Diário de São Paulo
Siga-nos
Descobertas Arqueológicas

Obra do Metrô desenterra itens que podem remeter a cultos religiosos africanos

Conjunto arqueológico inclui possíveis oferendas e imagem associada a Exu, divindade das religiões afro-brasileiras

À direita, possível representação do orixá Exu. À esquerda, conchas encontradas no local - Imagem: Divulgação / Mobiliza Saracura Vai-Vai
À direita, possível representação do orixá Exu. À esquerda, conchas encontradas no local - Imagem: Divulgação / Mobiliza Saracura Vai-Vai

Sabrina Oliveira Publicado em 21/10/2024, às 09h44


Uma nova descoberta arqueológica na obra da Estação 14 Bis-Saracura, parte da futura Linha 6-Laranja do Metrô, trouxe à tona objetos que reforçam a presença de tradições afro-brasileiras no centro de São Paulo. Entre os itens encontrados estão fios de contas, conchas e uma imagem que pode representar Exu, divindade associada à comunicação e à ordem nas religiões de matriz africana. O achado foi feito em 25 de setembro, segundo o movimento Mobiliza Saracura Vai-Vai.

Os objetos encontrados, de acordo com especialistas, datam possivelmente do final do século XIX. Desde o início das escavações, mais de 40 mil itens foram descobertos no local, muitos deles vinculados a práticas religiosas e culturais ligadas à comunidade negra da região. Historiadores acreditam que a área pode ter abrigado um templo afro-religioso antes da urbanização, e as descobertas trazem luz a um patrimônio muitas vezes negligenciado.

“Esses achados vão além da ideia de escravidão e morte. Eles nos permitem enxergar aspectos da vida e espiritualidade das pessoas negras que viveram ali”, explica Marília Belmonte, historiadora envolvida na análise dos objetos. A presença de Exu é especialmente significativa, por se tratar de uma figura central em diversas tradições religiosas de matriz africana.

A descoberta foi celebrada pelo movimento Mobiliza Saracura Vai-Vai, que luta para garantir a preservação da memória afro-brasileira nas obras da Linha 6. Para eles, as escavações revelam a importância de se entender a história por outros prismas, valorizando não apenas o sofrimento, mas também a resistência e a riqueza cultural dos ancestrais africanos.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) acompanha as escavações e confirma que os artefatos estão sendo analisados para garantir sua correta identificação e preservação. Em nota, o Iphan ressaltou que as normas de proteção do patrimônio cultural estão sendo seguidas para compatibilizar a continuidade da obra do Metrô com a conservação dos achados arqueológicos.

As obras na Estação 14 Bis, no entanto, seguem atrasadas em relação às demais estações da Linha 6. Enquanto outras áreas estão com mais de 40% concluídas, a 14 Bis ainda não atingiu 10% de execução. A previsão é que o avanço seja necessário para permitir que o “tatuzão” — o equipamento que escava os túneis — chegue à região central da cidade até 2025. A concessionária responsável pelas obras, LinhaUni, não se pronunciou até o momento.

Compartilhe