrir os olhos", disse.

A pequena melhora se manteve até a quinta-feira (18), quando o bebê voltou a vomitar. Sem saber o que fazer, os pais marcaram uma consulta com um pediatra alergista em Vila Velha, na Grande Vitória. Eles achavam que Enrico poderia ter alguma alergia a leite ou lactose.

Morte
Os pais levaram Enrico ao pediatra alergista na sexta-feira (19).

"O médico perguntou sobre o caso e eu contei tudo, inclusive sobre a lagarta. O médico se assustou e disse que era para ele estar internado desde o primeiro dia que fomos no hospital. Disse que era um caso inédito, que ninguém nunca viu uma criança que come uma lagarta, então não é uma virose que se manda para casa", lembrou a mãe.

A mãe destacou que, quando o pediatra foi examinar Enrico, ele disse para levar a criança para o Hospital Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba), pois o bebê estava em estado catabólico (quando o corpo começa a retirar a energia da musculatura como alternativa de sobrevivência para o seu funcionamento normal).

"Ele estava com os lábios ficando roxos, o corpo mais gelado... Fomos para o hospital e entramos direto para a emergência. Todos viram que ele estava bem ruim. Eu estava dentro da sala, ajudei a tirar os sapatos, as meias... Meu filho não estava mais conseguindo respirar e iam ter que intubar. Aí me tiraram da sala", disse.

Natalia contou que a médica que atendeu o bebê perguntou o que tinha acontecido. Natalia disse que explicou e a médica respondeu que Enrico deveria ter ficado internado desde o primeiro dia por causa da complexidade do seu quadro. A mãe contou que na noite daquele dia os médicos informaram que Enrico não resistiu e morreu.

Por fim, a Polícia Civil investiga a morte como suspeita e aguarda resultados dos exames feitos no bebê. Já a Secretaria de Saúde do Espírito Santo (Sesa), afirma que o animal não era peçonhento.

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