Diário de São Paulo
Siga-nos
Patrimônio Mundial

Ditadura Argentina: centro de tortura recebe honra da Unesco

Até agora, apenas o campo de Auschwitz-Birkenau e o Memorial da Paz de Hiroshima haviam sido inscritos na lista da Unesco

Museu da antiga Escola de Mecânica da Armada (Esma) - Imagem: Reprodução | Revista Samuel / Memória en Construción ESMA/Marcelo Brodsky 2004
Museu da antiga Escola de Mecânica da Armada (Esma) - Imagem: Reprodução | Revista Samuel / Memória en Construción ESMA/Marcelo Brodsky 2004

Marina Roveda Publicado em 20/09/2023, às 07h58


O Comitê de Patrimônio da Unesco anunciou nesta terça-feira (19) que o museu da antiga Escola de Mecânica da Armada (Esma), em Buenos Aires, foi declarado Patrimônio Mundial da Humanidade. Este edifício histórico foi o local onde funcionou o maior centro clandestino de detenção durante a última ditadura militar argentina, que ocorreu de 1976 a 1983. A inscrição da Esma nesta prestigiosa lista da Unesco não enfrentou resistência e contou com o apoio de diversos países presentes na sessão, incluindo o Japão, que destacou o sentimento de solidariedade que surgiu, especialmente na América Latina; a Bélgica, que considerou que essa inclusão abre um precedente para locais com simbolismo semelhante; e o México, que definiu a escolha como um ato de justiça para todas as famílias "vítimas do terrorismo de Estado".

Após os discursos e o anúncio oficial da declaração da Esma como parte do Patrimônio Mundial da Humanidade, os representantes da delegação argentina expressaram, entre lágrimas, que era "uma honra compartilhar este momento histórico" e deram espaço para as declarações gravadas do presidente do país, Alberto Fernández. Ele destacou que durante a ditadura, a antiga Esma em Buenos Aires foi um local onde o governo militar praticou torturas horrendas, detenções, exílios e onde muitos desaparecidos ainda são procurados. O presidente argentino mencionou o papel fundamental das mulheres, avós, mães e esposas que buscaram incansavelmente seus filhos, netos e maridos durante esse "capítulo sombrio" da história do país, que agora celebra 40 anos de democracia. Fernández enfatizou que essas mulheres nunca buscaram vingança, mas sim justiça, verdade e reparação, e é isso que a Argentinaestá buscando.

Entre 1976 e 1983, as instalações da Esma foram o epicentro de um sistema repressivo brutal. No local funcionava o Centro Clandestino de Detenção, Tortura e Extermínio, onde a Marinha argentina sequestrou, torturou e fez desaparecer mais de 5 mil homens e mulheres. As graves violações dos direitos humanos, o plano sistemático de roubo de crianças nascidas em cativeiro e o extermínio de prisioneiros que eram lançados vivos ao mar durante os chamados "voos da morte" tornam este edifício um símbolo do genocídio ocorrido no país, conforme descrito no site da Unesco.

Esta é a primeira das três indicações de locais de memória ligados a conflitos recentes que serão aprovados este ano. Até agora, apenas o campo de Auschwitz-Birkenau e o Memorial da Paz de Hiroshima haviam sido inscritos na lista da Unesco, representando locais do século passado.

Compartilhe  

últimas notícias