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Saúde

USP criará porcos para produzir órgãos para transplantes em humanos; entenda

Este projeto é o primeiro na América Latina a focar na pesquisa de produção de órgãos em animais para transplante em humanos

USP criará porcos para produzir órgãos para transplantes em humanos. - Imagem: reprodução / freepik
USP criará porcos para produzir órgãos para transplantes em humanos. - Imagem: reprodução / freepik

Lillia Soares Publicado em 25/04/2024, às 14h55


Nesta última terça-feira (23), a Universidade de São Paulo (USP) abriu um novo laboratório para criar porcos geneticamente modificados, cujos órgãos podem ser usados em transplantes para humanos. É o primeiro laboratório desse tipo no Brasil, segundo a universidade.

O lugar onde os porcos são criados fica na Cidade Universitária, no bairro do Butantã, na parte oeste de São Paulo. De acordo com a USP, o laboratório, chamado de "pig facility" pelos cientistas, faz parte do projeto Xeno BR. Este projeto é o primeiro na América Latina a focar na pesquisa de produção de órgãos em animais para transplante em humanos, conhecido como xenotransplante.

Além disso, Silvano Raia, que é professor na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e líder do projeto, acredita que transplantar órgãos de animais em humanos pode ajudar a reduzir a lista de espera por órgãos e salvar vidas.

“A importância desse projeto, capaz de atender à demanda reprimida de órgãos para transplante, pode ser avaliada sabendo-se que, em 2022, faleceram no Brasil sete inscritos por dia à espera do procedimento, segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos”, afirmou o professor.

Em março deste ano, no Massachusetts General Hospital, em Boston, nos Estados Unidos, ocorreu o primeiro transplante de rim de porco em um ser humano vivo. Conforme informações do portal Metrópoles, a operação foi conduzida por uma equipe liderada pelo médico brasileiro Leonardo Riella.

Há seis anos, no Brasil, um grupo de cientistas está envolvido na edição genética de embriões modificados. Esses embriões serão colocados em porcas silvestres, resultando na criação de porcos doadores de órgãos como rins, corações, pele e córneas.

Vale ressaltar que a professora do Instituto de Biociências da USP, Mayana Zatz, assumiu o desafio de conduzir as diferentes etapas envolvidas na edição genética, produção de embriões modificados e desenvolvimento dos porcos geneticamente modificados.

“Há décadas sabemos que os suínos têm os órgãos mais semelhantes aos dos seres humanos, mas se simplesmente transplantarmos um órgão do suíno teremos uma rejeição hiperaguda. Algumas descobertas revolucionárias dos últimos anos – como a clonagem da ovelha Dolly, o sequenciamento genético dos suínos e a técnica de CRISPR – permitiram aceitar esse desafio, o que reforça a importância da pesquisa básica”, explicou Mayana.

Segundo a pesquisadora, para que o processo cirúrgico seja bem-sucedido, é essencial combinar conhecimentos de genética, biologia molecular e veterinária na criação de porcos geneticamente modificados. Após a cirurgia, avanços na imunologia são necessários para prevenir a rejeição dos órgãos transplantados.

“Já conseguimos criar embriões nos quais os principais genes responsáveis pela rejeição aguda foram silenciados e, agora, o próximo passo é implantá-los nas fêmeas de suínos que serão criados em ambiente absolutamente estéril, que é o objetivo dessa pig facility”, completou Mayana.

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